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Ritrovil e a Nação de Consumidores








O
Brasil é o maior consumidor de Rivotril do mundo. Saiba como um
calmante tem sido usado para aplacar os sentimentos ruins. Todo
mundo tem um refúgio a que costuma recorrer para aliviar os
problemas. Pode ser um lugar tranquilo, o pensamento em
uma pessoa querida, compras ou aquele prato
proibido pelo médico. Ou pode ser o armarinho de remédios de casa.

Na
farmácia não se encontra produto descrito como "paz em drágeas" ou
"xarope de paz". emuita gente acha que é isso o que deveria dizer o
rótulo do Rivotril, prescrito por psiquiatras a pacientes em crise de ansiedade - nos casos
em que o sofrimento tenha causa bem definida. Mas tem sido usado pelos
brasileiros como elixir contra as pressões banais do dia a dia.

O Rivotril só pode ser comprado com a receita médica. Mas muitos compram com
receita em nome de outros, ou pela internet. Em alguns casos, até há prescrição de médico não especialista, segundo Alexandre Saadeh, professor
do Instituto de Psiquiatria da USP . Poucos
brasileiros vão ao psiquiatra, de acordo com a Roche, laboratório do Rivotril.

"Quem nunca ouviu que alguém toma Rivotril e só dorme com isso?", pergunta o professor de psiquiatria do
curso de medicina da PUC de São Paulo, Carlos Hubner. Ou achar relatos
do tipo "Rivotril é meu melhor amigo." Nessas
histórias, o Rivotril aparece como freio para sentimentos de medo, rejeição, angústia e ansiedade. O remédio tem
sido usado até para cortar o efeito de outras drogas, segundo o
psiquiatra André Gustavo Costa, especialista em tratamento de
dependentes químicos. "Jovens têm tomado o Rivotril para cortar o efeito
de drogas.

Justamente por trazer essa calma toda, o Rivotril não
é recomendado a qualquer um. Seu consumo por profissionais que têm de
se manter ágeis e em estado de alerta é desaconselhado por médicos.
"O Rivotril dá a falsa impressão de que a pessoa produz mais, mas a
verdade é que o remédio só deixa mais calmo", diz José Carlos Galduroz,
psiquiatra da Unifesp.

Não é só com o Rivotril que
isso acontece. Os calmantes da família dele - os chamados
benzodiazepínicos - têm o mesmo papel. São remédios como Lexotan,
Diazepam e Lorax. Em parte, oRivotril ficou
famoso ao pegar carona na onda dos "benzo". Eles surgiram na década de
1950, e logo viraram os substitutos para os barbitúricos, como o
Gardenal. Os barbitúricos têm indicação semelhante à dos benzo. Mas são
mais perigosos: a linha entre a dosagem indicada para o tratamento e
aquela considerada tóxica é muito tênue. A mais famosa vítima dos
excessos de barbitúricos foi Marylin Monroe (embora haja dúvidas sobre o
envenenamento acidental da atriz). Quando surgiram os
benzodiazepínicos, o mundo achou um combate mais seguro à ansiedade.
"Uma overdose de remédios como o Rivotril é praticamente impossível", diz Saadeh, da USP.

É verdade, o Rivotril tem
berço, vem de uma família benquista pelos médicos. Isso já garante uma
popularidade. Mas ele tem uma vantagem extra em relação aos parentes.
Seu tempo de ação é de, em média, 18 horas no organismo, entre o início
do relaxamento, o pico do efeito e a saída do corpo. É o que os médicos
chamam de meia-vida. "A meia-vida do Rivotril é
uma das mais confortáveis para o paciente, porque fica no meio-termo em
relação aos outros remédios para a ansiedade e facilita a adaptação",
diz Saadeh. Na prática, esse meio-termo significa que o efeito do Rivotril não
termina nem cedo demais - o que poderia fazer o paciente acordar de uma
noite de sono já ansioso - nem tarde demais - o que não prolonga a
sedação por um período maior que o desejado.

No Brasil, o Rivotril tem ainda outra vantagem importante. Repare: somos os maiores consumidores mundiais do remédio,
mas estamos apenas na 51ª colocação na lista global de consumo de
benzodiazepínicos. Ou seja: o mundo consome muitos benzo, nós consumimos
muito Rivotril. Por quê? Por causa do preço. Uma caixa de Rivotril com
30 comprimidos (considerando a versão de 0,5 miligrama) custa em torno
de R$ 8. O principal concorrente, o Frontal, da Pfizer, custa cerca de
R$ 29.
O
risco é o mesmo visto em outros benzodiazepínicos. São dois, aliás. O
de dependência química e o de dependência psicológica. Na química, o
processo é parecido com o gerado por drogas como álcool e cocaína. O uso
prolongado torna o cérebro dependente daquela substância para funcionar
corretamente. A outra dependência é a psicológica. A pessoa até para de
tomar o remédio,
mas mantém uma caixa sempre no bolso como precaução. "Cerca de 80% das
pessoas que usam benzodiazepínicos ficam dependentes em 2 ou 3 meses de
uso", diz Anthony Wong, diretor do Centro de Assistência Toxicológica do
Hospital das Clínicas, de São Paulo. "E a maioria tem sídrome de
abstinência se o remédio for tirado de uma hora para outra."
A Abstinência pode levar o paciente a uma
internação. A pessoa pode ver, ouvir e sentir coisas que não existem,
apresentar delírios (como ser perseguida por extraterrestres), agitação,
depressão, apatia, eoutroos sintomas. E para cortar a dependência?
"O paciente precisa querer parar. Há drogas que tratam os sintomas da
abstinência em no máximo 4 semanas", afirma Carlo Hubner, da PUC.
Livrar-se do Rivotril é duro porque é preciso enfrentar todos os
fantasmas de que o paciente queria se livrar quando buscou o remédio.
Afinal, o remédio só
esconde os problemas. Eles continuarão lá, à espera de solução. O
verdadeiro adeus é o momento em que se aprende a lidar com a ansiedade.
Sozinho. Ou talvez com uma passadinha rápida na praia. Pensando no
namorado. Ou com a ajuda daquela lasanha (bem gorda).



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