Frost/Nixon
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Frost/Nixon traz o relato da histórica entrevista do ex-presidente dos EUA Richard Nixon a David Frost, famoso apresentador, em um programa gravado cujo maior interesse, de ambos os envolvidos - vale ressaltar - era a busca por maior visibilidade junto à mídia e à opinião pública. Após o escândalo de Watergate, que forçou Nixon a renunciar, e, em seguida, submeter-se a um intervalo de três anos sem declarações públicas, Frost vislumbrou a possibilidade de resgatar sua popularidade junto à TV norte-americana. A primeira (e até hoje única) renúncia de um presidente dos EUA já seria motivo suficiente, mas a personalidade forte do ex-presidente trazia um ingrediente a mais, ele que passou a vida inteira tentando se afirmar politicamente e agora se encontrava no ostracismo. O conflito básico do filme fica estabelecido, tendo, de um lado, Nixon aspirando voltar à cena política e, do outro, Frost, na busca por mais fama e melhores contratos nas emissoras de TV. Aqui, na entrevista, o sucesso no debate só poderia caber a um dos dois, de forma que ou Nixon se explicava convincentemente, ou Frost conseguia dobrar a relutância de Nixon em admitir sua culpa no escândalo. Mas antes de tratarmos propriamente do filme, devemos mencionar rapidamente o que entrou para história como o escândalo de Watergate. Em suma, a presidência detinha poderes “escuros”, poderes de interferência e pressão sobre várias personalidades, através de um secreto esquema de escutas, nada muito diferente, infelizmente, do que ainda vemos atualmente. Para desassossego do então presidente, um delator (o famoso e desconhecido até hoje de codinome “garganta profunda”) entregou algumas das fitas gravadas à imprensa. Essas fitas continham, inclusive, algumas instruções pessoais de Nixon, que, pego em flagrante e com escassas possibilidades na votação do processo de impeachment no Congresso, resolveu renunciar e acomodar seu vice no poder, Gerald Ford. Uma vez na presidência, e nada estranhamente, Ford concedeu o perdão oficial a Nixon, isentando-o de qualquer processo.Exatamente dentro desse clima de impunidade, criado com a falta de julgamento que se seguiu ao escândalo, é que foi imaginada a entrevista por David Frost, então um apresentador de programas populares sem qualquer viés político, desesperado por voltar logo ao sucesso de tempos anteriores da sua carreira. Frost via, muito acertadamente, a possibilidade única que aquela entrevista representava e, ainda que ele não fosse a pessoa mais óbvia para a tarefa, ele, por outro lado, “sabia tudo de televisão”, como a ele bem se refere seu assistente Bob Zelnick, interpretado por Oliver Platt. Para a posteridade, essa entrevista acabou se convertendo em uma espécie de “julgamento tardio”, com perguntas célebres, e irrespondíveis, como: (Frost falando com o ex-presidente): “Porque o senhor não queimou as fitas quando teve a chance?” Assim, Frost parte em uma cruzada para juntar interessados em participar do projeto, incluindo patrocinadores. A princípio, a idéia não é bem vista, dada a repulsa que o Watergate causou na mente dos americanos, que viam Nixon como a personificação do mal, e Frost acaba por colocar dinheiro do próprio bolso para conseguir levar adiante seu propósito. Não precisamos entrar no mérito do claro ilusionismo político por trás dessa manobra, pois é muito mais fácil apontar um presidente canhestro e impopular como bode expiatório do que tratar as raízes de problemas verdadeiramente importantes, como a contemporânea Guerra do Vietnã, por exemplo. Logo vem à mente a sarcástica, porém sábia, frase de Douglas Adams: “O Presidente não serve para governar, serve para desviar a atenção de quem realmente governa”. Tenso desde o início, o filme acerta em cheio por nos colocar diante de um dos maiores dilemas de então, cuja importância continua válida: Qual o verdadeiro papel do governo? Para Nixon, o governo estava acima de tudo, até da lei, a ponto dele afirmar categoricamente que, a propósito das escutas ilegais que ele endossara: “... se o presidente faz, então não é ilegal”.Contando com atuações impressionantes, cuja verossimilhança com as pessoas reais beira a perfeição, o filme merece o destaque que recebeu e é uma boa pedida para quem quer entender um pouco mais da conturbada política estadunidense.
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