Aprender a Viver 
(Luc Ferry)
  
Um mini-curso improvisado dado a amigos, em algumas
 reuniões, motivou um filósofo a transformar suas rápidas aulas neste livro. De
 estilo leve e muito direto encerrou a má fama que seu autor possuía de escrever
 complicado, embora tivesse reconhecido falar fácil de se compreender. O livro
 recebeu importante prêmio literário na França e se tornou muito popular. 
 
 Sempre convidando seu leitor a pensar por si mesmo, o autor
 critica definições prontas para a filosofia, e de modo coerente, não impõe uma
 própria; porém sugere claramente que se trata da busca de opções para a questão
 da morte. Como lidar com a finitude da vida? Irmã da religião que busca a
 salvação em Deus, portanto fora do homem, a filosofia busca a salvação por meio
 da razão. Logo, não se trata de leitura digerível para religiosos. Para Ferry
 “[...] é muito pouco crível a imagem de um Deus que seria um pai para os
 filhos” embora aconselhe o respeito aos crentes afinal “[...] como se poderia
 provar que Deus não existe?”.
 
 A novidade inicial na obra de Luc quando ele começa a tecer
 a história das ‘visões de mundo ‘ é a estratégia do cristianismo de se
 aproveitar de uma falha da primeira ‘ visão de mundo’, a grega. Desde os
 primórdios da filosofia grega até ilustres pensadores romanos como Cícero e
 Marco Aurélio, se acreditava que o mundo ‘era Deus’. É o cristianismo que lança
 a idéia de um Deus que não ‘é o mundo’, mas sim seu criador, portanto, vive
 ‘fora dele’ e nos dará a vida eterna. Para os antigos, o fim do homem era se
 dissolver na natureza que é perfeita, porque ela ‘é Deus’ (eis a brecha ocupada
 pela religião que chega a concordar ironicamente com a idéia grega de perfeição
 da natureza afinal ela é ‘criação de Deus’). 
 
 Séculos depois e se descobre que a natureza ‘não era
 perfeita’ coisa nenhuma. Graças ao trabalho de Newton, Copérnico, Kepler e
 outros estudiosos modernos se descobre que o universo é infinito, estrelas
 nascem e morrem toda hora e a Terra não é o centro de nada. Vivemos no caos?
 Logo, o que se pretende fazer pronta é uma nova visão de mundo a partir desta
 realidade revolucionária. 
 
 O centro de todas as atenções passa a ser simplesmente o
 próprio homem.  É preciso dar-lhe uma
 definição que o distinga dos animais comuns, estabelecer a moral de seu
 relacionamento com o próximo, e oferecer a ele uma alternativa de eternidade;
 exercício nada fácil e que flerta com bobagens como o patriotismo exagerado,
 por exemplo...  
 
 É esta necessidade urgente de dar sentido ao que não tem
 sentido, que permite o florescer de outra visão de mundo. De acordo com o pós-modernismo, os humanistas ao
 buscarem um sentido e uma ordem no universo (vivemos ou não sob o caos?), crêem
 na verdade em um Deus embora se digam ateus. “Como o psicanalista que procura
 buscar e compreender o inconsciente por trás dos sintomas de seus pacientes, o
 filósofo pós-moderno aprende antes de qualquer coisa de desconfiar das
 evidências primeiras, das idéias prontas, para ver o que há por trás [...]”. A
 grande referência do pós-modernismo é Nietzsche, crítico violento, influente e
 ‘desconstrutor’; brilhante ao desmascarar sentidos ocultos na religião e na
 própria ciência . 
 
 Deu vontade de sair por aí lendo mais sobre Nietzsche? Não
 faça isso de qualquer jeito. Repleto de termos que ele usa a seu modo (como a
 ‘genealogia’, a ‘feiúra’ ou os “ídolos”), Nietzsche até hoje é mal
 interpretado. É bom saber que o nazismo e a contracultura dos anos 60
 basearam-se erroneamente em leituras equivocadas de suas obras. Porém destaco
 que após este Aprender a Viver dá pra
 animar a se arriscar em aventura nesse sentido.  Mesmo porque é preciso compreendê-lo bem para
 criticá-lo adequadamente. Nem Nietzsche e nem tampouco a filosofia
 contemporânea posterior a ele representam o fim da linha, ainda que seja digna
 de nota a afirmação conclusiva de que devemos ‘[...]enfim aprender a viver e
 amar como adultos [...] para procurar fazer o que convem aqui e agora, na
 alegria, com aqueles que amamos [...]essa sabedoria existe e constitui o
 coroamento de um humanismo, enfim desembaraçado das ilusões da metafísica e da
 religião”. 
 
  
 
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