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Abc do Amor
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Drama existencial em preto-e-branco dividido em três episódios, cada um produzido por
um país sul-americano (Argentina, Brasil e Chile, justificando o ABC do título). O primeiro, o
argentino Noite Terrível, narra o dilema de Stephens após deixar em casa a noiva Júlia,
na noite anterior ao casamento. Sentado num restaurante e observando a família da mesa ao lado,
começa a considerar as possibilidades que tem pela frente: pode fugir do casamento, e ser
perseguido pelos irmãos de Júlia; pode casar e ver, já no dia seguinte, desaparecer o desejo e
seguir uma rotina triste com uma mulher sem personalidade e sofrer as pressões da família; ou
pode simplesmente dizer a verdade e fazer o que tem na cabeça. É o episódio mais interessante
dos três, demonstrando ousadia e inteligência num roteiro cheio de idas e vindas no tempo, com
excelente uso dos pensamentos dos personagens e alternância entre o drama e o humor (como na
cena em que os irmãos de Júlia, procurando Stephens em tudo quanto é lugar, interrompem a
caçada para ouvir no rádio a transmissão de um jogo de futebol), e comentários sutis que ora
lembram Nelson Rodrigues ("É quase como um assassinato" , pensa Stephens, enquanto faz
amor, no meio da rua, com a noiva) e surpreendem em trechos como a comparação entre o casamento
e o macarrão sendo regurgitado. Como curiosidade, a semelhança física entre o ótimo ator Jorge
Rivera López e o cantor Michael Stype, vocalista do grupo R. E. M.

Em Mundo Mágico, o episódio chileno, o protagonista já casou e
teve um filho, mas é tão insatisfeito quanto o do filme anterior. Diretor de televisão que tem
um caso com a ambiciosa apresentadora de um programa de astrologia, Jorge não consegue realizar
sua paixão nem terminar o casamento fracassado. Pior: o engajamento político e a desilusão com
o momento de seu país acabam intervindo em sua vida particular, principalmente durante a
realização de um documentário numa favela, onde uma moradora acaba de perder o filho. A
tumultuada narrativa acompanha o desespero de Jorge, o que acaba tornando o filme fragmentado e
confuso. Aparentemente autobiográfico (Helvio Soto, o diretor, é também egresso da TV),
Mundo Mágico desmantela a impressão de elaborada experimentação do filme anterior (que,
além do bem escrito roteiro, traz uma requintada fotografia repleta de sombras), e adquire o
aspecto rústico dos filmes brasileiros do movimento cinemanovista.



Finalmente, em O Pacto um jovem conquistador aposta com os amigos
que conseguirá dobrar a bela Inês, virgem criada por pais rigorosos. Embora ela corresponda a
seu interesse, a proibição de encontrar com o namorado secreto leva-os a furtivos encontros no
cinema, no zoológico ou num elevador, que nunca chegam a termo. Ela então resolve desafiá-lo,
exigindo que ele prove seu amor num pacto de morte, onde ambos tomariam veneno após irem para
a cama. A despropositada história, que até pode ser rica em leituras psicológicas, teve uma
realização mediana, onde o que salta aos olhos é a paisagem do Rio de Janeiro, mostrada de
forma extremamente feliz no passeio de lambreta do casal, que vai da Zona Norte à Zona Sul,
passando pelo Maracanã e os Arcos da Lapa, além da seqüência num dos antigos cinemas da Rua do
Passeio. A trama, no entanto, pouco oferece para que o espectador sinta-se atraído, e o
previsível desenlace tampouco causa a surpresa pretendida. Como curiosidade, a ponta de Pedro
Paulo Rangel, novíssimo, na festa inicial, e o nome de Joana Fomm como assistente de direção,
nos créditos finais.


É curioso que co-produções como essa não tenham sido realizadas às
pencas pelo cinema nacional. Em debate na TV Educativa/Rede Brasil, o produtor associado Luís
Carlos Pires informou que filmes como este acabavam saindo baratos, pois tinham o custo de um
curta-metragem e o retorno de um longa. O formato também permite uma maior liberdade de
linguagem, sendo normalmente utilizado como laboratório para exercícios de imaginação. Sem
contar, no caso particular deste ABC do Amor, o registro de um momento histórico que
proporciona interessantes comparações com o atual estágio de nossa sociedade: se por um lado
a repressão familiar e a submissão feminina diminuíram consideravelmente com o passar das
décadas, a situação dos pobres e a hipocrisia dos ricos não mudou nada.



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