Santo Antônio
(Fernando Nuno)
Para leitores de textos literários, gênero que possui características difíceis
de conceituar, mas fáceis de se perceber já nas primeiras páginas, pode ser
difícil engajar-se na leitura de biografias,que na maioria das vezes são
escritas por jornalistas, versados na escrita de textos informativos, mas com
pouco fôlego para a escrita de textos narrativos, salvo as exceções, há
jornalistas que trabalham nas duas frentes: o literário e o informativo, mas os
que o fazem com mestria são poucos. Por isso, nem toda biografia é fácil de ser
lida e o que mantém o leitor firme no seu propósito de conhecer o biografado
resulta mais na sua curiosidade ou admiração pela pessoa biografada do que as
qualidades literárias do texto. E se o texto não tiver sido escrito de modo
linear levá-la a termino pode ser um dos trabalhos de Hércules. Exemplo a ser
citado é uma biografia sobre James Brown com que presenteei um amigo. Ele
desistiu da leitura, pois a mesma ia e voltava no tempo, citando fatos da vida
do cantor, fatos históricos da América, ações dos do movimento pelos direitos
civis... Não é que o texto não tivesse seu valor, o moço, pouco ambientado ao
estilo do escritor, pouco identificado com os problemas do negro
norte-americano e com a história daquele país não conseguiu ser fisgado pela
narrativa.
A história é quase a mesma com
este livro de muitas páginas sobre a existência de Santo Antônio. Embora
escrito de forma linear, abunda em fatos históricos e por vezes, durante a
leitura da primeira metade do livro, o biografado fica em segundo plano em face
das ambições e vícios da Igreja e dos Cruzados.
Mas, a partir de um certo ponto, fica-se compreendendo por que o autor
optou por se esmerar em ilustrar de modo tão preciso ( o que deve ter consumido
muito tempo de pesquisa) o ambiente em que o rapaz, de origem nobre viveu. Ele
fez o que poucos seriam capazes de fazer mesmo nos dias de hoje: não confundiu
a Igreja Católica com os homens que a presidiram. Foi um religioso a serviço de
um ideal de Igreja há muito esquecido, em meio à riqueza, à pompa e o poder
político que a mesma conquistou. E se valeu de sua erudição e eloqüência para
reformá-la de dentro. Seus discursos eram capazes de despertar a consciência de
poderosos. Pode-se dizer que foi dono de uma inteligência emocional e
habilidades interpessoais ímpares, não granjeou inimigos, apesar de seus
discursos revelarem os vícios dos homens da Igreja. Mesmo São Francisco de
Assis, pouco afeito aos livros, autorizou Antônio a levá-los para sua ordem na
ocasião de seu ingresso nela. Assim como os franciscanos fez voto de pobreza e
é daí que vem sua fama de santo casamenteiro. Ao receber um pedido de auxílio
de uma noiva com poucas posses, juntou as doações que recebera e jogou-as no
quarto da moça, ajudando-a a conseguir o dote necessário para o casamento.
Também fez milagres. Pregou aos peixes de um rio, próximo a um dos
povoados ao qual fora enviado a pregar. Naquela época, vários movimentos
cristãos contrários à Igreja e questionadores de seus hábitos surgiram na
Europa e Antônio atuou como um braço não armado da Igreja, que já havia
incorrido no uso da força armada para esmagar movimentos opositores.
Homem corajoso e bom, adepto ao jejum e às penitências, foi um grande
devoto de Nossa Senhora Aparecida. Escreveu, ensinou e pregou até os últimos
momentos de vida. Minutos antes de sua morte, contam que ele viu a imagem do
menino Jesus. Quando morreu, teve seu corpo enterrado às escondidas porque o
povo queria parte de seu corpo, que acreditavam seria milagroso.
Ao término da leitura fica claro
que o autor optou por detalhar tão minuciosamente o período em que o santo
viveu para que o leitor pudesse compreender melhor o homem e que projeto de
Igreja e de servidor dela ele teve.
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