A Moça Tecelã - Doze Reis
(Marina Colassanti)
RESENHADO CONTO “A MOÇA TECELÔ de MARINA COLASSANTI Por: Lu de Freitas. Pode-se dizer que o conto “A moça tecelã” de Marina Colassanti faz um retrato fiel à grande maioria das mulheresda atual sociedade. Logo no inicio do conto (4º e 5º pfos) o texto diz: “Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindopeixe (...). E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila. Tecer era tudo o que fazia.Tecer era tudo o que queria fazer”. Esta capacidade de se auto provir demonstra a independência financeira e moral que a mulher conquistou perante a sociedade. Veja que a Moça Tecelã vive sozinha em sua própria casa e angaria seu próprio sustento com total tranquilidade. Ou seja, não precisa dar explicações a ninguém por ser “dona do próprio nariz”. No entanto, apesar da mulher ter conquistado seu valor social e sua independência moral e financeira, continua emocionalmente dependente do homem. Como pode ser visto no pfo 6: “Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado”. Convém ressaltar que se trata de uma dependência emocional, não porque ela sentisse necessidade de relacionar-se com homens. Mas, ao contrário, a Moça Tecelã sente necessidade não de um amigo, amante ou companheiro, e sim, de um marido, que é uma convenção social. E é neste paradigma que a Moça Tecelã deposita confiança e fomenta seus anseios. Nos pfos seguintes o texto mostra o quanto a Moça Tecelã escravizou-se no intuito de construir um amor que só existia em seus sonhos: “Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria paraaumentar ainda mais a sua felicidade”. E, por falar em sonhos, o texto também revela o quanto a mulher ainda tem uma visão estereotipada do amor e do amado: “E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado”. Ainda à procura do “príncipe encantado”, que, por sua vez, mantém seu encanto só até o momento em que passa a fazer parte de sua vida. Uma vez “dono e senhor” de sua mulher, este se sente à vontade para desfazer-se da imagem de príncipe encantado: “Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida”. A partir de então a Moça Tecelã vive em função de seu homem. Em função de seus desejos e só a intensidade da dor e da solidão, com o passar do tempo, permitem que ela admita a sua infelicidade e compreenda que a natureza do seu relacionamento é estruturada em duas diferentes razões: de seu lado, amor, necessidade de ter e compartilhar afeto; do lado dele, comodidade, ter alguém que torne seu cotidiano mais prático: “Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar”. O texto também chama a atenção para o cuidado possessivo em que a mulher submete-se ao homem: “E entretantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre. — É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!” E no desfecho do texto é realçado que o poder de livrar-se deste sofrimento, deste tipo de relacionamento que escraviza a mulher, está todo e somente nas mãos da própria mulher: “Desta vez não precisou escolher linha nenhuma.Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas quecontinha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela”. O texto mostra que quando a mulher se decide ela pode desfazer-se dos problemas e recomeçar: “Então, comose ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte".fim
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