Lenny
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Sinopse e comentário. Drama biográfico. Nascido Leonard Schneider,
Lenny Bruce foi o comediante que, através de um intenso combate à hipocrisia
social e defesa da liberdade de expressão em suas apresentações nos palcos
americanos dos anos 1950/60, revolucionaria o humor como hoje é conhecido. O
filme é narrado em forma de falso documentário em preto e branco, com
depoimentos e trechos da última apresentação, e segue os passos do protagonista
a partir do momento em que ele conhece, nos bastidores do teatro, a stripper
Holly, por quem se apaixona. Juntos passarão por altos e baixos, envolvendo o
uso de drogas, os ciúmes de Bruce, um acidente de automóvel, a filha Kitty, os
casos extraconjugais e a prisão de Holly por posse de drogas, até a separação.
Bruce seria ainda preso e julgado por obscenidade, com seus espetáculos
frequentemente interrompidos por policiais.
“O que é sujo? O que é limpo?”, pergunta Lenny Bruce, no palco. “São só palavras”, ele completa, em
outro momento. Até então acusado de ser um “humorista nojento”, pelo
vocabulário coberto de palavrões e pelos temas escolhidos sobre os quais
discorria misturando seriedade e escracho a uma profunda e furiosa crítica
social, Bruce talvez não soubesse, mas estava transformando a maneira de fazer
humor e influenciando boa parte dos artistas que hoje integram constelações em Hollywood. Política,
religião, intolerância, relacionamentos. Para ele parecia não haver tema tabu.
Bruce falava de tudo, levava jornais para o palco e comentava as principais
notícias como quem conversa com um amigo num boteco. Inclusive provocando o
“amigo” (como faz, em determinada cena, com um negro que o assistia), para
depois, triunfante, arrancar-lhe uma risada. Nos momentos de maior inspiração,
entregava-se ao improviso e apenas perguntava à plateia “de quem vocês querem
que eu fale hoje”. Completamente à vontade no palco, foi aos poucos
conquistando sua independência, livrando-se da exigência das imitações, das
“piadas de sogra” e do humor convencional, até finalmente ser o único dono de
seu show. Fazia o que queria em cena, o que acabou lhe saindo caro. Pronunciar
“boquete” numa apresentação custou-lhe sua primeira prisão, e o primeiro
processo por obscenidade. A repercussão foi aumentando-lhe o público, e há quem
comente, no filme, que “eles já estão vindo para ver quando Bruce vai ser preso
de novo”.
E, para retratar um artista
talentoso, original, excêntrico e intenso, nada melhor do que outro. Recém
saído do sucesso de Cabaret, o
coreógrafo, diretor e autor Bob Fosse abordaria neste Lenny (Lenny, EUA, 1974)
um tema que conhecia bem – e para o qual retornaria no filme seguinte (o
clássico All That Jazz – O Show Deve
Continuar) –, que eram os bastidores do showbizz. Baseado em peça de Julian Barry (que também
assinou o roteiro) e utilizando-se de
impressionante fotografia em preto e branco de Bruce Surtees (com belos
contrastes que inspirariam Martin Scorsese em seu Touro Indomável), acompanha
de maneira ao mesmo tempo realista, elegante e afetuosa tanto os momentos de
brilho quanto a decadência dos protagonistas. Momentos que, já dramática e
visualmente interessantes, acabam se tornando irresistíveis com a trilha sonora
jazzística.
Estão lá o consumo de drogas, a
tentativa frustrada de liberdade sexual, a alegria excessiva, os amigos
doidões, os flashes da plateia, as
propostas indecentes e os altos e baixos financeiros. Depois, a tensão das
brigas e os momentos nos tribunais. Tudo isto entrecortado por trechos de
depoimentos (falsos) e da última apresentação de Bruce, que terminam agindo
como os narradores/comentaristas que se aprofundam nos pensamentos e
sentimentos dos personagens. O recurso é empregado com tanta propriedade e
segurança que dá gosto ver o quanto Bob Fosse estava inspirado como narrador
quando realizou Lenny.
E inspirados também estavam os
dois protagonistas. No auge da carreira, quando, como Al Pacino, enfileirava
grandes atuações, Dustin Hoffman compõe um Lenny que vai do apaixonado, quase
ingênuo, ao desiludido, sarcástico e agressivo. Seja no palco, seja dizendo
friamente ao telefone que precisa desligar, o sujeito aproveita cada momento
diante da câmera em memorável desempenho. E sua parceira não fica atrás.
Valerie Perrine é mais lembrada como a dondoca boazuda de Superman – O Filme, e aqui surpreende como a frágil e decadente
Holly. Na cena do telefone citada acima, é ela quem está do outro lado da
linha, quase implorando alguns minutos de atenção e tentando verbalizar a dor e
remorso que a estão consumindo junto com as drogas. Lenny só desligou o
telefone porque não estava vendo a expressividade dela. E porque já não
acreditava em finais felizes. “As pessoas não voltam”, diz ele, no palco. “Não
voltam.”
O filme sofreu algumas injustiças, em termos de
reconhecimento e distribuição. No Brasil foi proibido pela censura durante o
período ditatorial, e, quando enfim liberado, nos anos 1980, ele acabou lançado
quase que ao mesmo tempo que All That Jazz,
pelo qual acabou sendo eclipsado. É um filme raramente exibido nas TVs, e só
recentemente lançado em DVD no Brasil. E mesmo lá fora não foi grande sucesso
de público. Acabou ganhando uma aura de filme “Cult”, para poucos, que não se
sabe se lhe é totalmente justo. Aliás, sabe-se sim. Não é.
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