Resumo de Following -

Sinopse. Aos vinte e poucos anos, Bill é um solitário e entediado
candidato a escritor que, na busca por inspiração para seus personagens, segue
desconhecidos pelas ruas de Londres, aleatoriamente, a fim de conhecer um pouco
de suas vidas. A curiosidade acaba tornando-se hobby, e então vício, até Bill
conhecer Cobb, rapaz com costumes semelhantes que o levará a invadir
apartamentos na ausência de seus proprietários, para furtar pequenos objetos
pessoais. Fascinado com a nova atividade, Bill irá se envolver com a dona de um
dos apartamentos invadidos, sem saber que Cobb não é o amigo que ele imagina.

Comentário. A vida em sociedade, o caos urbano, o isolamento,
proporciona a formação de todo tipo de maluquice. Narrador de sua história,
Bill descreve bem o sentimento de “ser sombra”, de olhar repetidamente a
multidão e começar a distinguir os indivíduos no meio da massa humana, e querer
saber quem são, o que fazem. “Quando você
observa o comportamento de alguém, você se faz mil perguntas. Eu fazia, e
queria saber as respostas”, diz ele.

O apetite voyeurístico, no
entanto, não se satisfaz com o olhar à distância, e é na ousadia de Cobb que
Bill vai encontrar a satisfação do vício. Juntos, entram em apartamentos e
descobrem como são as pessoas que os habitam. Suas ocupações, seus sentimentos,
suas histórias, está tudo ali: na arrumação (ou desarrumação) do ambiente, nos
livros e CDs encontrados na estante, nas fotos guardadas. Cada detalhe é uma
nova informação na construção do pequeno universo da cada ser anônimo cuja vida
os dois estão dissecando.

Com Cobb, no entanto, a
participação deixa de ser passiva. Ele não quer apenas conhecer. Quer que os
donos dos apartamentos saibam que ele esteve ali, descobrindo segredos. Por
isso faz questão de desarrumar objetos, deixar gavetas abertas e furtar
pertences de valor sentimental. Porque enquanto está tirando, ele está “mostrando a eles o que tinham”. Cobb
invade, disseca, descobre segredos, entra, anonimamente, na casa e na cabeça
das pessoas. É um sentimento de poder acima de qualquer manifestação literária,
o que fascina Bill a ponto de cegá-lo, não permitindo que ele veja onde está se
metendo.

Foi com este Following (Following, Reino Unido, 1998) que o cineasta Christopher Nolan deu origem a uma interessante carreira no
cinema. Seus filmes abordam geralmente personagens tomados por alguma deformidade
comportamental que percorrem caminhos tortuosos para cumprir o seu destino.
Seja no voyeurismo de Bill, na obsessão em descobrir eternamente o mesmo fato
em Amnésia, na incapacidade de dormir
em Insônia, na paranóia vigilante dos
três Batman ou na manipulação dos
sonhos em A Origem, há sempre a
mente em conflito num cenário urbano. E neste cenário, embora muitas vezes a
aparência seja de normalidade e organização, há sempre o caos. Como se a
intricada engrenagem social, por mais que pareça levar à ordem, tenha como
última instância o seu oposto.

A narrativa segue esse “caos
organizado”, avançando e recuando no tempo, fornecendo informações e
proporcionando dúvidas, até surpreender o espectador com a revelação final.
Autor do roteiro e da bela fotografia (um granulado preto e branco, com direito
a câmera trêmula na mão e iluminação estourada), Nolan conduz a história com
segurança, auxiliado por sutil e sensível trilha sonora de David Julyan, e pela
ótima trinca de protagonistas, com destaque para Alex Haw, o Cobb. A produção,
de baixo orçamento, foi realizada durante um ano nos finais de semana e
utilizando as casas de amigos do diretor como locações. O resultado foi um curioso filme noir, mais interessante em sua primeira (e psicológica) metade, com um
tema que, nas mãos de outro diretor, poderia ser melhor aproveitado. Em Nolan,
parece sempre haver a necessidade de colocar um crime (aqui) ou excessivas
cenas de ação (como em A Origem), como se a
ideia inicial não lhe parecesse suficiente para agradar o grande público.

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