Utz
(bruce chatwin)
um pequeno apartamento da rua siroká, em praga, transformara-se numa especie de santuário onde os horrores do século XX não entravam:lá o tcheco de origem judaica kaspar utz abrigava sua coleção particular das primoras porcelanas de meissen.comparadas à delicada realidade de suas estatuetas, a gestapo e a polícia secreta não passavam de grosseria imitações em gesso.era com o colorido arlequim, o farsante, que o colecionador mais se identificava. como ele, era perito em subtrair-se ardilosamente ao poder das autoridades, que viam em suas peças sinais da decadência e da corrupção burguesa; e o amor da sua própria colombina estava muito mais acessível do que ele jamais imaginara, na pessoa de marta, sua empregada fiel. persistindo na ilusão de que a cortina de ferro era um obstáculo facilmente transponível, utz estava sempre disposto a abandonar praga, mas era invariavelmente impedindo pelo amor à coleção- um mundo de figurinhas resplandescentes que cantava a história silenciosa de uma europa que não mais existe.utz colecionava também outras histórias: anões e gigantes, astecas e hotentotes, a origem do homem e dos golens- estátuas de barro que ganharam vida em tempos remotos - e os segredos de alquimia, que compunham o vasto repertórios de um universo interior repleto de fantasias e suposições místicas.com doces equilibradas de agilidade narrativas, erudição e uma ironia que por vez chega a explicitar-se em humor, bruce chatwin vai aos poucos modelando a
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