Assalto à Cultura
(Leonardo Vinhas)
Livro
do inglês Stewart Home escrito em 1988. O autor dedicou toda a vida à arte,
escrever livros, ensaios e festivais de arte underground, escreveu Assalto a
cultura falando de movimentos de vanguarda estando dentro deles, mas com grande
influência política e subversiva.
O
livro é uma tentativa de mapear uma tradição de "anti-arte", a partir
do século XX, sem deixar de mencionar tentativas anteriores ocorridas em
séculos passados. Porém, em vez de repetir análises prontas sobre hippies,
beatniks, punks e hip-hoppers, Home centra seu estudo em obscuros movimentos
europeus e americanos, como a Internacional Situacionista, a Fluxus, o Provo
Dinamarquês e outros pouco conhecidos.
Analisando
teorias e práticas desses movimentos, de maneira muito parcial, o autor, exibe
as contradições e resultados de grupos supostamente subversivos. Dessa forma, expõe
a virtual inocuidade da maioria desses "revolucionários" e desvenda o
mecanismo que atrai uns e repele outros em grupamentos dessa natureza.
Uma
breve leitura não-apaixonada basta para perceber que todos os movimentos
listados foram efêmeros e de alcance bastante restrito, limitando-se a pequenas
notas em jornais e burburinhos junto à “intelligentsia” local. A maioria dos
artistas e movimentos listados portam-se como crianças de quatro anos de idade
que entram em uma sala repleta de adultos, gritam "xixi" e
"cocô" no afã de chocar a "autoridade constituída" e saem
correndo rindo.
Percebe-se
que a mudança social decorrente das ações dos grupos contraculturais é zero na
maioria dos casos. Em dado momento, o autor menciona que essas ações "são
rigorosamente intelectuais para agradar o estudante médio de faculdade".
Ou seja, têm impacto tão "grande" quanto aquelas bandas reggae
bicho-grilo das faculdades de comunicação.
Segundo
Home, "todo mundo gosta de entretenimento que compactue com suas próprias
crenças ideológicas, assim, o samizdat (palavra russa que designa publicação
independente de caráter coletivo e vagamente socialista) comunica-se com
aqueles que o desejam e é rejeitado por aqueles que não o desejam". Logo,
enquanto "a sociedade atual persistir, haverá oposição a ela",
justamente por sempre haver um grupo de descontentes que tentará criar uma
alternativa à situação vigente, nem que apenas por mera diversão.
Contudo
tais movimentos não conseguem se ver livres da lógica de mercado, tampouco
conseguem se sustentar por muito tempo. Assim, para que sejam realmente
subversivos e produzam alguma mudança, eles devem funcionar como um
"ataque-relâmpago" às normas sócio-culturais vigentes (daí o título
do livro). Caso ultrapassem essa efeméride, acabam por ser assimilados e
desacreditados pelo sistema, como aconteceu com o punk.
O
punk ganha um dos capítulos mais interessantes do livro. Fugindo da análise
normalmente repetida no jornalismo cultural, Home abandona o blábláblá sobre
Sex Pistols e Stooges para expor radicalismos, contradições e ações concretas
dos punks na sociedade. E, ainda segundo ele, apenas o punk em sua forma mais
radical e o movimento britânico ultradireitista Class War conseguiram deixar
uma marca impactante na sociedade. Em parte, pela glorificação da violência e
do anarquismo primitivo que eles adotaram.
Além
dessa louvação à violência, dois outros pontos negativos incomodam a leitura:
primeiro, o estilo literário de Stewart Home, ou melhor, a falta dele. Usando
terminologia rebuscada em contraste com trechos parciais, apaixonados e
informais, o autor às vezes cansa e confunde o leitor. Segundo, seu
eurocentrismo. Home simplesmente ignora o que quer que tenha acontecido fora da
Europa, a não ser por eventuais menções aos Estados Unidos. Ainda que sirva
como uma delimitação de estudo, Home reconhece em seu texto que a restrição à
Europa deve-se a seu total desconhecimento do tema fora dela e ao seu desinteresse
por ele.
Apesar
dessas questões, Assalto à Cultura vai além do que a maioria das
análises eruditas sobre o tema já foi e desmistifica várias lendas, além de
levar ao questionamento dos conceitos de "arte",
"alternativo" e "subversão". Só isso já o torna suficientemente
subversivo...
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