Amsterdam
(Johnny Gonçalves)
Amsterdam
é uma novela escrita pelo britânico Ian McEwan.
O livro
fala da amizade entre Vernon, editor de um grande jornal, e Clive, famoso
compositor erudito. A partir do episódio da morte de Molly, uma ex-amante de
ambos, eles fazem um pacto sinistro: na hipótese de um ou outro adoecer a ponto
de não apresentar condições de decidir pela própria vida, consentem mutuamente
na aplicação da eutanásia (o autor não emprega esta palavra uma única vez em
seu texto), a fim de evitar um processo de humilhação e sofrimento.
A
partir daí, por rumos distintos, ambos se enveredam para fracassos em suas
carreiras. Vernon decide publicar em seu jornal fotografias
comprometedoras de um ministro inglês, que também fora amante de Molly. A vida
íntima do político, capturado em trajes íntimos femininos pela falecida, é
exposta à execração pública, com a justificativa de salvar o país de um homem
com idéias reacionárias, além de recuperar o periódico de seus índices
declinantes de vendagem. Nesse contexto, a maledicência presente nas redações é
dissecada com mordacidade. O tiro sai pela culatra. Vernon passa a ser acusado
pela concorrência de ser um jornalista atrasado e intolerante, capaz de tudo
para alcançar o sucesso. Cai em descrédito e é demitido. Fracassa e associa o
amigo ao seu fracasso.
Por
sua vez, Clive, movido por um pretenso sentido de ética, opõe-se à idéia de
publicar as fotos, o que o leva a um sério desentendimento com Vernon. O músico
enfrenta, no rastro dessa discussão, um processo de esvaziamento criativo.
Resolve refugiar-se num cenário de montanha para buscar o final de sua Sinfonia
do Milênio, que representa o ápice de sua vida profissional. A inspiração,
contudo, não aparece. Lá, ele presencia, à distância, a discussão exacerbada
entre um homem e uma mulher que, mais tarde, seria confirmada como sendo uma
tentativa de estupro por parte de um perseguido da polícia. Clive afasta-se da
cena, obcecado por encontrar o seu momento criativo. Vernon, cruzando
informações do jornal com declarações do amigo, passa a acusar o músico de ter
negado socorro à vítima em troca do sucesso na carreira. Nos últimos capítulos,
o final da sinfonia se revela medíocre, praticamente um plágio de Beethoven.
Clive fracassa e associa o amigo ao seu fracasso.
A
dificuldade em assumir as próprias limitações e deficiências de caráter
transforma-se em acusação recíproca. Há, entretanto, uma reconciliação fingida.
Dominados por seus egos gigantescos, conduzidos ao belo cenário de
razoabilidade e tolerância da cidade de Amsterdam, levam a cabo seu pacto de
morte, por meio de um brinde regado com taças de champanhe envenenadas. A eutanásia
transforma-se, assim, numa espécie de assassinato "consentido", um
suicídio sem culpa. O final é trágico e irônico, seguindo a veia de humor negro
do escritor. Nesta parábola moral, o narcisismo, o egoísmo humano, a mentira, a
mesquinhez e a busca cega da fama são tingidos com as nuances sombrias da
morte.
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