Memórias de um Sargento de Milícias
(Manuel Antônio de Almeida)
Inicialmente foi
escrito sob o formato de folhetim, em capítulos publicados semanalmente no jornal
“Correio Mercantil” do Rio de Janeiro, entre 1852 e 1853, anonimamente. Foi
editado em livro em 1854 e 1855, também anonimamente, o nome do autor só apareceu
apenas na terceira edição, já póstuma, em 1863.
ENREDO
Por ser originariamente publicado uma
vez a cada semana, o enredo necessitava prender a atenção do leitor, tendo
capítulos curtos e até certo ponto independentes, geralmente contendo um
episódio completo a cada semana. Desta forma tem-se uma trama complexa, composta
por histórias que se sucedem, porém nem sempre se relacionam por causa e efeito.
Nesta trama, o protagonista é uma abandonada pela mãe, que foge para Portugal
com um capitão de navio, é posteriormente abandonado pelo pai, que encontra em
seu padrinho um protetor. Esse é dono de uma barbearia onde esconde boa soma em
dinheiro.
TEMPO
A história se passa no começo do século XIX, ocasião em que a família real portuguesa
e sua corte se instalaram no Brasil, refugiados das guerras Napoleônicas. Por
isso, o romance tem início com a expressão “Era no tempo do rei”, referindo-se a
Dom João VI.
NARRAÇÃO
Apesar do título de “memórias”, o romance não é narrado pelo protagonista, e sim
por um narrador onisciente em terceira pessoa, que tece comentários e
digressões no desenrolar dos acontecimentos. O termo “memórias” refere-se à evocação de um tempo passado,
reconstruído por meio das histórias por que passa o protagonista.
ORDEM E DESORDEM
Duas forças de tensão movem os
personagens do romance: ordem e desordem, que se revelarão características
profundas da sociedade colonial de então.
A estabilidade social representa a ordem, enquanto a instabilidade se refere à
desordem. Dessa forma, o barbeiro, completamente adequado à sociedade, ao
revelar as origens pouco recomendáveis de sua estabilidade financeira, evoca no
seu passado a desordem.
Personagens como o major Vidigal, a comadre, dona Maria e o compadre pertencem
ao lado da ordem. Mas os personagens desse polo nada têm de retidão, apenas
estão em uma situação social mais estável.
O polo da desordem é formado pelo malandro Teotônio, o sacristão da Sé e
Vidinha. A acomodação dos personagens, tanto na ordem como na desordem, está
sujeita a uma mudança repentina de polo, ou seja, não existe quem esteja
totalmente situado no campo da ordem nem no da desordem. Não há, portanto, uma
caracterização maniqueísta dos tipos apresentados.
O major Vidigal, por exemplo, um típico mantenedor da ordem, transgride o
código moral ao libertar e promover o protagonista em troca dos favores
amorosos de Maria Regalada.
ROMANCE MALANDRO
Nos
estudos sobre a obra, tendo como base o enredo episódico do livro, Mário de
Andrade classificou o romance como uma manifestação do “romance picaresco”,
gênero popular espanhol medieval dos séculos XVII e XVIII.
O
que se vê é que Manuel Antônio de Almeida foge
completamente ao idealismo romântico de sua época. Se há traços românticos em
sua obra, eles estão no tom irônico e satírico que assume o narrador.
A conclusão possível é que estamos diante de um novo gênero nacional, que se
constrói em torno da figura do malandro, personagem que tem influências
popularescas, como Pedro Malasarte; mas é urbano e relaciona- se socialmente
com as esferas da ordem e da desordem, já citadas.
É mais apropriado, por isso, classificar essa obra como um “romance malandro”,
de cunho satírico e com elementos de fábula. Esse gênero frutificará em vários
romances posteriores, como Macunaíma, de Mário de Andrade, e Serafim
Ponte Grande, de Oswald de Andrade.
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