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A Bruxa de Rouen
(Lino França Jr.)

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Século
XVI. Idade Média. Sarah morava num pequeno vilarejo em Rouen. A mulher de quase
trinta anos era respeitada entre a população local. Tinha o reconhecimento dos
vizinhos por seu conhecimento em ervas medicinais, chás miraculosos, orações
misteriosas, além de ser a parteira das mulheres do lugar.

O
respeito e admiração por ela só cresciam. A mesma admiração não era
compartilhada por parte do padre Fabien, pároco local. Todos os atos de Sarah
eram acompanhados de perto por ele e não havia informação sobre os passos da
mulher, que não chegasse aos seus ouvidos.

Certa
madrugada, seu repouso foi interrompido por batidas na porta.

- Sarah,
desculpe pelo adiantado da hora, mas minha filha, Márion, está dando a luz –
disse o homem à porta.

A
mulher foi ao quarto e retornou, trazendo uma sacola com objetos, óleos e
demais apetrechos utilizados em situações como aquela.

-
Me leve até ela.

Logo
chegaram a uma pequena casa. Encostada no umbral da porta, a mãe da gestante
não conseguia conter o choro de preocupação.

A
parteira não gostou do que viu assim que chegou ao quarto. O lençol da cama
onde Márion permanecia deitada estava encharcado de sangue. A mulher gemia
dolorosamente com as pernas arqueadas num esforço terrível.

Enquanto
tentava tranqüilizar a mulher, Sarah avaliava a situação da criança. O bebê
tinha o cordão umbilical enrolado ao pescoço, e Sarah sabia que teria um
trabalho árduo pela frente. A gestante respirava com dificuldade, mas Sarah
sabia que naquele momento deveria dedicar-se primeiramente à criança. Enquanto
executava seu trabalho, balbuciava algumas orações em uma língua desconhecida. Por
quase uma hora, tudo permaneceu da mesma forma, até que, finalmente, a criança
veio ao mundo, mas, com ela uma onda vermelha inundou todo o quarto. A criança
cresceria sem mãe.

O
caso de Márion, não tardou a chegar aos ouvidos do padre Fabien, e nas
primeiras horas da manhã três homens da guarda de Rouen buscaram a mulher para
prestar esclarecimentos.

Na
sacristia da igreja de Saint-Jude, com toda a prepotência e arrogância que lhe
era peculiar, padre Fabien, a aguardava sentado numa cadeira de espaldar alto. Era
a imagem do poder absoluto em frente a uma mulher do povo. O padre a olhava com
superioridade e repulsa, e o interrogatório teve início:

-
Seu nome é Sarah Le Pens?

-
Sim. – respondeu, Sarah.

-
Você freqüenta a igreja?

-
Não.

-
E por qual motivo?

-
Tenho minha própria fé.

-
E posso saber em que reside sua fé? – indagou o padre, com certa irritação na
voz.

-
No amor dos homens, no bem comum, e na força da natureza – respondeu
impassível, Sarah.

-
E foi baseada nesta fé pagã que você incidiu contra os desígnios de Deus, e foi
a única responsável pela morte da jovem Márion Boyer, quando esta dava à luz? –
questionou em tom acusatório.

-
Márion faleceu em minhas mãos, sim, mas
não por minha culpa – respondia Sarah, sem alterar a voz. – A situação já não
tinha mais volta quando cheguei. Só pude auxiliar para que a criança nascesse,
pois caso contrário, todo o sacrifício da mãe teria sido em vão.

-
Como adquiriu conhecimentos médicos para executar tais atos?

- Na
natureza, com suas ervas, plantas, flores e frutos. E também na experiência de vários
anos ajudando mulheres, homens e crianças, quando estes estavam doentes,
desesperados, e pediam a minha ajuda, pois a igreja não tinha tempo, nem olhos
para eles.

-
Herege!!! – berrou o padre. Você confirma que usa poções, orações pagãs, e
rituais ímpios que vão contra a moral e os preceitos cristãos?

-
Uso poções, orações e rituais para fazer o bem àqueles que necessitam.

-
Bruxa!!! – explodiu novamente o padre – Você acredita e teme Deus?

Sarah
olhou no fundo dos olhos do padre:

-
Eu não temo nada – e com a mesma tranqüilidade, finalizou: – E não acredito
nesse seu Deus.

O
padre ergueu-se da cadeira e proferiu com satisfação:

-
Sarah Le Pens, a declaro culpada por heresia e bruxaria, e a sentencio à morte
na fogueira.

Naquela
mesma noite a fogueira foi armada. A multidão cercava o local. Assim que Sarah
surgiu, trazida por dois guardas, um grupo de pessoas irrompeu contra ela.
Muitas destas mesmas pessoas foram ajudadas inúmeras vezes por Sarah, e agora
se colocavam a favor da igreja. No caminho até a fogueira, Sarah foi alvo de
cusparadas, xingamentos, e pedras que lhe feriam a pele alva.

Enquanto
era amarrada na pira, olhava para todos aqueles rostos. Rostos conhecidos, que
sempre a olharam com admiração e ternura, mas que agora se transformavam em
carrancas acusatórias, e, sobretudo, ingratas. A ordem foi dada por padre
Fabien e os guardas atearam fogo à madeira, fazendo as primeiras labaredas
ganharem o espaço.

Conforme
o fogo subia e começava a lamber a pele de Sarah, o povo gritava excitado. A
fumaça já cobria Sarah por completo, mas, no lugar dos gritos desesperados de
dor, o que se ouviu foi uma oração com palavras de vidas e mundos antigos, cujo
som misturava-se ao canto do vento que
surgira inesperadamente, sacudindo os galhos das árvores. Conforme elevava-se o
tom da oração, mais forte ficava o vento. Os primeiros gritos no meio da
multidão começaram a ser ouvidos e todos os presentes olhavam incrédulos ao
redor. Pessoas jogavam-se ao chão debatendo-se desesperadas, tendo fogo nas
vestes que eram consumidas inclementes. Nenhum dos espectadores foi poupado.
Somente após uma risada demoníaca surgir em meio à fogueira, que já queimava
por completo, foi que tudo cessou. O vento abrandara tão misteriosamente quanto
surgira. No chão, corpos carbonizados ainda exibiam pequenas brasas
avermelhadas aqui e ali.

A lenda
correu toda a região de Rouen. O principal propagador da história era um velho
cego que vivia de esmolas, nos degraus da igreja de Saint-Jude. Tal homem
outrora foi conhecido como padre Fabien.



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