Ab-reação, análise dos sonhos e transferênca
(C.G.Jung)
Se a cura dependesse apenas de repetições do evento traumático, estas repetições poderiam ser realizadas pela própria pessoa, como se fosse um simples exercício. Uma outra pessoa seria totalmente dispensável neste processo. Porém, a participação desta outra pessoa, o médico, é absolutamente necessária, e é simples entender o que deve significar para o paciente poder confiar sua dolorosa experiência à esta outra pessoa, solidária e compreensiva. Ele encontra no outro o apoio moral e não se sente mais sozinho na sua luta contra estas forças invisíveis. A considerável força dos conteúdos inconscientes é sempre um sinal de fraqueza do seu contraponto, o consciente e de suas funções. É como se o consciente estivesse a ponto de desintegrar-se e esta angústia representa resistência ao entendimento dos conteúdos inconscientes. Esta resistência se mostra em diversas formas, mas principalmente naquela que nega todo e qualquer conteúdo psicológico existente nas obras de arte, questões filosóficas e religiosas. O médico deve conhecer bem esses mecanismos e suas manifestações. Mas estas zonas defendidas pelo paciente são o ponto de partida para todo o trabalho investigativo e sugestivo que será desenrolado durante o processo terapêutico. Sem esse ponto de partida, fica tremendamente difícil o trabalho do médico. E sua proposta é justamente oferecer ao paciente uma mediação entre seu refúgio e os tentáculos do inconsciente. Sua consciência é deste modo fortalecida até que possa conseguir colocar seu sentimentos sob controle. Este processo sugestivo e influenciador é necessariamente indispensável por parte do médico. Mas a participação do médico neste processo implica na modificação de sua figura psíquica, efeito colateral dos mecanismos de transferência, e isto acontece sem que ela perceba no início. Surge então, de ambos os lados, médico e paciente, uma confrontação com as trevas demoníacas do inconsciente. Verifica-se também que o inconsciente se opõe a relação consciente de confiança mútua estabelecida entre médico e paciente, por meio da criação de projeções que remetem a uma atmosfera ilusória e que quase sempre dá margens para o mau entendimento desta relação tão necessária para aliviar o sofrimento da mente humana. E, em alguns casos, este mau entendimento induzido é substituído pela criação de um ambiente harmonioso extremamente inverossímil, sendo este caso o mais preocupante, pois diferentemente do primeiro que pode apenas por em risco o tratamento, este segundo necessita de um enorme esforço para que sejam descobertos os pontos de discórdia existentes e se estabeleça novamente uma relação de confiança sincera mas verdadeira. A experiência mostra que mesmo depois de dissolvidas as projeções existentes no processo de transferência, a conexão entre médico e paciente não é rompida e isto se dá pelo fenômeno da libido parental. O que esta libido quer é o vínculo humano e é este o núcleo da transferência, o qual não se pode eliminar, porquanto a relação com si mesmo é ao mesmo tempo a relação com o outro. E não se estabelece vínculo com o outro sem antes vincular-se com si mesmo. A análise da transferência é indispensável pois as projeções, dispersa em vários conteúdos significativos, precisam ser integradas pelo paciente para que o mesmo possa ter uma visão de conjunto consistente e suficiente para ter liberdade de tomar decisões. Se as projeções são suprimidas, mesmo que isto represente um alívio, elas aparecerão novamente em outro lugar e momento, impulsionadas sem trégua pelo processo de individuação. O processo de individuação tem dois aspectos fundamentais que dependem um um do outro: é interior e subjetivo de integração; e é objetivo de relação com o próximo. Baseado nesta análise, por mais difícil de ser suportado e por mais incompreensível que pareça ser, o laço da transferência é de vital importância não só para a pessoa como também para a sociedade, constituindo elemento necessário para o progresso moral e espiritual da humanidade.
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