A distância entre nós
(Thrity Umrigar)
Nunca um título guardou tantos
sentidos, a meu ver. A distância entre nós é um romance ambientado na Índia.
Escrito por uma autora natural do mesmo país, mas que se formou jornalista nos
Estados Unidos. Tudo é mesmo muito distante, desde o ambiente em que se
transcorre a narrativa, até as condições de vida das protagonistas – empregada
e senhora- e os modos de viver das mulheres ocidentais. Muitas de nós não moram
em barracos nem usam banheiro coletivo, tampouco é demitida sem que seus
direitos trabalhistas sejam garantidos. Jovens não abandonam a faculdade por
causa do constrangimento de terem engravidado ainda solteiras. Empregadas
domésticas não têm de comer e beber em copos, pratos e talheres separados.
Quando foi que uma de nós viu uma mulher com um tumor enorme vender brócolis
murchos na feira? Por outro lado, o contraste entre as vidas de patroa e empregada,
cujas vidas transcorrem em paralelo, sob os mesmos costumes, sob o mesmo céu,
faz com que a interrogação se instale poderosa: quem garante que as condições
tão abjetas, que tanto me indignam não estejam se processando poderosamente na
vida da mulher que se senta ao meu lado no metrô?
Bhima não sabe ler e atribui ao
fato de não ter podido estudar toda a pobreza material e as humilhações por que
passa. É por isso que aposta todas as fichas na neta, que conseguiu entrar na
faculdade. É por isso que quer se livrar do bebê, para que a menina possa
voltar a estudar. Não pense que a senhora, filha de pais abastados e formada na
universidade, não sofre as suas agruras. Ela tem que lidar não só com os
costumes religiosos da sogra – rígidos e preconceituosos – como com a índole
violenta do marido, tem de esconder os hematomas...
Logo no primeiro capítulo o
choque se instaura. Bhima pensa em chutar a barriga da neta que dorme no chão,
para que ela perca o bebê. E foi isso que me fez ler o livro, queria saber o
que aconteceria com a garota, queria saber quais sofrimentos teriam endurecido
de tal modo o coração da mulher, que mesmo velha, tinha de trabalhar para comer,
vejam só: arroz, um ovo comprado num bar, alguns legumes. Ela que já morara em
apartamento, que já tivera uma filha e um filho, um marido.
Imperdível pelas revelações sobre
a condição feminina aqui e lá. Dolorido, por vários dias deixei-o de lado a fim
de respirar. Porém necessário.
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