BUSCA

Links Patrocinados



Buscar por Título
   A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z


Melancolia
()

Publicidade
Lars Von Trier é sem dúvida um dos diretores mais polêmicos de nossa geração, seja pela temática controversa de alguns de seus filmes ou por suas declarações muitas vezes ofensivas. Como não poderia deixar de ser, a metodologia usada na construção de suas narrativas pode ser interpretada sem exagero como uma crítica à forma vigente, representada principalmente pelo cinema hollywoodiano.Não que tal postura seja novidade, pois um dos maiores exemplos disso é Jean-Luc Gordard que, já na década de 1960, preocupava-se com a quebra das regras estabelecidas pela indústria mercadológica de filmes em detrimento da liberdade artística dos realizadores. O diferencial de Von Trier é que este rompimento flui naturalmente, como se ele não soubesse fazer filmes de outro jeito que não fosse com câmera na mão e com cortes bruscos, superando (não negando) valores tradicionais de montagem e enquadramento.Porém, em Melancolia (Melancholia), o diretor e roteirista parece estar muito mais sóbrio, mais calmo, mais preocupado com o vínculo entre o público e seus personagens, e entre estes e ele mesmo. Percebemos que o sofrimento de costume empregado às suas protagonistas femininas adquire neste filme um caráter mais sincero e até mais realista, contrapondo a magnitude do evento que as envolve. Torna-se inevitável fazer uma relação desta característica com os próprios dramas pessoas do cineasta, mais especificamente com sua depressão durante as filmagens de Anticristo(seu filme anterior), o que certamente influenciou no processo de escrita de Melancolia após sua recuperação.O início do filme é uma espécie de prólogo, composto por belíssimas imagens muito bem trabalhadas em câmera lenta que anunciam o clímax. A fotografia busca um campo de profundidade enorme, deixando nítido o maior número de elementos possível e aproveitando-se muito bem dos efeitos visuais para compor um cenário antes de tudo poético. A trama é dividida em duas partes, cada uma delas focando uma das protagonistas do filme, as irmãs Justine (Kirsten Dunst) e Claire (Charlotte Gainsbourg), respectivamente.A primeira parte se passa durante a festa de casamento de Justine, em que presenciamos seu distanciamento em relação a um modelo de vida com o qual não se identifica e o consequente desenvolvimento de um quadro depressivo por parte da personagem que dá título ao segmento. A figura idealizada da noiva é totalmente desconstruída por Lars Von Trier, que evidencia o descompromisso da personagem com a festa, com os convidados e com sua própria postura, desaparecendo constantemente do evento, rasgando o vestido que fica preso e urinando na grama do campo de golfe, entre outras coisas.A segunda parte se passa durante os dias que sucedem a festa de casamento, explorando as grandes preocupações de Claire com a saúde de sua irmã e com um evento que pode pôr em risco toda a vida do mundo: um planeta, antes desconhecido e agora batizado de Melancolia, que existia atrás do Sol, aproxima-se ameaçadoramente da Terra. A personagem, que antes era quem mais buscava controlar a situação na primeira parte do filme, agora é quem mais se sente vulnerável à potencial catástrofe, que extrapola o alcance de qualquer capacidade sua. As atuações são algo à parte em todas as obras de Lars Von Trier, que sempre consegue extrair excelentes interpretações de qualquer pessoa com quem trabalhe. Isso se deve em grande parte ao fato de que o diretor está muito mais interessado no drama humano do que nas próprias situações que o rodeiam, mesmo quando estas são teoricamente mais importantes do que qualquer problema cotidiano, como é o caso do filme em questão. A discussão existencial que se faz presente na segunda parte do filme nunca se sobrepõe à relação familiar entre os personagens. Porém, talvez por conhecermos esta intenção e quase obsessão de Von Trier de trabalhar minuciosamente o sofrimento de suas protagonistas é que podemos encontrar algumas pequenas falhas em Melancolia nesse sentido.Por exemplo, Justine, que até certo momento do filme estava passando por um claro episódio de grave depressão, ou até prestes a entrar num surto psicótico, a partir de determinado ponto tem uma súbita melhora sem maiores explicações, apresentando até certa serenidade, conforto em relação à possível catástrofe mundial e muito mais segurança em como lidar com essa situação do que sua irmã. O filme não deixa muito claro o intervalo de tempo desde sua preocupante condição até sua melhora, mas dificilmente tenha sido tempo o bastante para uma recuperação como a que houve.Outro ponto que poderia ter sido mais bem desenvolvido é a personagem Claire, que mesmo durante a parte do filme que foca o seu ponto de vista, ela parece ser uma coadjuvante em relação à sua irmã. As suas preocupações estão muito mais ligadas ao evento cósmico do que à sua própria vida pessoal. Dessa forma, seu arco dramático se torna comum ao de qualquer outra pessoa, e não define tanto a personagem como acontece com Justine.Entretanto, as qualidades do filme são tantas e tão brilhantemente desenvolvidas que tais descuidos são praticamente imperceptíveis para o espectador e completamente inofensivos para a lógica narrativa do filme. Lars Von Trier, caminhando sutilmente por gêneros cinematográficos tão explorados, como fez com o terror em Anticristo e faz com a ficção científica em Melancolia, acertou mais uma vez.http://contraargumento.com/melancolia/



Resumos Relacionados


- Filme: Dogville De Lars Von Trier

- Filme: Dançando No Escuro De Lars Von Trier

- Filme: Os Idiotas (dogma 2) De Lars Von Trier

- Download De Filme: Europa De Lars Von Trier

- Anti Cristo



Passei.com.br | Biografias

FACEBOOK


PUBLICIDADE




encyclopedia