Cultura: um conceito antropológico 
(Roberto DaMatta)
  
Sempre procura-se entender, mapear ou explicar as diversidades de pensamentos, de comportamentos entre as culturas.  Ao longo do tempo, tivemos teorias que buscassem explicar essas diferenças,
 como o determinismo biológico e geográfico.
 
              O determinismo biológico diz respeito à idéia
 de que características genéticas são capazes de determinar características
 culturais. Essa teoria foi facilmente derrubada pelo fato de que as
 características que diferem as pessoas entre si, entre países, nações, e etc,
 não estão ligadas a nenhum fator biológico. Qualquer ser humano é capaz de
 aprender e adaptar-se qualquer cultura, desde que cedo seja educado para isso.
 
 Quanto ao fato de que não podemos
 considerar que o ambiente determina características culturais - o determinismo
 geográfico – podemos observar facilmente que em um mesmo espaço, povos possuem
 comportamentos e ideologias absolutamente diferentes. Percebeu-se então que
 características físicas ou ambientais eram insuficientes para explicar a
 diversidade cultural.
 
             A
 esse ponto, devemos caracterizar este fenômeno que estudamos tanto. Edward
 Tylor conceitua convenientemente cultura como um “todo complexo que inclui
 conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra
 capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem membro da sociedade.” Ao longo do
 tempo e da construção deste conceito, existem dois fatores que parecem
 controversos ao senso-comum e que a Antropologia tem tentado esclarecer. O
 primeiro questiona os instintos humanos – os quais devemos entender como únicos
 para cada sociedade, ou melhor, para cada indivíduo; e o segundo é que parece
 confuso pensar a cultura como um processo acumulativo. Porém isso se torna
 fácil se percebemos que a comunicação consiste em um processo cultural, pois é
 através dela que toda a herança de uma sociedade é mantida e transmitida ao
 longo do tempo.
 
             Quanto
 à sua origem, temos Lévi-Strauss, com a idéia de que a cultura surgiu a partir
 da proibição do incesto; Leslie White vê que a passagem de um estado animal
 para o humano foi a criação de símbolos – pois como já dito, a comunicação é
 que torna o processo de manutenção de uma cultura possível; e existem teóricos
 que defendem a idéia de que houve um ponto crítico, um momento onde a cultura
 passou a existir, fazendo com que o homem saísse do selvagem para o humano.
 Porém esse salto parece confuso para a ciência. Acredita-se que isso se deu
 através de um processo onde o homem, gradualmente, evoluiu-se biológica e
 culturalmente ao longo do tempo.
 
             A
 Antropologia tem buscado reformular este conceito de cultura que teve várias
 formas ao longo do tempo. Roger Keesing vê três tendências nesses conceitos
 atuais: a de considerar a cultura como um sistema
 adaptativo – comunidades adaptam-se à sua própria biologia, idéias
 fortalecidos pela seleção natural de Darwin; a de idealizá-la pensando-a como um sistema cognitivo, estrutural,
 construído na mente humana; e a terceira que vê a cultura como um sistema simbólico que caberia em todos
 os seres humanos. Essa discussão parece não ter fim, pois fica claro que para
 definirmos a cultura devemos definir o próprio homem.
 
             Falando
 de como a cultura acontece nas sociedades, temos que fatores culturais de um
 povo são, como já ressaltado, diferentes de outros até em fatores fisiológicos.
 Porém esse comportamento desviante na maioria das vezes é condenado. O que se
 observa no outro e que para nós pode ser considerado absurdo, são variações de
 um mesmo padrão cultural. Vemos acontecer há muito tempo o fenômeno do etnocentrismo, no qual o homem vê o
 mundo através da sua própria cultura considerando as demais  inferiores. Houve também outra reação perante
 o contato com as diferenças, que parece ser menos freqüente: a apatia. O choque com o outro é tão
 intenso, tão perturbador, que abandona-se a crença nos valores de sua própria
 sociedade.  
 
             É
 importante que todas as pessoas participem ativamente da cultura, pois ao conhecê-la,
 evita-se que existam conflitos prevendo (ou tentando prever) o comportamento do
 outro. Porém, existem dois fatores que restringem o comportamento do homem em
 todas as esferas da sociedade: o cronológico, que podemos observar pela
 ausência de força, agilidade e experiências de uma criança frente a um adulto; e
 o cultural, já que a sociedade, mesmo que bem estruturada, não é capaz de
 incluir o homem adulto em todas as funções culturais que lhe são oferecidas.
 
             É a
 partir do trabalho de Lévi-Strauss “O pensamento selvagem” que a idéia de
 logicidade da cultura começa a ser entendida como singular e única, não havendo
 portanto aquela que seja mais ou menos lógica que a outra. Ele revela que o
 pensamento mágico – os mitos que explicam a origem da sociedade – antecede o
 pensamento científico mas lhe é inferior. Porém não ilógico, já que a verdade se
 estabelece a partir daquilo que se observa. Se não possuíssemos instrumentos
 que provam que a terra gira em torno do sol, provavelmente pensaríamos assim
 como outras sociedades que consideramos ilógicas. Portanto o lógico é aquilo
 que é coerente dentro do seu próprio sistema, segundo Laraia. E percebe-se que
 a percepção de lógica em outras culturas é feita por categorizações, por isso o
 estranhamento é tão freqüente.
 
             As
 mudanças na cultura são de fato algo que a constitui ao longo do tempo. Existem
 dois tipos de mudança cultural: uma que acontece intensamente e o processo é
 tão lento que, ao olhar do outro, ela é pequena ou não existe; e a outra que se
 dá a partir do contato com outras formas de cultura, que acontece de forma mais
 brusca e tende à uma mudança radical ou gera uma troca de padrões. Para esse
 segundo tipo, os antropólogos trabalham o conceito de “aculturação”. Então
 hoje, parece ser unânime que a cultura está em constante mudança e que
 entendê-la é necessário para se entender melhor como parte de um todo, e
 entender esse todo também. 
 
  
 
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