A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica 
(Walter Benjamin)
  
Neste
 texto de qualidades quase proféticas por sua atualidade, o filósofo
 Walter Benjamin argumenta que a evolução da técnica e as
 alterações que ela efetua nos modos de produção artística
 transformam os nossos modos de percepção e a forma como nos
 relacionamos com a obra de arte, bem como o seu status social. O
 autor começa por argumentar que, de alguma forma, a arte sempre foi
 reprodutível, mas houveram certos limiares históricos em que os
 avanços técnicos permitiram novas formas de reprodutibilidade, tais
 como a invenção da imprensa e, de um modo especial, da fotografia.
 A fotografia, sendo uma forma de reprodução que é sujeita
 unicamente ao olhar e não à mão, ao reproduzir uma obra como uma
 pintura ou uma escultura põe em questão o valor de autenticidade da
 obra, de sua existência única e idêntica a si mesmo, da
 historicidade presente no seu aqui e agora. Pelo seu valor de
 exposição acaba por atrofiar a aura - “figura singular,
 composta de elementos espaciais e temporais: a aparição única de
 uma coisa distante, por mais perto que ela esteja”(p.170)
 - e acaba por efetuar uma alteração profunda no modo de percepção
 promovendo a capacidade de detectar “o semelhante no
 mundo” até no fenômeno único.
 	Fazendo
 um breve histórico dos modos de valoração social da obra de arte
 desde a pré-história, Benjamin descreve uma dicotomia entre um
 valor de culto, relacionado fundamentalmente a uma função ritual, e
 um valor de exposição da arte. A existência única de uma obra de
 arte, por mais secularizado que seja, sempre guarda um valor
 teológico e uma função ritual, relacionados à aura. É a
 reprodutibilidade técnica que a desvincula dessa existência
 parasitária, emancipando-a da
 função ritual. Isso altera também o seu estatuto social tornando-a
 mais propícia a uma distribuição em massa, que no cinema, pelo
 alto custo da produção (pelo menos na época de Benjamin e ainda
 hoje nas grandes produções hollywoodianas), adota uma caráter de
 obrigatoriedade. De modo particular, na reprodutibilidade técnica
 pela fotografia, o valor de exposição supera pela primeira vez o
 valor de culto relegando, inclusive, a função “artística” a um
 plano secundário. O autor opõe ainda os modos de produção
 artística da grécia antiga que, pelo caráter singular da obra de
 arte em seu estágio técnico, obrigava-os a produzirem valores
 eternos, à perfectibilidade
 possível no cinema, onde o montador seleciona, dentre as inúmeras
 tomadas que lhe são disponibilizadas, aquela que julga melhor para o
 filme. Aqui o momento da filmagem é efêmero e quase banal em
 comparação com aquele da escultura clássica.  
 
 	Benjamin analisa ainda a relação das massas com as novas técnicas
 de reprodução, o cinema e a fotografia, e o impacto político que
 provocam. Os políticos agora devem se submeter às consequências da
 exposição em massa e, por isso, tornar-se mais mostráveis (como
 podemos observar muito claramente nos fascismos e, digamos, nos
 políticos cariocas contemporâneos), em detrimento de uma política
 movida pelo debate a portas fechadas em um parlamento. Além disso, a
 possibilidade de qualquer um ser filmado transforma necessariamente o
 conteúdo da obra de arte que agora deve atender às demandas
 estéticas das massas e torná-las visíveis a si mesmas, seja pela
 exibição delas mesmas como no cinema soviético, seja pela
 representação e produção de seus desejos como no cinema
 americano. O cinema tem ainda o poder de produzir uma certa memória
 coletiva de amplo alcance como podemos observar pela ubiquidade de
 símbolos pop como o camundongo Mickey. Essa alteração do modo de
 percepção não é restrita somente ao conteúdo mas também à
 forma. O cinema, com suas sequência de imagens ininterruptas promove
 uma recepção através da distração em oposição a uma recepção
 contemplativa. Por fim o autor aponta para os perigos políticos das
 novas artes reproduzíveis incorporados no seu uso propagandístico
 intenso pelo fascismo. 
 
  
 
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