Escrita e Referenciação em textos monográficos.
(Vários.)
Podemos dizer que a escrita é uma prática sóciocognitiva e
cultural, que leva o indivíduo a interagir discursivamente com o texto, por
meio da relação autor- texto- leitor, para a produção de sentidos (Koch e
Elias, 2006).
Primeiramente convém esclarecer
que partimos de uma concepção interacional da linguagem, que compreende o texto
escrito como lugar de interação. Podemos dizer que a escrita é uma prática
sóciocognitiva e cultural, que leva o indivíduo a interagir discursivamente com
o texto, por meio da relação autor- texto- leitor, para a produção de sentidos
(Koch e Elias, 2006).
Por tratar-se justamente de uma prática social da
linguagem, devemos considerá-la como um processo complexo, no qual há um
trabalho ativo a ser realizado por um sujeito, com intenções e finalidades a
perseguir. Assim, a escrita é um trabalho consciente realizado por um
indivíduo, com uma dada função e valor social. Em outras palavras, ao escrever
o indivíduo que pensa “o que dizer, para quem dizer e como dizer”, considerando
sempre uma relação intersubjetiva (Camps, 2006: 23).
Ao refletirmos sobre o conceito de referenciação,
trataremos, mesmo que de maneira sintética, da noção de referência, uma vez que
desta emergem as atuais discussões que contemplam esse fenômeno.
Para Mondada e Dubois (2003), a noção de referência é um tema clássico que situa o problema da
representação do mundo e as formas lingüísticas consideradas verdades em
correspondência com ele.
Essa perspectiva, segundo as
autoras, preconiza a relação direta entre as palavras e as coisas, na qual
existe uma “estabilidade” das categorias e dos objetos do discurso, que situam
as entidades lingüísticas, por meio de uma ordem que é estável, ideal e
universal para a compreensão do mundo.
Todavia, o foco principal
das autoras não é observar as “estabilidades” discursivas, mas, sim, as
“instabilidades” inerentes aos objetos discursivos. Assim, “a instabilidade
caracteriza o modo normal e rotineiro de entender, descrever, compreender o
mundo – e lançar, assim, a desconfiança sobre toda descrição única, universal,
e atemporal do mundo” (2003:28).
O principal objetivo de
Mondada e Dubois (2003), portanto, é evidenciar como as atividades
intersubjetivas, sociais e cognitivas estruturam a linguagem, dando sentido ao
mundo.
Koch (2005), com base nessas autoras, afirma
que elas “trocam” a noção de referência pela de referenciação ao considerarem o
sujeito como responsável pela representação do mundo, por meio de categorias
lingüísticas manifestadas em seus discursos.
Ao contrário da noção de
referência que prioriza a relação direta estabelecida entre as coisas e as
palavras, a noção de referenciação, por sua vez, focaliza a relação
intersubjetiva, social e cognitiva, existente entre sujeitos atuantes, uma vez
que estes, a todo o momento, (re) constroem, elaboram, avaliam, rotulam, os
objetos dos discursos, em suas práticas discursivas.
Assim, Koch (2005) define o
conceito de referenciação como uma atividade discursiva, como um processo de
(re) construção dos objetos do discurso, os quais são “produtos culturais”,
constituídos por sujeitos que interagem por meio de suas práticas discursivas,
cognitivas e sociais. A autora postula que os sujeitos sociais atuam sobre o
material lingüístico fazendo escolhas significativas:
O
sujeito, por ocasião da interação verbal opera sobre o material lingüístico que
tem a sua disposição, realizando escolhas significativas para representar
estados de coisas com vistas à concretização de sua proposta de sentido.(Koch,
2005:34).
Como a
referenciação abrange várias formas de categorizações, por meio de expressões
nominais, como anáforas associativas, catáforas, rotulações ou encapsulamentos,
entre outros, nos deteremos a discutir estes últimos, a saber, as rotulações e
encapsulamentos.
Para Francis (2003), a rotulação refere-se às nomeações realizadas por meio de grupos
nominais, cujos significados são construídos no discurso, e servem para
conectar e organizar este último. Segundo sua opinião, tratam-se de
encapsulamentos que podem se apresentar como rótulos prospectivos
ou retrospectivos, tendo como
principal característica a realização lexical, demarcada sempre no cotexto.
O rótulo prospectivo funciona cataforicamente (para
frente) e possui a função organizadora que se estende aos demais parágrafos
permitindo ao leitor “predizer a informação precisa que seguirá” (2003:193).
Quanto ao rótulo retrospectivo, este funciona
anaforicamente (para trás) e tem como função orientar o leitor quanto à maneira
como deve compreender a expressão encapsulada.
Conte (2003), adotando o conceito de encapsulamento
anafórico, compartilha das mesmas reflexões que Francis ao descrever esse
fenômeno como “elos” coesivos de grupos nominais que organizam e conectam o
discurso. Segundo a autora, são sintagmas nominais anafóricos de determinação
demonstrativa, que rotulam porções inerentes ao texto.
No entanto, a rotulação, segundo Conte, não se refere
somente a um recurso anafórico que sumariza uma porção textual, mas também à
introdução de um novo referente que pode ser elaborado no discurso,
desempenhando um papel argumentativo. Como ela descreve, podem ser “argumentos de predicações futuras, um
procedimento muito interessante de introdução de referentes” (2003: 183).
Segundo sua opinião, uma anáfora é também construída
por um nome geral avaliativo, axiológico, que pode “ser um poderoso meio de manipulação do leitor” (2003: 177).
Por sua
vez, Schwarz (apud Koch, 2005:38) postula que o encapsulamento trata de
anáforas complexas, as quais “não nomeiam referentes específicos, mas
referentes textuais abstratos e freqüentemente genéricos e inespecíficos”,
como, por exemplo, fenômenos, estados, fatos, circunstâncias e outros.
Aliados a essa concepção, articularemos estudos que
abordam a produção do texto escrito, tendo como enfoque a referenciação,
fundamentada nos pressupostos da Lingüística Textual, mais especificamente nas
teorias sóciocognitivo-interacionais da linguagem,
discutidas especialmente por Francis (1994), Conte (1996), Apothelóz e
Chanet (1997), Schwarz (2000), Cavalcante (2001), Mondada e Dubois (2003), Koch
(2005) e Marcuschi (2001).
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