A Caverna
(Horácio Costa)
A
personagem principal é Cipriano Algor, um oleiro que luta para sobreviver como
indivíduo, através do seu empenho em fazer sobreviver a sua tradicional
profissão num universo dominado pela produção em massa, que gera utensílios
feitos com plástico e transforma os objetos produzidos com técnicas
tradicionais em curiosidades que cada vez menos têm interesse para os gostos homogeneizados
do mercado.
Algor,
um viúvo recente, vive com sua filha num lugar próximo a uma grande cidade, num
ambiente que Saramago descreve como de transição entre o mundo marcado pela
produção em escala e o campo, ou melhor,
o “não-urbano”. Assim como o foco simbólico do espaço da família Algor é o
forno no qual o oleiro produz seus objetos, o foco simbólico da ordem da cidade
é o chamado “Centro”, um enorme complexo comercial-residencial. As diferentes
camadas de conflito entre estes dois focos – cada um deles apresentando a configuração
de uma “caverna”, ainda que com dimensões e materializações diversas –
refletem-se em vários níveis do relato.
O
romance abre com uma clara demonstração da ascendência do segundo sobre o
primeiro desses focos: Cipriano é avisado por um funcionário do Centro que seus
produtos já não serão mais postos à venda por terem sido considerados obsoletos.
A última oportunidade que lhe é oferecida para adequar-se aos padrões dos
consumidores tampouco tem bom resultado: substituir a cerâmica utilitária que
vem produzindo por bonecos de barro. Em resumo, não há conciliação possível
entre o universo da família Algor e os gostos dos freqüentadores do Centro. Por
outro lado, a inflexibilidade dos mecanismos de exclusão social de nossa época
é enfatizada no relato pelo fato de que a família do oleiro tem que mudar-se de
sua casa para um apartamento no mesmo Centro, devido a que o genro de Algor, o
único membro que tem um emprego formal nesta pequena coletividade, passa a ser
“guarda residente” no local. Justamente, quando a vitória, ou a imposição, do
ethos do Centro sobre os Algores parece completa, um incidente lhes revela a
extensão de sua perda de identidade, e o imperativo de uma mudança. A
insurgência contra a ordem do Centro, entretanto, mesmo que previsível, não se
dá em termos ideológicos, porém vivenciais.
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