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Bom-Crioulo
(João Alves Bastos)

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Amaro,
por volta dos dezoito anos, veio fugido não se sabe de onde. No Rio de Janeiro
tornou-se marinheiro. Ele era bom marinheiro, bom colega, admirado por todos,
meigo e disciplinado. Por isso, mereceu dos superiores a alcunha de
Bom-Crioulo.Ainda não havia participado de embarque definitivo, quando foi
convocado a embarcar para o sul. Com um
corpo de respeitável musculatura, Bom-Crioulo impôs cautela no espírito dos
demais e passou a ser o homem certo para as tarefas viris.

Um
dia Bom-Crioulo conheceu Aleixo, que embarcara no sul. A amizade surgiu inesperada.
O amor do marinheiro pelo grumete veio ao primeiro olhar, escravizando seu
coração. Já no primeiro contato, perguntou ao grumete seu nome e prometeu-lhe
segurança contra quem o incomodasse.

Aleixo
tinha quinze anos e com o tempo acostumou-se aos carinhos e investidas de
Bom-Crioulo. Por fim, a embarcação estava por chegar à Guanabara, para desgosto
de Amaro, para quem a viagem deveria ser um sem-fim ao lado de Aleixo a quem queria
por esposa, em todos os seus significados. Isso não lhe saía da cabeça. Afinal,
não se havia dado bem com mulheres, de quem preferia distância de suas manias fingidas.

Presenteava
e tratava o grumete como a uma moça, e este correspondia. Numa noite anterior à
chegada, Amaro estava decidido e resolver-se com o grumete, que ia se
esgueirando às investidas. Foram dormir juntos na proa, bem aconchegados.
Aleixo, sentindo seu corpo pulsar, delirando nos sonhos prometidos por Amaro,
cedeu. Bom-Crioulo pensava agora em sua libido dirigida ao Bonitinho, como
costumava chamar Aleixo; descobria num outro homem o que procurara nas
mulheres.

A
corveta atracou e ambos desceram e rumaram à Rua da Misericórdia, onde haveriam
de ter seu ninho, como prometido e sonhado. Foram recebidos por D. Carolina,
portuguesa dona de uma pensão, onde Bom-Crioulo tinha pouso certo. Ela fora uma
prostituta e era solteira, com seus quase quarenta anos.

Passaram-se
seis meses e o romance ia transcorrendo; mas o calor da paixão abrandara-se, o
respeito mútuo crescia. D. Carolina nunca havia visto amor tão grande entre
dois homens. Todavia, o negro foi surpreendido pela notícia de que serviria
noutro navio. Amaro passaria agora a vir menos à terra; já na primeira folga de
Aleixo o amante não vinha. Ficou em casa. Conversou um pouco com D. Carolina, a
quem deu a notícia da transferência. Essa situação era prato cheio para ela,
que já tinha a idéia de conquistar o marinheirinho, afinal queria ter alguém
por companhia e amante. Não se importava com Amaro; fazia-o em segredo.

Certa
vez Aleixo a viu em poucas roupas, "por acaso", e gostou. Ela, sem
rodeios, declarou sua paixão. Diante da investida e dos carinhos afrodisíacos
não resistiu e caiu em luxúria. Gozaram aquela noite.

Um
dia Amaro saiu de sua embarcação e foi dar um passeio, parou num bar e deu-se a
beber uns goles. Ficou naquele estado que todos temiam e foi direto ao cais
para retornar ao trabalho. Lá chegando foi dizendo coisas insanas aos que
encontrou. Em uma meia volta esbarrou em um português que estava ali quieto e
risonho. Bom-Crioulo logo foi ofendendo, o português não se intimidou e entraram
em luta corporal.

Bom-Crioulo
desvencilhou-se do português e puxou sua lâmina. O português não perdeu tempo e
correu; nisso vinha vindo a polícia, mas ninguém tinha coragem de embater o
negro, que a todos intimidava. Na manhã seguinte, no navio, foi castigado. Ao
final da última chibatada caiu. Veio então um médico que o enviou a um
hospital.

Aleixo
e Carola – era assim que ela pedira para ser tratada – iam vivendo bem,
amando-se mais e mais a cada encontro. Temiam que Bom-Crioulo descobrisse. Por
Aleixo, tudo estava acabado entre eles; queria viver somente para ela, e ela
para ele. Não sabiam do atual paradeiro de Amaro: o hospital.

Aleixo
e Carola iam vivendo bem: não se preocupavam tanto com o negro, talvez já
tivesse se esquecido do bonitinho; a afeição por D. Carolina aumentara tanto
que já a queria somente para si. Uma carta de Bom-Crioulo chegou à Rua da
Misericórdia, sendo recebida por D. Carolina que a leu, indignou-se e a rasgou.
Por sorte Aleixo não estava em casa. O clima entre eles ficou estranho. Tiveram
um pequeno desentendimento e ela resolveu contar-lhe a verdade. Ele até cogitou
de ir visitar o antigo amante, o que foi reprovado por ela.

Enquanto
isso, Bom-Crioulo passava seus dias no hospital, sem receber a visita de Aleixo.
Um dia encontrou um ex-companheiro da corveta e se aproximou para ter notícias
de Aleixo e ficou sabendo que o grumete estava amigado com D. Carolina.
Exasperado, tomou o caminho para chegar à casa pensando em vingança.

Dirigiu-se
até uma padaria em frente ao sobrado soube da verdade. O padeiro não economizou
informações: contou das saídas noturnas dos dois e do boato de estarem
amigados. Mal acabara de ouvir tudo isso, avistou Aleixo saindo do sobrado e
correu em sua direção. Estava desesperado. Agarrou Aleixo pelo braço; tremia;
apertava violentamente o outro; gaguejava. Discutiam em voz baixa. Começou a
formar-se uma multidão de curiosos. No meio dessa confusão gritos, correria. De
repente a multidão recuou; a polícia chegou.

Com
o reboliço, D. Carolina correu à janela e viu, lá embaixo, Aleixo ser
carregado, sujo de sangue. Os olhares eram todos para ela. Amaro foi preso.
Aleixo queria ser visto pelos curiosos que gostam de ver cadáveres.



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