A Dama de Ferro
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Sinopse e comentário. Biografia romanceada de Margareth Thatcher,
que ocupou o cargo de Primeira Ministra britânica de 1979 a 1990. Agora uma
mulher idosa e solitária, vítima do Mal de Alzheimer e, por causa disso,
proibida de sair sozinha às ruas, Thatcher enfim decide livrar-se dos pertences
do marido, Denis. Falecido há anos, é com ele, a quem vê e com quem conversa
nas alucinações provocadas pelo Alzheimer, que a ex-Dama de Ferro preenche os
momentos de solidão. Assim, a cada peça de roupa ou fotografia que redescobre
entre os guardados, Thatcher relembra a própria vida. Da filha do quitandeiro
que se formou em Oxford, até a renúncia ao cargo de Primeira Ministra, o filme
irá então acompanhar sua entrada no Partido Conservador e o casamento com
Denis, industrial que lhe deu o sobrenome e que foi o seu maior incentivador na
política. Mostrará a eleição como parlamentar, em 1959, a nomeação para a
Secretaria de Educação, a conquista da liderança do partido e, enfim, a eleição
para a chefia de governo. Rigorosa e quase inflexível em sua política de
contenção de gastos e criação de impostos, o que levou a greves, protestos e
mesmo um atentado a bomba em sua casa, Thatcher veria sua popularidade subir ao
declarar guerra contra a Argentina, pela posse das Ilhas Falklands.
A cena inicial de A Dama de Ferro
(The Iron Lady, Reino Unido/França, 2011)
é uma declaração de intenções da diretora Phyllida Lloyd e da roteirista Abi
Morgan. Ali, vê-se uma frágil, simpática e solitária velhinha dirigindo-se à
fila do supermercado e espantando-se com o preço do leite. As pessoas sequer
percebem a sua existência, muito menos a sua importância, tomando-lhe
grosseiramente a dianteira na fila. A velhinha não se importa. Compra seu leite
e segue, devagar, para casa. Pela sutileza e sensibilidade, é o momento mais
bonito do filme.
Depois disso, no entanto, a mão
da diretora parece fraquejar e a mesma acaba limitando-se a narrar quase
burocraticamente a vida de Margareth Thatcher. O filme assume posição favorável
à personagem, o que não seria ruim se tal posição, em si já uma ousadia, se
refletisse na maneira de contar a história. Muito se criticou a falta de rigor
histórico do roteiro, justificada pela diretora como sendo o ponto de vista de uma
mulher idosa e doente (pode-se imaginar o que não faria um diretor instigante e
criativo como Stephen Frears, de Ligações Perigosas e A Rainha,
com este material nas mãos). Na tela, entre outros equívocos, vê-se a primeira
ministra como única mulher dentro do Parlamento, atuando bravamente sob o olhar
atravessado de homens preconceituosos (inclusive os colegas de partido), embora
naquela época já houvesse pelo menos vinte parlamentares mulheres, o que pode
ser conferido em vídeos no YouTube. O filme também foi acusado de mostrar
parcialmente – e na ordem inversa – os dois principais momentos da Era
Thatcher, a greve dos mineiros em 1984 e a guerra contra os argentinos em 1982,
com o sucesso deste fazendo a população esquecer-se daquele. Há também uma
ausência em todo o filme, não justificada: por que, numa obra sobre a primeira
ministra britânica, em nenhum momento é citada a rainha da Inglaterra?
Deixando de lado a questão
política, como parece preferir a diretora (que está trabalhando pela segunda
vez com Meryl Streep, após Mamma Mia),
A Dama de Ferro procura mostrar o
quanto Margaret Thatcher, por mais forte, dura e... férrea (o trocadilho foi
irresistível) possa ter sido, foi, por toda a vida, uma mulher solitária,
diferente das demais. Vinda de família modesta, trabalhando com o pai na
quitanda e trocando a diversão pelos estudos, logo entraria em Oxford. Já no Partido
Conservador, ao ser pedida em casamento por Denis Thatcher, argumentou que não
seria uma simples dona de casa (“Não posso morrer lavando uma xícara”). E, no
Parlamento, enfrentou opositores trabalhistas e partidários conservadores com a
mesma segurança com que mandou afundar um navio de guerra argentino, até ficar
tão isolada no poder que precisou renunciar ao cargo por falta de apoio. Nada
disso, porém, pareceu abalar tanto a brava senhora. Com a morte prematura, por
câncer, de Denis (os dois já haviam escapado, juntos, de um atentado a bomba),
a solidão terminaria por derrubar a mulher que por onze anos comandou a
política inglesa. Com um filho sempre ausente e uma filha a quem parece
desprezar, restou a Thatcher enxergar pela casa o marido morto, e conversar com
ele como se vivo estivesse. Ou como se morta estivesse ela, não passando os
dois de um casal de fantasmas aprisionados dentro de casa com suas lembranças.
O outro ponto bastante comentado do
filme, e este rendendo elogios, é a atuação de Meryl Streep. Não é novidade o
dom desta atriz de, a cada filme, transformar-se. Aqui, seja sob a pesada
maquiagem que a envelhece, seja sob o brilho dos anos de ouro, Streep reinventa-se
e mostra o quanto é capaz de se entregar a um papel. Talvez haja certo excesso
na tentativa de reproduzir a impostação vocal e gestual britânica, o que
provoca perda de naturalidade, mas nada que arranhe o ótimo desempenho. Os
elogios podem ser estendidos ao sempre simpático Jim Broadbent, que faz um
dedicado e divertido Denis, e a Alexandra Roach, que interpreta Thatcher
durante a juventude. A recriação da época beira a perfeição, com a direção de
arte e os figurinos reconstruindo com precisão os cenários e as roupas.
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