A Invenção de Hugo Cabret - Crítica
(Heitor Romero)
Direção: Martin Scorsese
Roteiro: John Logan, Brian Selznick (livro)
Elenco: Asa Butterfield, Ben Kingsley, Chloë Moretz,
Sacha Baron Cohen, Helen McCrory, Christopher Lee, Michael Stuhlbarg, Emily
Mortimer, Jude Law
Hugo
Cabret é um órfão que mora dentro dos relógios de uma estação de trem, na
Paris dos anos 1930, acertando os relógios quando preciso e sempre escapando
das garras do temível inspetor do local (Sacha Baron Cohen). Um dia o dono da
loja de brinquedos, Georges (Ben Kingsley), lhe rouba seu caderno – que,
junto com um autônomo desativado, é a única herança deixada por seu pai, um
relojoeiro morto em um incêndio – dando a entender que naqueles escritos há
algo de muito importante e secreto. Tão importante que nem a afilhada de
Georges, Isabelle (Chloë Moretz), pode saber. Agora juntos, Hugo e Isabella
tentarão descobrir quais os segredos que Georges e aquele misterioso caderno
guardam.
O
velho rabugento que furta o caderno de Hugo é uma clara referência ao próprio
George Méliès, cineasta que usou do
poder ilusionista do cinema para revolucionar as técnicas de efeitos
especiais com o pioneiro Viagem à Lua
(1902). A mistura da figura real com o personagem fictício carrega consigo
uma carga de metalinguagem e menções honrosas ao cinema antigo que já garante
um argumento interessante.
É
um trabalho nostálgico, mas também atual, tanto em seu visual como em seu
conteúdo. O 3D é usado em prol da arte antes de tudo. O grande símbolo visual
de A Invenção de Hugo Cabret são os relógios da estação de trem, pelos quais
Hugo é responsável em acertar diariamente, o que nos remete ao principal
elemento-chave da obra: o tempo. O tempo é o único capaz de transcender
quaisquer que sejam os problemas ou os obstáculos dos personagens, e também é
o grande inimigo daqueles que precisam ver no cinema uma fuga feliz da
realidade cruel.
É
contra o tempo que não somente Hugo, Isabelle e Méliès correm, mas também o
próprio Scorsese, um cineasta já velho que ainda se mantém no topo e que
agora sente a necessidade de se aventurar como uma criança de encontro com as
leis da natureza. O tempo vai passar sem piedade e um dia ele estará velho
demais até para o cinema, como o verdadeiro George Méliès no fim de sua vida.
Logo seremos nós as crianças, os “Hugos" perdidos numa grande estação de
trem, encontrando na experiência de Martin Scorsese uma maneira de continuar
com a mágica do cinema para as próximas gerações. Logo ele estará passando o
bastão para seus sucessores e assim sempre será. E quem sabe um dia, em um
futuro muito distante, um filme de tecnologia de ponta talvez nos conte a
história de um menininho sonhador que em um dia qualquer acaba encontrando
por acaso um senhor velhinho e franzido, de sobrancelhas grossas e sorriso
simpático, que lhe ensina o grande segredo de como lutar contra o tempo:
através da mágica, da ilusão - através do cinema.
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