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Anna Karenina
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Brasil ou Rússia oitocentista, não importando se mucama ou de
família aristocrática, uma mulher não deveria ousar ser dona de si. Nem mesmo
hoje, com tantas aceitando posar segurando garrafas ou latas de cervejas para
reclames publicitários ou encenando em clips, tão provocantes quanto os shorts
as saias ou os vestidos curtos e justos e decotes pra lá de reveladores podem
ser.

Em Mariana, publicado pela primeira vez no Jornal das famílias, Machado
de Assis coloca nas mãos das mocinhas brancas um conto no qual a protagonista é
uma escrava, mas não uma escrava comum. Mariana é bonita, é inteligente, sabe
ler, sabe escrever, fala francês. É bem querida dos da casa, desde que não
queira mais do que lhe é devido.

Mas ela quer. Ama o senhorzinho da casa, já de casamento marcado com uma
sinhazinha. É quando Mariana percebe que não há lugar no mundo para ela, é uma
ourtsider. Para a casa em que crescera ela é apenas um bem. Sem dinheiro, sem
carta de alforria, sem família, sem o apoio da pessoa amada. Uma mulher negra e
letrada nas ruas de um Rio afrancesado. A consciência disso tudo é demais para
ela.

Anna Karenina, personagem do romance homônimo de Tolstoi, é uma mulher
jovem, casada com um homem bem mais velho. Tem um filho menino ainda, de cerca
de oito anos. Vive para ele e para consolar a cunhada magoada com a
infidelidade do marido. A opulência em que Anna vive não a faz feliz. Mas eis que encontra na estação de trem,
quando indo visitar o irmão, certo conde bonito, cobiçado pelas mulheres. E ela, por mais que resista aos seus sentimentos
e às investidas dele, não consegue manter-se fiel ao marido.

Numa de suas canções, Adele canta que: “O amor às vezes dura, às vezes
faz sofrer.” Enquanto o narrador (Alfred Molina), auterego de Tolstói, descobre
o sentido de sua existência e o papel da vida e do trabalho no campo, Anna se
perde na cidade. Engravida do amante, confessa o relacionamento ao marido e é
intimada a romper o relacionamento ou perderá o filho. Ela tenta afastar-se por
uns tempos. Mas sofre um aborto e quase morre. Ocorre algo difícil de conceber
em nossa cultura machista: marido e amante aguardam notícias da melhora da
mulher quase à morte sob o mesmo teto. Anna arde em febre. Acreditando
que morrerá, pede perdão ao marido. Ele a perdoa.

Ela melhora e o amado/ amante a leva para a Itália. Anna parecer ser quem
ama mais. Está feliz em terras estrangeiras, mas o conde quer voltar e a
convence com o argumento de que poderá ver o filho. De volta à Rússia, Anna é
posta à margem da sociedade. Como adúltera não pode frequentar a sociedade, o
teatro, as festas. Fica confinada em casa à noite, enquanto o conde circula com
a mãe e uma princesa pelos salões da alta sociedade. Anna aguarda por um
divórcio que nunca sai, pois o marido não quer entregar-lhe o menino. Quando à
noite, vai à casa do ex-marido para ver o filho é expulsa aos gritos e
xingamentos.

A queda de Anna parece não ter fim. Após o exílio, a segregação, a
impossibilidade de ver o filho, as noites solitárias, a desconfiança das
relações entre amante e amiga princesa e as constantes doses que toma de um
forte anestésico, ela começa a ouvir vozes que não a deixam dormir, tem acessos
de descontrole, grita, dá de comer a uma boneca. O amado/amante não compreende
pelo que ela passa. Grita com ela, deixa-a ainda mais sozinha. Anna sai. Está
toda de preto. Dá uma última e longa olhada nas ruas e pessoas por que passa, a
caminho da estação. Vai em busca do trem que a levará em sua derradeira viagem.

Mariana e Anna. Mulheres que perderam a vida por amarem demais o outro e
menos a si mesmas. Terá sido amor o que sentiram? Ou o apelo destrutivo da
paixão? Como distingui-los? Em Fedro, Platão (e Sócrates) auxiliam os
inexperientes e os estudiosos do amor a distingui-lo da paixão. Para Sócrates, amor é desejo pelo belo. Mas
os que não amam também querem usufruir do belo. Para não se deixar enganar,
vale a pena levar em conta o modo como Sócrates define os impulsos que nos
movem: são duas tendências sempre, o desejo inato do prazer e a opinião que
pretende obter o que é melhor. Ora concordam, ora discordam. Ora vence uma, ora
vence outra. O desejo inato (a intemperança) e a opinião (a temperança) buscam
por caminhos diversos. O primeiro escraviza, desinvidualiza. Quando é a
intemperança quem assume o controle, arrasta, violenta, desqualifica aquele a
quem domina. O dominado deixa de ser reconhecido pelo nome e passa a ser
identificado pelo vício que o domina: glutão, beberrão, fornicador, louco.
Quando a temperança assume o controle, ela, por submeter o desejo pelo crivo da
razão, mantém sob rédea curta o desejo. Domina-o, amansa-o, pois visa o melhor
para o indivíduo.

O que seria melhor para Anna Karenina? Manter-se num casamento sem amor?
Sufocar o desejo do seu corpo? Que escolhas teria feito se soubesse do desfecho
da história?

Mariana, negra, letrada percebeu que todo o repertório civilizado não a
livrou do lugar que a sociedade escravocrata em que vivia havia imposto a ela:
mucama da casa, bem semovente. Que escolhas ela tinha? E que escolhas têm hoje
as mulheres, donas de uma pseudoliberdade, que lhe atribui pesados e múltiplos
papéis a serem desempenhados simultaneamente, mãe, esposa, profissional, dona
de casa, jovem, bonita, magra...

Viver nunca foi fácil, ainda menos para as mulheres. Mas seja qual for o
lugar que se escolha ocupar na vida, é fundamental que antes de qualquer passo,
principalmente os decisivos, passemos a situação pelo crivo da temperança: isso
que desejo é bom para mim? A longo prazo, que consequências trarão?



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