Resumo
Rafael Abrahão de SOUSA
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Nos quatro primeiros capítulos do
livro “Estilística da língua portuguesa”, Manuel Rodrigues Lapa mostra aspectos
relacionados à estilística no vocabulário português. Em um primeiro momento,
ele pontua sobre as “Palavras reais e instrumentos gramaticais”, em que os
vocábulos são subordinados “a uma escala de valores expressivos” (p. 2),
dispensando os instrumentos gramaticais. Além disso, o autor salienta que o bom
estilo é aquele no qual “diz-se o que é preciso, na medida exata do que se
pensa e sente, com vigor e com clareza” (p. 4), pois a sobrecarga de palavras
torna-se inútil em um texto, nada acrescentando ao sentido.
Prosseguindo com o primeiro
capítulo, Lapa fala sobre “A fantasia das palavras”, tópico no qual são
ressaltadas as interpretações que os termos vocabulares podem adquirir. Nesse
aspecto, diferentes expressões são vistas de várias maneiras, dependendo do
indivíduo que as lê, estabelecendo-se em uma “atmosfera fantasiosa e
sentimental que constitui o seu valor expressivo” (p. 5). Nesse ponto, o bom
escritor é aquele que se utiliza de (e escolhe) palavras que incitam o leitor a
gerar hipóteses sobre o que está dito no texto, sugerindo diversas imagens.
A parafantasia, segundo Lapa,
ocorre quando “a fantasia transcende para além do objeto e dá representações
que pouca ou nenhuma relação tem já com ele” (p. 7). Nela, as imagens podem se
tornar “desbotadas” ou se avivar em outras formas de expressão, como as obras
de arte, nas quais são escolhidas, com sabedoria, as representações das coisas.
No tópico “Valery-Larbaud e o vocabulário português”, o autor discorre sobre as
impressões que tinha o escritor francês a respeito de algumas palavras do
léxico português, mostrando como as ilusões que se tem com os vocábulos de
outros países, que não sejam os de origem, podem influenciar na interpretação.
As palavras são agradáveis para quem é estrangeiro, em que as imagens são sentidas
e pensadas de maneiras diferentes do que acontece com os nativos.
No segundo capítulo, intitulado
“O vocabulário português (II)”, Lapa salienta a “Pluralidade dos meios de
expressão”, no qual “quem escreve e quem fala tem à sua disposição, para
traduzir exatamente o pensamento, séries de palavras, ligadas por um sentido
comum, que acodem ao espírito, para as necessidades de expressão” (p. 17).
Logo, a seleção dos termos depende do ajuste que se faz do grupo vocabular à(s)
ideia(s) que se pretende(m) exprimir. Em seguida, no tópico “Há ou não
sinônimos?”, Lapa discute sobre a existência de palavras com sentidos semelhantes,
dizendo que esta relação é impossível pelo fato de não haver equivalência entre
os termos. Prosseguindo com o tópico, em “As formas divergentes”, o autor as
conceitua como “palavras oriundas de um mesmo termo (...) que se diferençaram
depois, por motivo da evolução fonética” (p. 18). Nessa questão, Lapa mostra
que os termos vocabulares podem se diferenciar minimamente pelo acréscimo ou
supressão de letras, no que diz respeito à sua significação, e o desvio
semântico é responsável pelas aquisições de sentido de uma palavra em contextos
diferentes, devendo-se escolher os “termos justos” para cada situação.
Iniciando o terceiro capítulo,
com o tópico “História e fisionomia do vocabulário português”, Lapa faz um
apanhado histórico da língua portuguesa, relatando que a língua portuguesa
comum (oral) origina-se do latim popular, enquanto que a linguagem do português
mais rebuscado (escrita) tem como procedência o latim literário. Como
consequência disso, o lusitano passou a escrever de uma forma e a falar de uma
maneira diferente. Com seguidas invasões, Portugal passou a ser influenciada em
sua língua por termos estrangeiros, enriquecendo seu vocabulário. A seguir,
continuando com a ideia da influência na língua, o autor fala sobre “O
estrangeirismo; os galicismos”, em que termos ou locuções afrancesadas são
comumente vistas em nosso idioma, marcando e adequando nossos modos de pensar e
de agir às ideias francófonas. Essa adaptação se deve ao fato de serem
apresentadas novas ideias que não eram usadas antes no país, sendo que os novos
vocábulos são aportuguesados. Lapa considera dos casos a serem discutidos: a
adoção de vocábulos e o emprego de construções ou de grupos fraseológicos que
contrariam a natureza da língua (p. 42). No primeiro, há a permanência ou a
repulsão dos termos de acordo com seu uso e no segundo, por ser um decalque da
construção estrangeira, podem destoar a forma de se pensar portuguesmente,
negando a própria cultura.
Terminando com o tema
“vocabulário português”, o último capítulo inicia com “O jogo das palavras”, no
qual o ser pensante pode executar inconscientemente uma brincadeira com as
palavras. Além disso, o escritor pode ludibriar o seu leitor propositadamente,
por meio de trocadilhos, arcadismos, etimologias, sentidos diferentes, falsas
composições, derivados “mentirosos”, confronto entre significações,
aproximações semânticas ou por equívocos fonéticos, que visam “dar vivo realce
ao pensamento”. O autor lembra ainda que no “bom estilo deverá partir-se do
pensamento para as palavras e não das palavras para o pensamento” (p. 55), pois
essa ornamentação do texto depende, principalmente, da aceitação de quem lê os
escritos. Dando sequência ao capítulo final sobre o vocabulário português, temos o tópico
“a gíria”, a qual é “o conjunto de expressões de tipo popular, usuais na
linguagem corrente e despretensiosa, e sobretudo frequentes nas esferas menos
cultas da população” (p. 58). O autor observa que o uso das gírias possui
diferentes graus, sendo adequado à linguagem falada, saltitante e dinâmica. O
calão, modalidade linguística da gíria, é aquele que alcança meios ditos
“especiais”, abrangendo determinados grupos sociais de uma maneira mais
reservada, mais secreta.
De fato, a escolha lexical
depende do efeito de sentido que se quer dar a uma determinada situação, sendo
o estilo algo particular que reflete as ideias e as impressões que cada pessoa
tem sobre o mundo. O correto uso das palavras, adequando-as de acordo com as
exigências que cada circunstância impõe, constitui fator preponderante para se comunicar
bem em diferentes esferas sociais.