Religião para ateus
(Alain de Botton)
Uma das perdas que a sociedade moderna sente mais profundamente, é a de uma sensação de comunidade. Temos tendência para imaginar que existiu em tempos um nível de boa vizinhabça que foi substituido pela desumanidade anonimidade, um estado em que as pessoas estabelecem contacto umas com as outras acima de tudo com objectivos limitados e individualistas: o lucro financeiro, a promoção social ou o amor romântico.Alguma dessa nostalgia centra-se na nossa relutância em darmos caridosamente a pessoas que precisam, mas também estaremos provavelmente preocupados com sintomas mais mesquinhos de separação social, com a nossa incapacidade de nos cumprimentarmos na rua ou ajudarmos os vizinhos mais idosos a transportarem as compras. como vivemos em cidades gigantescas, temos tendência a ficar aprisionados em guetos tribais baseados em educação, classe e profissão.Na tentativa de compreender o que pode ter corroído a nossa noção de comunidade, tem sido tradicionalmente atribuir um papel importante à privatização da crença religiosa que ocorreu na Europa e nos Estados Unidos no século XIX. Os historiadores sugeriram que começámos a ignirar os nossos vizinhos aproximadamente ao mesmo tempo que deixámos de honrar colectivamente os nossos deuses. Se examinarmos mais minuciosamente as causas da alienação moderna, alguma da nossa sensação de solidão resume-se a simples números. Os milhares de milhões de pessoas que vivem no planeta, tornam a ideia de falar com um desconhecido mais ameaçadora do que era em dias mais esparsos, porque a sociabilidade parece ser proporcionalmente inversa à densidade demográfica. Regra geral, só falamos de bom grado com pessoas quando também temos a opção de as evitar completamente.No passado conheciamos os outros porque não tinhamos outra alternativa a não ser pedir-lhes ajuda, e por por sua vez eles também nos pediam ajuda a nós. A caridade fazia parte integral da vida pré-moderna. Era impossivel evitarmos momentos em que tinhamos de pedir dinheiro a um quase desconhecido ou dá-lo a um mendigo sem eira nem beira num mundo sem um sistema de cuidados de saúde, subsídios sociais, habitação social ou crédito de consumo.
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