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Os ratos
(Dyonelio Machado)

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Não adianta. Chega o momento em que o ouvinte, como que impregnado da
palavra, sente que é preciso escrever. Há os que o faça contra tudo e contra
todos: desagrado dos pais, carência material, estranhamento que seus textos
possam causar, tempo escasso etc.

Moacyr Scliar dividiu seu tempo entre os pacientes e a escrita. Machado
de Assis começou a escrever na adolescência e nunca parou. Entretanto, fez
carreira como funcionário público, porque sabia dos altos e baixos dos
percursos dos escritores que, vindos de famílias com poucos recursos,
percorreram.

Se esses autores levaram até o fim da vida duas profissões, há e houve os
que, ao verem cobertas suas necessidades pelo rendimento de seus escritos, a
proteção de um mecenas ou uma bem-vinda herança, passaram a se dedicar apenas à
escrita.

De todo modo, esse impulso motivado por uma paixão ou necessidade interna
foi pegar Dyonelio Machado num período em que ele atendia em dois hospitais e
num hospício. Os ratos, ele o escreveu em vinte noites, apesar da jornada longa
de trabalho. Era verão. A mulher dele lia os manuscritos e uma moça os
datilografava. Quando Dyonelio se pôs a escrevê-lo, ele já o tinha pronto na
cabeça. Foram nove anos a gestá-lo.

O que chama a atenção na narrativa é
o viver medíocre do funcionário público, (representado no texto por Naziazeno),
daquele responsável por mover a máquina pública. Esse personagem possui algumas
semelhanças com o protagonista de O castelo, de Kafka, não pelas suas energias
internas, mas pela absoluta incapacidade de transformar sua realidade. O
personagem kafkaniano se vê completamente impossibilitado de cumprir sua função
no lugarejo em que se apresenta e pela própria máquina burocrática, para quem
ele é nada. E o que é um homem sem um fazer que o distinga? Durante toda a
narrativa ele roda, bate, perambula, fala, insiste sem que consiga entrar no
castelo (a fim de obter a autorização para que inicie suas atividades).

Enquanto este se vê rendido graças a
condições externas, aquele o que tem é uma fraqueza moral, um completo desamor
por si mesmo, uma ausência angustiante de sonhos, de metas para si e sua
família. E todas as dificuldades financeiras porque passa não despertam nele o
guerreiro. Não há indignação, não há a confiança em si. Todas as
alternativas por ele vislumbradas para melhoria de vida deposita-as no outro.

Naziazeno entra e sai da repartição
a hora que quer. Mas o que ganha mal dá para o sustento dele, da mulher e do filho.
E tal qual o agrimensor de Kafka, que chega a dormir no chão, entre cascas de
cebola, Naziazeno se rasteja em busca de dinheiro para pagar o leiteiro.

Deve ao leiteiro
e não tem como pagar. O sapato da mulher está no conserto esperando pagamento.
Não quer passar pelo constrangimento de ter novamente o leiteiro destratando a
ele e a mulher por falta de pagamento, os vizinhos ouvindo tudo. Pede ao chefe,
mas este se recusa a emprestar (já o havia ajudado quando da doença do filho).

À hora do almoço sai da repartição,
mas não vai para casa comer, como costumava. Sai pela Porto Alegre dos anos
trinta procurando quem o ajude. Tenta o jogo, o agiota. Um dos conhecidos
penaliza-se dele, mas também não tem dinheiro. Propõe penhorar a única peça de
valor que tem. E procuram vários profissionais da penhora. Passam a tarde e
parte da noite nisso. Não comem. Não têm dinheiro para isso. Passam o dia
tomando cafezinhos, que ora um ora outro paga. Cada moedinha retirada do bolso é
com parcimônia, porque poucas.

São os ratos.

Durante a narrativa, Naziazeno passa
mais tempo em seu imaginário que com os pés na realidade: ora é ele conseguindo
o dinheiro, indo para casa com os sapatos da mulher, um brinquedo para o filho,
um pedaço de queijo, sendo recebido pelos dois. Fuga?

Ele foge. Do médico que tratara do
seu filho e para quem ainda deve. Da repartição que não o trata com o respeito
que deseja. Do leiteiro.

Quando finalmente consegue o
dinheiro (outro empréstimo) deixa a quantia que cabe ao leiteiro sobre a mesa.
Por que não o entrega pessoalmente, olhando o leiteiro nos olhos?

Até cogitara conseguir um outro
trabalho à noite, mas desiste. É uma vida pequena, que gira em torno de
conseguir o suficiente para continuar vivendo. Só que mal.

Qual a origem
dessa letargia? No livro O construtivismo na sala de aula, que é aconselhável,
todo professor leia, pois apresenta importantes informações resultantes de
pesquisas sérias sobre como a criança aprende, mais especificamente no capítulo
três, que trata dos conhecimentos prévios, fica-se sabendo que uma criança
nunca se confronta com um novo conhecimento sem já ter construído sentidos
sobre ele. Nos seus poucos anos de existência, ela já tem construída uma base:

·
a disposição para aprender, para enfrentar algo
novo;

·
já tem
uma autoimagem, de acordo com as experiências e as relações vividas;

·
No que se refere aos conhecimentos prévios, ela
já tem esquemas de conhecimento em maior ou menor medida organizados, tanto
internamente quanto entre si;

Embora Naziazeno seja um personagem fictício, a relação que ele mantém
com o trabalho é um aspecto que merece a reflexão dos educadores. Por que o
trabalho é visto como peso? O trabalho não é apenas fonte de sustento, é também
fonte de realização. Ora, aprender é trabalho sério, mobiliza forças internas
do indivíduo. Mas como fazer com que o trabalho de aprender seja uma
experiência de realização para os educandos? Levando-se em conta o modo como
aprendem. Crianças e jovens aprendem de modo dinâmico explorando, criando,
realizando experiências, O ensino que limita o ler para responder questionários
ou que abusa dos exercícios de fixação mata a curiosidade, a vontade de agir,
natos nos jovens.



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