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A originalidade não existe
(João Pereira Coutinho)

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cerca de um século, dizia Friedrich Nietzsche: “A todo agir liga-se um esquecer
[...]” (p. 9) e “É necessário muita força para poder viver e para esquecer, na
media em que viver e ser injusto são uma coisa só.” (p. 30). Para falar da
inexistência da originalidade, numa discussão sobre memória, esquecimento,
plágio e “criptomnésia”, começar com os ecos de um texto de outro pode ser o correto
a se fazer. Isso pode se aplicar a esse comentário-resumo do texto “A
originalidade não existe”, do doutor em Ciência Política e colunista da Folha
de São Paulo, João Pereira Coutinho (05.03.13), especificamente quando ele
afirma: “[...] esquecermos as fontes do que lemos, deixando que a memória construa a
sua própria "originalidade" sobre elas” e “Isso é recorrente no
trabalho intelectual e não existe autor - de Shakespeare a Coleridge, de Milton
a T.S. Eliot - que não tenha apresentado como seus os conceitos, as ideias e
até as frases que nasceram de outras penas esquecidas”. A isso, Coutinho,
citando Oliver Sacks, chama de “criptomnésia", que não pode jamais ser
confundida com “plágio”.

Para esse colunista da Folha, que, na verdade, comenta o neurocientista
Oliver Sacks (que, por sua vez, escreveu o ensaio "Speak, Memory",
para o "The New York Review of Books"), "Plagiar é roubar de
forma intencional e consciente o trabalho intelectual de terceiros, [enquanto
a] ‘criptomnésia’ não precisa do trabalho literário para tiranizar a nossa
memória.” [é sintomática a quantidade de aspas neste parágrafo, e neste
comentário como um todo].

Se originalidade é um termo escorregadio e difuso, autenticidade também
padece desse estado líquido e disforme. Como exemplo imediato, citei Nietzsche
para escrever este comentário sobre a resenha de João Coutinho ao ensaio de
Oliver Sacks. Trata-se de uma rede de quatro agentes identificados. Porém,
quantas vozes e sussurros não identificados estão aqui presentes? Coutinho e
Sacks citam, entre outros já citados acima, Vladimir Nabokov e Heinz
von Lichberg. O jogo da memória nessa teia radical de intertextualidade,
entre homenagem e esquecimento, pode até nos preparar para considerar
literalmente que “a originalidade não existe”.

Enquanto isso, em quartos escuros, em velhos papéis ou em suportes
tecnologicamente avançados, jovens e velhos poetas e escreventes de toda
espécie lutam com as palavras e as angústias, na busca de seu toque autêntico e
original. Afinal, como finaliza o próprio Coutinho, “como todos nós, sou
uma fraude que se julga original”.



Referências

COUTINHO, João Pereira. A originalidade não
existe. In: Folha de São Paulo. 05.03.13.
disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/colunas/joa opereiracoutinho/1240373-a-originalidade-nao-existe.shtml>.
Acessoem: 05 mar. 2013.

NIETZSCHE,
Friedrich Wilhelm. Segunda consideração intempestiva: da utilidade e
desvantagem da história para a vida. Tradução Marco Antônio Casanova. Rio de
Janeiro: Relume Dumará, 2003. (Conexões; 20)



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