A Desobediência Civil / A Defesa de John Brown
(Henry David Thoreau)
«Será a democracia, tal como a conhecemos, o último melhoramento
possível do acto de governar?» - eis uma das centrais questões colocadas por
esta magnífica obra de Thoreau. Escrita em estilo de discurso, por ela
discorrem as principais dúvidas e objecções que o autor sentia em relação à
sociedade de sua época. Contudo, devido à sua profundidade, a obra garante o
estatuto de incontornável – em derradeira instância, de imortal (tanto quanto
uma obra literária o consegue ser).
Espantar-se-ia, por certo, o leitor, se soubesse que tal
exemplar serviria, anos mais tarde, de grande inspiração a figuras
inesquecíveis e de grandíssimo revelo como Tolstoi, Martin Luther King ou
Gandhi. Na verdade, houve quem afirmasse que “A Desobediência Civil” é um
indispensável guia a todos aqueles que se insurgem contra as injustiças sociais
e que a elas pretendem colocar um fim (ou, pelo menos, contribuir para o seu
esmaecer). O que encerra, então, ela? O que detém de tão precioso? Ainda que
focada na sociedade americana do século XIX, a época do autor, onde a
escravatura ainda era uma desprezível realidade e a injusta guerra com o México
um mero embuste que ocultava avaras intenções, dela sobressai um gritante apelo
ao não-conformismo. De facto, se o Indivíduo se abstém, permite, através da sua
passividade, uma livre acção ao Estado que supostamente o governa. No fundo,
tal traduz-se no passar de um livre conduto, uma autêntica carta branca! Mas
até que ponto tal permissividade deverá existir? Ou, no mínimo, ser tolerável?
Como é que a resistência pacífica poderá alternar o curso do rio social?
Sejamos sinceros: qual destas questões não encerra uma espantosa actualidade?
Ainda que, vaticinando, diga que o «único lugar dos homens honrados será a
prisão», na fluidez e serenidade de seu discurso, profundamente humano e
sentido, Thoreau explana e partilha a sua dourada visão. A sociedade poderá ser
moldada em nossas conscientes mãos, através de gestos e actos que primem pela
coragem e pela diferenciação. Quem, de entre nós, será intrépido o suficiente
para os assumir?
Seguidamente à conclusão desta obra, encontra-se “A Defesa de
John Brown”. Este texto, lido em 1859 aos cidadãos de Concord, Massachusetts,
terra natal de Thoreau, apresenta uma notável compaixão pela personagem de
Brown e sua missão de vida, sem conseguir reter um breve lamento pela injustiça
de seu destino. E isto porque Brown, à semelhança de Thoreau, fora um homem que
se insurgiu contra o governo de então, suas leis e premissas, auxiliando na
libertação e fuga para o Canadá de centenas de escravos. Contudo, acabou sendo
capturado, julgado e condenado à morte. A sua história, porém, aquela que
cristalizou o seu nobre legado, permaneceu no tempo. Foi um acontecimento
deveras célebre que tocou a sensibilidade de diversas personalidades, como o
escritor francês Vítor Hugo. Este, numa carta publicada num jornal norte-americano,
notoriamente solicitava que Washington não assassinasse este novo Spartacus. Em
vão, contudo. Mas, retirando todo e qualquer aspecto de mártir à figura de John
Brown, existe, na revolta de Thoreau, um expresso desejo de harmonia e de
evolução social – aquilo que, no fundo, seus ideais mais ansiavam.
Contudo, e para finalizar, importa sublinhar que, muito para
além de um mero idealismo utópico, esta obra representa um verdadeiro hino à
revolta pacífica, um mote à acção e à real importância que cada um de nós detém
na sociedade a que pertencemos. Assim, tanto ontem como hoje, as firmes palavras
de Thoreau permanecem mais vivas do que nunca no coração daqueles que as acolhem.
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