Suporte social e respostas à terceira idade
(Diversos)
Segundo a Constituição da República Portuguesa, artigo 72.º, “as pessoas idosas têm direito à segurança económica e a condições de habitação e convívio familiar e comunitário que respeitem a sua autonomia pessoal, e evitem e superem o isolamento ou marginalização social.”O isolamento revela ser uma forma de exclusão. Este conceito é definido por Saraiva (1999), citado por Paiva e Yamamoto (2010, p. 153) como “o processo que envolve o homem por inteiro e suas relações com os outros. Não tem uma única falha do sistema, devendo ser combatida como algo que perturba a ordem social, ao contrário, ele é produto do funcionamento do sistema.”Seguindo a definição de saúde da Organização Mundial de Saúde “bem-estar físico, mental e social”, intervenções que privilegiem um ambiente de apoio e relações saudáveis são importantes para todos os indivíduos. Particularmente no que respeita à pessoa idosa a “abordagem do envelhecimento ativo baseia-se no reconhecimento dos direitos humanos daspessoas mais velhas e nos princípios de independência, participação [em variados aspetos sociais, culturais, económicos e políticos e nos vários campos doméstico, familiar e comunitário], dignidade, assistência e autorrealização (Organização Mundial de Saúde, 2005, p. 13). Falamos aqui de ambientes físicos e sociais favoráveis ao bem-estar da pessoa idosa e tal conceção pressupõe a noção de – empowerment, “entendido como processo de capacitação dos indivíduos e comunidades para assumirem maior controlo sobre fatores pessoais, socioeconómicos e ambientais que afetam asaúde” (Sícoli & Nascimento, 2003, p. 108). Segundo Rappaport, citado por Ornelas (2008, p. 47) o empowerment consiste em “identificar, facilitar ou criar contextos em que as pessoas isoladas ou silenciadas possam ser compreendidas, ter uma voz e influência sobre as decisões que lhes dizem diretamente respeito ou que, de algum modo, afetam as suas vidas.”O conceito de suporte social não é uno, havendo abordagens de diferentes autores; no entanto, assume como funções a promoção da autoestima, do status, da informação, da assistência, das relações de amizade e da satisfação (Ornelas, 2008). Barrera, referenciado por Ornelas (2008) refere-se a três categorias do suporte social: o envolvimento social, o suporte social percecionado e o suporte ativo. Segundo Shumaker e Brownwell, citador por Ornelas (2008) o suporte social “emerge como uma troca de recursos entre, pelo menos, duas pessoas, sendo percecionado pelo dador ou pelo recetor como um contributo intencional para o bem-estar deste último”; esta visão atenta ao papel da perceção do suporte social.Ao abordarmos a necessidade de uma coesa rede de suporte social emergem vários conceitos que devemos salientar; são eles: interação, socialização, confiança, assistência, aconselhamento (Nunes, citado por Martins, [s.d]). Segundo Vaz Serra (citado por Martins, [s.d], p. 129) o conceito de rede social representa “a quantidade e coesão das relações sociaisque rodeiam de um modo dinâmico um indivíduo”, permitindo satisfazer necessidades sociais como o afeto, a pertença, a identidade ou a segurança.Existem diversas respostas formais de apoio à população adulta, das quais destacamos as que são dirigidas à terceira idade (excluindo benefícios sociais de caráter económico-financeiro): serviço de apoio domiciliário, centro de convívio, centro de dia, centro de noite, acolhimento familiar, residência e lar. Ainda mais recentemente podemos observar a emergência de escolas/cursos de formação e ocupação para esta faixa populacional. No entanto, tal como referido por Martins e Santos ([s.d.]) muitos idosos, por razões económicas, mas não só, não têm a possibilidade de aceder a estas respostas, as quais, embora parecendo muitas, continuam no entanto a ser, na realidade, ainda poucas para melhorar a vida do idoso” (Martins & Santos, [s.d.], p. 5). As autoras entendem então que deverá a aposta ser na prevenção da exclusão, nomeadamente através da “solidariedade familiar e comunitária” (Idem, p. 7).Nesta lógica, a atuação da Psicologia Comunitária centra-se na promoção das potencialidades do sujeito no meio em que se insere, estimulando a sua organização, participação e emancipação (Paiva & Yamamoto, 2010). Tal intervenção sustenta-se em aspetos preventivos, educativos e promocionais, visando “reduzir ou prevenir situações de vulnerabilidade, melhorando condições humanas, e, para isso, requer uma abordagem interdisciplinar” (Idem, p. 155). Como refere Sarriera (2004), citado por Paiva e Yamamoto (2010, p. 155) a intervenção psicossocial é “um trabalho de relação direta entre facilitador-interventor com o grupo-alvo, que incide em transformações nas histórias, ou melhor, na vida quotidiana, espaço onde as histórias pessoais, grupais ou coletivas ocorrem.”Para que o envelhecimento seja uma experiência positiva, ele deve ser acompanhado de oportunidades aos vários níveis, as quais devem permitir a saúde, a participação e a segurança, numa lógica de “envelhecimento ativo”. Neste sentido, fatores relacionados com um adequado apoio e existência de laços sociais têm uma grande importância na promoção dasaúde e do bem-estar geral do indivíduo até ao máximo do seu potencial.Referências bibliográficas- Lei Constitucional n.º 1/2005, de 12 de agosto. Aprova a sétima revisão constitucional.- Martins, R. M. L. ([s.d.]). A relevância do apoio social na velhice. Consultado a 13 de outubro de 2011 em http://www.ipv.pt/millenium/millenium31/9.pdf.- Martins, R. M. L., & Santos, A. C. A. ([s.d.]). Ser idoso hoje. Consultado a 15 de outubro de 2011 em http://www.ipv.pt/millenium/Millenium35/8.pdf.- Organização Mundial de Saúde (2005). Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde.- Ornelas, J. (2008). Psicologia Comunitária. Lisboa: Fim deSéculo.- Paiva, I. L., & Yamamoto, O. H. (2010). Formação e prática comunitária do psicólogono âmbito do “terceiro setor”. Estudos de Psicologia, 15(2), 153-160.- Sícoli, J. L., & Nascimento, P. R. (2003). Promoção de saúde: conceções, princípiose operacionalização. Interface – Comunic, Saúde, Educ, 7(12), 101-122.
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