Resumo de A Casa Amarela -

Mais do que tudo, texto e atuação de Gero Camilo mostram o quanto Vincent era invadido e invasivo.
Se a casa é uma metáfora do que somos, a de Van Gogh, em Arles (Sul da França),
foi engenhosamente escolhida de acordo com o estado psíquico de seu inquilino. Despedaços
que teimam em se arranjar num bloco rígido. Pela tangente, alucinações e
delírios.

Para ir ao seu quarto de
hóspede, o amigo Paul Gauguin tinha que passar pelo aposento do mestre
pós-impressionista. Está no mapa de "A Casa Amarela", desenhado num dos lados da
carta endereçada a nós, supostos Théos, assistindo solidários ao trágico
espetáculo da psicose que massacrou Vincent. Na carta de Van Gogh e Camilo a
nós, o ator imita a generosidade do pintor, explicando e justificando o
roteiro.

Impressionantes mesmos são
as viradas de Gero Camilo, que transforma, em um segundo, quase numa simbiose, Van
Gogh em Gauguin.
Trata-se de um monólogo, poucas e intensas vezes atravessado
por um diálogo. Vincent, por si só vale uma peça inteira, talvez porque tenha
feito valer muito mais do que as quase quatro décadas vividas. Ou porque esta
seja a impressão que se tem sobre um sujeito sem refúgio silencioso interno à
invasão sem trégua de vozes, urros e sussurros. Tudo está preenchido o tempo
todo, não há espaço para a falta. Loucura.

O sonho de Van Gogh era
encher a Casa Amarela com artistas da sua geração, de preferência os que
partilhavam convicções semelhantes. Mas, nenhum deles pesquisou tanto e tão
profundamente as cores, como o virtual anfitrião. Isto só é possível a quem se
embrenha nos sentimentos. Para o poeta paranaense Paulo Leminski, se o amor
tivesse cor, seria azul e amarelo. Verde, Vincent? Ab-sinto. Abstinência.

As convicções e certezas de
Van Gogh, porém, não resistem à desistência do amigo. Ele não quer mais
escutar, vai embora. Vincent também não: corta a orelha. A Casa Amarela e sua
loucura, que Vincent dispunha e expunha sem qualquer pudor (mudara-se para lá,
um mês antes da chegada de Gauguin) aos amigos, não encontrou sustentação. A dúvida
invade, a casa desaba, alienação.

A Casa Amarela, dirigida por Marcia
Abujamra, está em cartaz no Espaço Parlapatões, Praça Franklin Roosevelt, 158,
Centro , SP/SP, sábados, às 21h e domingos, às 20h (março, 2013).

Leia mais artigos sobre obras relacionadas a Vincent
Van Gogh, nos textos “Cartas a Theo” e “Van Gogh”, escritos por esta autora,
Maria_Truccolo, neste site.

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