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Corações Sujos
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Sinopse e comentário. Drama histórico. Fim da Segunda Guerra
Mundial. Enquanto no Japão o imperador Hiroito se rendia diante dos Aliados,
nas colônias japonesas no Brasil tal fato era não apenas ignorado, mas negado
por grande parte dos imigrantes. Numa dessas colônias, onde agrupamentos e
manifestações são proibidos, oficiais da polícia invadem e com truculência
desmantelam uma reunião, humilhando seus membros e desrespeitando suas
tradições. Uma fracassada tentativa de ataque à delegacia, para matar o oficial
responsável pela invasão, fará com que o Coronel Watanabe se volte contra os
membros de sua própria comunidade que, por acreditarem que o Japão foi mesmo
derrotado, devem ser considerados traidores e punidos com a morte. Assim,
Watanabe convence e incumbe o pacífico fotógrafo Takahashi a, como seu braço
armado, vingar com sangue a honra do império japonês.



Possuíam o “coração sujo” aqueles
que, questionando a supremacia do império japonês e o caráter sagrado de seu
imperador, ousavam acreditar na “mentira” da rendição. Tal pensamento,
intolerante e radical ao extremo, não era incomum entre as comunidades
japonesas do Brasil, e levaram à morte dezenas de milhares de imigrantes. Corações Sujos (Brasil, 2011), o filme,
procura assim abordar as múltiplas faces do autoritarismo e da manipulação que
levam as pessoas à obediência cega a valores como honra e dever sagrado.
Valores utilizados como desculpas para a manutenção do poder, num processo que
não terminou com o fim da Segunda Guerra e pode ser encontrado ainda em nossos
dias.



O conflito entre o dever para com
a pátria, as obrigações familiares e a própria consciência é ilustrado na
trajetória do protagonista Takahashi, onde alternam-se momentos de delicadeza
com tensão e violência. A vida simples, mas feliz, compõe-se do amor pela
esposa Miyuki, que dá aulas na escola clandestina, e do trabalho bem visto pela
população local. Convocado por Watanabe, a paz é substituída gradativamente por
sangue, morte e dor. Humilde, o fotógrafo admite não ter o conhecimento de
Watanabe, que foi coronel do império, e obedece-lhe sem questionamentos,
deixando-se convencer de que são traidores aqueles que até então via como
amigos. Por meio de uma ofensa que não houve, Watanabe, ao mesmo tempo em que
faz promessas, incute o ódio, a desconfiança e o terror. Envenena relações.
Desestabiliza uma ordem já precariamente mantida pela opressão do governo de
Getúlio Vargas. Deste modo, àqueles cujas residências apareciam marcadas com os
dizeres “coração sujo” restava a segregação e a certeza do que lhes aguardava:
“Sou um homem morto”, diz um personagem, após relatar aos demais as notícias da
Guerra, que ouvira no rádio. “A verdade é nossa”, diz, em outro momento, o
coronel. “Para o nacionalista, a dúvida não existe.”



Após o internacional Um Homem Bom, o diretor Vicente Amorim retoma
o Brasil como cenário, mas mantendo o foco no conflito entre o indivíduo e uma
ordem estabelecida, à qual deve curvar-se e seguir, ainda que isto vá de
encontro às suas crenças e seus valores. Baseado em livro de Fernando Morais
(que, por sua vez, é fruto de pesquisa histórica), Corações Sujos é um filme doloroso, onde o poder vitima inocentes e
nem toda injustiça é corrigida. Há momentos de tensão, com cenas fortes e de
impacto, conduzidas de forma a deixar suspensa a respiração e presos na tela os
olhos do espectador. Cenas como a da invasão inicial, onde o Cabo Garcia
desrespeita a bandeira japonesa, ou a que esposa e filha encontram o corpo do
presidente da cooperativa, são emocionalmente poderosas e valem o filme.



E o mérito de tais cenas, além do
talento de seu diretor, deve-se em grande parte aos atores que delas
participam. Foram felizes as escolhas de Eiji Okuda (Watanabe), Tisuyoshi Ihara
(Takahashi), que já havia trabalhado com Clint Eastwood em Cartas de Iwo Jima, e Takako Tokiwa (Miyuki): importados do Japão,
são todos extremamente expressivos e intensos, com atuações que impressionam
ora pela delicadeza transmitida no olhar, ora pelo ódio e pelo terror que
parecem querer explodir em suas faces. Mas a grata surpresa deste Corações Sujos é brasileira: a atriz
mirim Celine Fukumoto, que interpreta Akemi, filha do citado presidente da
cooperativa, vai da doçura ao desespero com sinceridade desconcertante,
cativando o espectador. O outro brasileiro do elenco é o bom Eduardo Moscovis, que, além de pouco,
aparece deslocado na trama. Seu personagem, no entanto, merecia mais um ator com
mais idade e dureza do que um galã.



O filme ressente-se, no entanto,
de um melodrama excessivo que parece refletir uma necessidade da direção em
emocionar o espectador a qualquer custo. O excesso se confirma na trilha
sonora, cuja grandiosidade termina por deixá-la sobrando, junto com cenas que
caberiam melhor em outro veículo, pelo exagero, obviedade e pieguice. O
resultado final, no entanto, é positivo, e confere ao filme uma merecida
importância na cinematografia nacional, por sua temática, pelo impressionante
trabalho de seus atores (que fica na lembrança após os créditos), pela bela
fotografia e a competente reconstituição de época. Atravessando uma fase de
vacas muito magras em termos de criatividade, o cinema brasileiro agradece a
realização de Corações Sujos.



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