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Fogo morto
(José Lins do Rego)

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Não é o engenho em decadência que arrasta consigo todos os que nele
habitam e trabalham. É a queda do homem, seja ele simples ou letrado, que faz
fenecer todo o engenho, toda a vontade, toda força de vida. Queda diante do não
saber fazer, queda diante do reconhecimento que não veio, queda diante da
frustração, queda diante das mudanças. Fogo morto é uma valiosa lição de história
do Brasil, o de ontem e o de hoje.

Quando Mestre Amaro repassa a sua vida enquanto prepara o couro para a próxima
sela a ser fabricada sente o coração arder de mágoa por não ter recebido um
cumprimento do senhor das terras onde mora, ele coloca em evidência dois
aspectos do comportamento humano: a incapacidade de certos homens letrados,
como o professor, o advogado, o juiz ou o executivo de se reconhecer no outro
que lhe é diferente na formação, cultura e modos de ver o mundo, mas que lhe é
igual porque também um homem.

Por vez ou outra circulam nos jornais e revistas dados levantados por
pesquisas que apontam a invisibilidade de profissionais como garis, porteiros,
ascensoristas, motoristas de ônibus, faxineiros, motoboys. A hierarquia das
profissões define quem merece e quem não merece receber um simples cumprimento.

Mestre Amaro trabalhou duro a vida toda. Sua casa, suas roupas, sua pele
têm o cheiro do couro. Por vezes até a comida. É nele que se encontra outro
aspecto do comportamento humano que merece reflexão: a mobilização de
sentimentos negativos diante de situações adversas, sentimentos esses que lhe
roubam todo o sentido da vida. O filho que não teve, a filha que não casa e
acaba por enlouquecer. E ele, que ao alimentar sentimentos negativos diante das
frustrações da vida, não vislumbrou, como o narrador de Anna Karenina, na
natureza ao seu redor e no trabalho elementos refinadores, capazes de educar
sua alma. Por não ter tido contato com a filosofia ou com os grandes clássicos
da literatura, não teve os instintos amansados e então, diante dos gritos da
filha que o enervam, aplica-lhes surras, acreditando que a curará. A mãe também
sofre ao ver o estado do marido e da filha. Fala com ele, pede-lhe paciência, mas
ele não a ouve.

A casa do Mestre Amaro fica à beira da estrada e ele tem o privilégio de,
numa área em que os vizinhos são distantes um dos outros, de ter sempre com
quem conversar: ora um viajante, ora uma mascate, ora um cliente que veio lhe
encomendar o fabrico de arreios. Mas para eles só tem queixas a fazer, do dono
das terras em que mora, da polícia, da política. Tem sede de vingança, de
justiça e vê no cangaço a voz do homem simples da terra. Cogita ajudar um bando
de cangaceiros que se esconde na região. E cada pequeno gesto seu neste intento
faz renascer nele o entusiasmo pela vida.

Seu compadre, o Vitorino, anda metido em política, é de oposição ao
governo e não tem papas na língua. Pede ao Mestre que apóie seu partido, mas o
Mestre não acredita existir político honesto, já tem sua causa e não lhe dá
ouvidos. A mulher do Mestre Vitorino capa frangos. Por ser frequentemente
chamada, conhece várias casas, as de homens influentes, as de famílias que
definham, como a de Dona Amélia, que luta para manter de pé uma família, uma
casa e um engenho agora mortos. A mulher do Mestre Vitorino é o personagem mais
forte, lúcido e conciliador dentre os personagens, talvez porque transite
entre diversos micromundos . É isso o que deixa entrever suas divagações,
enquanto caminha de volta a sua casa à noite, tendo como paga um frango ou
galinha. É ela quem consola a mulher do Mestre Amaro, sua comadre, quando essa
lhe confidencia as esquisitices da filha, as grosserias do marido. Será o filho
bem sucedido, soldado no Rio de Janeiro a lhe dar forças? É bem possível, já
que Vitorino é motivo de chacota na região (Chamam-lhe de Papa-rabo). Não o
respeitam, ele se indigna, mete-se em brigas. Mas é capaz de grandes feitos. Quando
Mestre Amaro é preso e torturado pela polícia, devido a acusação de conluio com
o cangaço, Mestre Vitorino se mobiliza: redige um hábeas corpus , convence o
juiz da inocência do compadre e este é solto. Mestre Amaro está só. A filha
internada, a mulher que saiu pelo mundo. Ele faz o mesmo. Vitorino, com a vitória
frente aos abusos da polícia readquire vigor para lutar contra os corruptos da
terra. Tem a seu favor a lei.



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