As Esganadas
(Jô Soares)
Polícia
caça facínora das Esganadas
Assassino
prefere as gordinhas e desafia as autoridades sem deixar rastros que possam
identifica-lo.
Oh! Rechonchudas deste
glorioso e futurístico País esplendoroso! Cuidado! Um demente anda por nossas
ruas, gozando de todas as suas liberdades e direitos recém-adquiridos no novo
governo popular, feito por e para o povo. Este doente circula entre nós, à
espreita das filhas mais belas, importantes e cheias de nosso Brasil. O animal
ataca as mulheres com excesso de gostosura, e troça de nossas caras, expondo-as
em via pública, completamente nuas, mortas e, num chiste sem graça, esganadas
de tanto comer.
Na manhã de ontem, quatro
jovens gordinhas foram encontradas numa praça do Distrito Federal, despidas e
mortas, acompanhadas de instrumentos musicais. Todas tiveram o triste e
repugnante fim por esganadura, provocada por excessos na ingestão das mais
deliciosas sobremesas portuguesas.
Nossa Polícia está altamente
empenhada em encontrar o maníaco, antes que tenha tempo para vitimar mais
moçoilas de nossa sociedade nacionalista, utilizando todas as suas mentes mais
brilhantes e os melhores equipamentos tecnológicos, recém-incorporados aos
trabalhos investigativos para nos garantir a nossa preciosa segurança nacional.
Entretanto, a tarefa do
ilustríssimo delegado Luiz Mello Noronha - designado para resolver o caso em tempo
recorde -, apresenta-se de forma hercúlea, pois o doente não deixa rastros que
possam levar a Polícia a descobrir seu paradeiro e identificação.
O “Caso das Esganadas” foi
posto como prioridade para a Polícia e o grande chefe de Polícia, Filinto
Müller, a conceder poderes ilimitados, à equipe que caça o assassino, para
trancafiar este facínora. O delegado Noronha já se utiliza destes poderes e
nomeou o melhor detetive português, o senhor Tobias Esteves, como consultor e
investigador especial.
O delegado Mello Noronha e o
bonachão investigador português, Tobias Esteves, se envolvem numa trama bem
humorada, cheia de ironias e rodeada dos fatos reais curiosos e históricos, que
cercavam o Rio de Janeiro do início do século XX, o Estado Novo de Getúlio
Vargas e a movimentada vida da sociedade brasileira.
Este é o enredo do novo
livro de Jô Soares, As Esganadas, lançado pela Companhia das Letras. Na
história envolvente e, em muitas passagens, hilária, um assassino aterroriza o
cotidiano carioca, causando preocupação, principalmente, às mulheres gordas,
mortas sufocadas por apetitosas guloseimas da culinária portuguesa, tornando a
mistura de narrativas – ora utilizando-se da métrica do jornalismo impresso da
época, ora através da descrição radiofônica de Rodolpho d’Alencastro da estação
PRG-3 Tupi do Rio de Janeiro.
Nesta nova publicação, Jô
Soares reafirma o estilo que tornou seus últimos livros best-sellers, como “O
Homem que Matou Getúlio Vargas”, “O Xangô de Baker Street” e “Assassinatos na
Academia Brasileira de Letras”. Misturando seus personagens primorosos e
engraçados a fatos históricos, num belo trabalho literário e de pesquisa, o
humorista apresenta um pouco do que era a alta sociedade carioca e seu
cotidiano.
Alguns personagens roubam a cena, como o
escrachado e culto dono de uma rede de estabelecimentos especializados na
culinária portuguesa, Tobias Esteves, que fora afastado da polícia lisboeta
após oito anos de serviço e vem para o Brasil ajudar um tio na panificação
lusitana. Numa portuguesa lógica sherlockiana, o detetive ajudará nas
investigações, em busca do assassino de gordas, utilizando o seu faro
investigativo e o conhecimento dos regalos lusos, fazendo deste, sem dúvida, um
livro emocionante e de dar água na boca.
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