Resumo de Tchanaze a Donzela de Sena - Carlos Paradona Rufino Roque

Vivia em Sena uma donzela cuja beleza e formosura nunca tinham sido antes vistas por aquelas terras. Tchanaze era como se chamava.
Em Sena morria-se todos anos, pois o Rio Zambeze engolia sempre almas dos aldeões das suas margens. Eram essas Almas que maculavam Mbemba, donzela tal como Tchanaze, porém com aparência diabólica e que repelia toda a mocidade. Por isso esta invejava Tchanaze, que recebia sempre os melhores elogios.
Mbemba padecia de uma doença incurável (n´funcua) que tornava sua vida atribulada. Os espíritos evadidos do inferno haviam feito dela sua mulher.
Na busca de uma interpretação fiel, mãe e filha foram a Khumalolo, para consultar a um bruxo lá vivente. Diagnóstico: n?funcua. O bruxo disse que era capaz de expulsar seus convivas de Mbemba, desde que lhe indicassem uma virgem bonita a quem ele e os seus pudessem fazer eternamente sua mulher.
Mbemba gritou logo: Tchanaze! Ao que a mãe concordou. Depois de um ritual, o bruxo dispensou-as garantindo que naquele momento seus amigos já habitavam em Tchanaze.
De manhã Tchanaze acordou sobressaltada. Aquela voz, horas antes podia cativar quem quer que fosse. Agora era capaz de afugentar para bem longe. Acabava de contrair n´funcua. Seus pais tiveram conhecimento de um indivíduo satânico, também fixado em Khumalolo conhecido por Phanga e imediatamente viajaram ao seu encontro.
À entrada o sujeito logo lhes disse: não te aproximes Tchanaze serás até a morte mulher dos maus espíritos, meus amigos. E vocês, pais dela, deverão mantê-la isolada, sem roupa, nem mantimentos, pois eles a alimentarão. Isto devia ser cumprido sob pena de morte para ambos e toda a sua geração. Isolada, a donzela morreu de fome, sede e frio, pois esse era o desejo das almas fugidias do inferno. No dia seguinte os pais na companhia de toda a aldeia, incluindo Mbemba e a mãe, foram enterrar Tchanaze, tendo sido o oficiante da cerimónia um tal Campira, curandeiro e amigo do casal. A notícia encheu de tristeza toda a região.
Pouco tempo depois, Campira fixou-se em Inhangoma. Tendo-lhe chegado a notícia de uma mulher que muito somava elogios teve curiosidade de conhecê-la: Era a Tchanaze. Ele tinha toda certeza pois vira a moça a crescer e tinha sido o oficiante do seu enterro. Todavia, a moça negou-se a aceitar que fosse a Tchanaze e fugiu para a mata.
Campira levou a notícia à Sena. Os pais não acreditaram. Daí que este os recomendou um bruxo, que o conhecia como idóneo para esclarecer este fenómeno tão raro. O bruxo era o mesmo que já haviam consultado e este pediu ao Campira que levasse o casal a ver a tal mulher.
Já em Inhangoma, o casal esteve diante daquela que poderia ser sua filha, porém esta gritou numa voz satânica que não era a Tchanaze. Apesar do que viram com os próprios olhos não podiam acreditar. Convenceram-se porém, de que deviam ir até ao fim.
De volta a Khumalolo, Phanga mandou desenterrar o corpo de Tchanaze, mas para espanto de todos, no lugar do corpo estava apenas um gato, morto há algumas horas. Assim, tiveram que o levar à Gorongoza a um tal N´tchira recomendado por Phanga, para desvendar o mistério. Passando por muitas provações, o casal enfrentou o N´tchira, personagem que não podia ser vista por qualquer vivente, e depois voltaram a Khumalolo levando informações do sujeito para o Phanga, que explicou: os espíritos entenderam que para sua maior felicidade, deviam mantê-la viva num outro lugar, pois que a sua beleza era também sua paixão. Portanto, haviam enterrado um gato que os defuntos de Sena colocaram no lugar de Tchanaze. Então, se estava viva, havia que recuperá-la!
Voltaram a Inhangoma acompanhados por Campira, procurar novamente a mulher. Desta vez Campira foi preparado para expulsar dela os espíritos que a possuíam e assim levá-la ao bruxo Phanga cujo aspecto e acções revelavam ser este, o irmão do diabo.
A notícia da possibilidade da mulher de Inhangoma ser a Tchanaze preocupava Mbemba e sua mãe e tentaram precaver-se da possível descoberta recorrendo a um outro curandeiro mas foi em vão. Phanga iria esclarecer o mistério que teria causado n´fucua à Tchanaze.
Mandou chamar Mbemba e sua mãe que já se preparavam para fugir e mandou-as tomar uma solução estranha depois de a dar a um cão e a um homem voluntário, contudo, apenas Mbemba e a mãe morreram no mesmo instante.
Toda aldeia comemorou o regresso da donzela que acorrentava homens e mancebos da região, no seu coração.

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