Pluralismo ou culto às diferenças
(Jorge Ribeiro)
PLURALISMO
OU CULTO DAS DIFERENÇAS?
As
diferenças são acolhidas e respeitadas ou apenas suportadas? Na
sociedade que estamos inseridos, as pessoas acabam priorizando as
suas individualidades e deixando de lado o amor e respeito aos
semelhantes, numa espécie de infirenteismo soicial.
É
certo que os indivíduos possuem maneiras de pensar, falar e agir,
conforme acreditam estarem certas e como são educadas, tudo isso
desde que não prejudiquem a comunidade. Também é certo e justo que
os seres humanos recebam educações diferentes, pois vivem em
condições
e mundos diversos; por tal motivo, cada pessoa tem as suas
particularidades e percebem diversamente a realidade. Deste axioma
parece claro que não devemos discriminar as diferenças, mas sim
superá-las e integrá-las.
Entretanto,
sabe-se que nem todos conseguem conviver com as diferenças
individuais e culturais, assim se tem uma tendência
a suprir as diferenças ou emarginar os sujeitos portadores das
mesmas.
Ser diferente, neste sentido já não parece tão encantador e pode
ser causa de dificuldade e de risco. No nosso mundo capitalista, os
indivíduos acabam se preocupando mais em ter, em aparecer e muitos
se esquecem de ser aquilo que realmente é e, de conseqüência, não
aproveitando as oportunidades de ser um ser-humano determinado,
realizado e integrado.
Tal
comportamento causa, sem dúvidas,
muitas diferenças sociais e também o afastamento dos indivíduos de
um relacionamento espontâneo
e de confiança. Nasce uma perplexidade e uma rejeição em confronto
ao outro. O meio de superar é a pratica da tolerância e do
acolhimento, ou seja, é preciso
aceitar as pessoas exatamente como elas são, com as suas
particularidades, ainda que certos comportamentos e atitudes precisem
ser adequados ao ambiente que um mesmo se encontra. Muitas vezes é o
medo do diferente que provoca rejeição,
preconceito, racismo e intolerâncias.
O
diverso, o estranho, o desconhecido, o outro é visto como bárbaro
ou como território a ser descoberto? É conhecido de todos que o
medo é um sentimento inerente à natureza humana e, sobretudo, o
medo do desconhecido, do diverso, do estranho. Hoje em dia tem-se a
impressão de que podemos controlar tudo e assim se experimenta uma
falsa ideia que não existe medos ou barreiras, quando, na verdade,
estamos a mercê da existência e somos aterrorizados quando esse
controle foge às nossas vistas, dado que se pode melhor o ritmo e a
qualidade de vida, superar fronteiras e prejuizos, mas não podemos
controlar nossa finitude e o natural instinto de proteção.
Viver
com outro e, portanto, com os estrangeiros – que é o fundamento
demográfico e social da exposição às diferenças e a qualquer
espécie de alteridade – não é de forma alguma um fato novo na
história moderna. Mas antes a idéia era, grosso modo, a de que
qualquer um que fosse estranho, estrangeiro, diverso de ti perderia
mais cedo ou mais tarde o seu caráter de estrangeiro, como uma fruta
que é selvagem antes de conhecer o seu nome e os seus nutrientes. A
política dominante em relação aos estrangeiros, durante a maior
parte da história moderna, foi uma política de assimilação:
“Vocês estão aqui, estão fisicamente vizinhos; tornemo-nos,
pois, vizinhos também espiritualmente, mentalmente, eticamente”, o
que quer dizer aceitar os mesmos valores universais, onde, porém,
com “universais”, sempre eram entendidos os “nossos” valores,
ou seja, iguais mas separados.
Em
grupos de minorias, seja de raças, de cultura, de religião
ou de gênero,
há um forte apelo ao culto das diferenças, isto é, de um lado se
faz valer os próprios direitos e espaços na sociedade e nos
organismos, mas também, em muitos casos, busca-se reprimir ou negar
os direitos e as conquistas dos outros, quero dizer que não se pode
levantar uma bandeira de justiça e de igualdade se isso não vale
para todos, não se pode também em nome de prejuizos históricos
ser intolerante com quem tem causado sofrimento a determinada classe
ou condição.
Assim, o multiculturalismo enquanto movimento reivindicatório de
grupos e identidades que lutam por direitos e reconhecimento também
tem seus limites, suas contradições. A principal bandeira do
multiculturalismo: a diferença, ou o direito à diferença, é ainda
mais complexa e difusa, enquanto pauta política, do que se pode
perceber num primeiro momento ou se vive uma ditadura ao contrário,
o escravo se torna algoz para usar uma terminologia social.
O
pluralismo então se afirma como capacidade de acolhimento e de
respeito pelas diferenças, sem a pretensão
de transformar as diferenças em normativas endeusadas e
obrigatórias,
porque se sabe que uma razão
que busque se impor com a força perde a sua mesma razão,
mas não se deve somente tolerar o diferente como exemplar raro ou
com animal de espetáculo
ou como convivência forçada, ou seja, reconhecer as diferenças e
tentar uma complementariedade, pois ter
medo da tolerância é como ter medo da liberdade. A liberdade exige
tolerância e o pluralismo exige uma identidade de si e consciência
da própria condição
existencial. O pluralismo muito mais que permitir as diferentes
manifestações
do que seja diverso ou desconhecido é capacidade de dialogar e de
conviver harmoniosamente sem se perder e sem sufocar o outro, pois é
completar o próprio retrato com as luzes que vêm
de todas as direções.
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