Resumo de Jardim das Oliveiras / São Bento e Conjunto do Cidadão -

A começar pelo Jardim das Oliveiras, onde esse bairro apresenta contrastes bastante interessantes, por estar à margem da rodovia BR-174 e ter dentro de um mesmo espaço a ordem da base aérea e do pequeno conjunto de casas situado logo à direita da sua entrada, contrastando com a significativa desordem da ocupação irregular apenas poucos metros mais adiante. Essa primeira parte, inclusive, desfruta de um ar bucólico pouco comum nos grandes centros, já que suas casas não dispõem de muros ou grades. Já a parte das ocupações irregulares em muito se assemelha aos demais aglomerados de exclusão do país, fazendo-nos pensar que a pobreza, infelizmente, é niveladora.Inexiste, neste segundo espaço, rede de água e esgoto, além de local adequado para dispor do lixo, o que não impede que se verifique, aqui e acolá, a bandeira do Brasil e do Movimento Sem Terra (MST), numa tentativa, quiçá, de lograr a inserção na sociedade.Um conceito-chave da geografia fica evidente nesse espaço: o território. A despeito das condições precárias, todos os “lotes” estavam delimitados por cercas, sendo que alguns até dispunham de carros ou motos, denotam uma condição financeira superior à que um poderia esperar. É público e notório a falta de investimento sistemático no combate ao déficit habitacional no Brasil, e um dos efeitos colaterais que se pode apontar é justamente essa “indústria da favelização”, no qual certos espaços são marginalizados enquanto outros passam por melhorias e se valorizam, levando seus moradores a venderem suas casas e migrarem para novas frentes de ocupação irregular. Em outras palavras, ao não haver controle dos eventuais benefícios (e beneficiários), em conjunto com outras políticas públicas como saúde, educação, segurança pública e emprego, a situação só tende a permanecer ruim, posto que não há incentivo para uma melhora definitiva. Espaços em condições semelhantes ao Jardim das Oliveiras já foram aproveitados em Boa Vista, a partir da sua definição como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) e dentro do escopo da lei 10. 257, como é o caso do São Bento. Aqui, no São Bento (1ª ZEIS de Boa Vista), vemos um avançado processo de urbanização, com arruamento bem feito, água, luz, telefone e uma praça de uso coletivo recém entregue à população. Sua localização é privilegiada, pois dista poucos quilômetros do centro da cidade a partir de uma via de boa trafegabilidade. Falando dos temas da geografia mais especificamente, nota-se um confronto entre as formas e as funções deste lugar, com clara acepção afetiva, em particular para os que o conheceram antes da reestruturação. Cabe falar, por certo, como quereria Milton Santos, em uma totalidade fragmentária, ao abraçar o novo e o velho em um mesmo espaço, ou, nas suas palavras trata-se de “uma acumulação desigual de tempos”. Por último, tivemos a oportunidade de passar rapidamente pelo Conjunto do Cidadão, nas cercanias da franja urbana da capital. Este bairro foi construído em regime de mutirão há alguns anos e sua expansão e aproveitamento encontra-se limitado pelas áreas de proteção ambiental que a circundam. À semelhança do São Bento, e anos à frente no quesito temporal, vemos um reordenamento do espaço para as novas demandas, contando, por exemplo, com uma área de comércio muito mais abrangente. Não por acaso, nosso grupo chegou a ser abordado por um morador insatisfeito, que acreditava que nós éramos ligados a algum grupo da prefeitura ou do governo do Estado, dizendo ele que “aqui só vemos promessas”. À parte os exageros deste cidadão, que possivelmente nem estava em seu juízo perfeito, a realidade mostra que o mau uso do espaço traz consequências duradouras.

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