A Casa Quieta
(Rodrigo Guedes de Carvalho)
«Um romance de luto, mas que tem a vida por personagem central e o amor como miragem e ambição última? Uma escrita directa e muito visual, quase cinematográfica.»
É assim que a revista do Círculo de Leitores apresenta de forma sumário o novo escrito (A Casa Quieta), ao que se diz ?romance?, de Rodrigo Guedes de Carvalho, apresentador de notícias televisivas, argumentista para cinema e (es)forçado escritor num exercício de vários ofícios digno de apreço.
Claro que este tipo de apresentação me tira qualquer vontade de agarrar sequer no livro, o que para um viciado como eu em cartapácios é proeza.
Só que o pedantismo inicial da apresentação evoca-me logo má literatura, daquela em que alguém supera desgostos imensos e encontra o amor numa esquina da estrada, aí sarando as mágoas de um passado conturbado.
Felizmente, não li muitos ?romances? deste género, ou larguei-os mal começaram a libertar o odor a mofo. E os que resisti a ler eram naturalmente bons ou davam a volta irónica ao tema.
Mas o que destrói mesmo qualquer vontade é a sequência final, na qual se evoca uma escrita muito visual, cinematográfica até.
É assim: eu li o Raymond Carver logo que foi traduzido por cá nos anos 80 pela Teorema (De que falamos quando falamos de amor) e chegou-me quanto a essa escrita ?directa?, económica nos meios e para mim incompatível com os requebros de um romance que apresenta o ?amor como miragem?.
Combinando este dois tipos de lugar-comum só mesmo o Pedro Paixão e a sua abundantíssima produção de textos quase fotocopiados uns dos outros, num misto de pretensão metafísica e observação quotidiana.
Se Rodrigo Guedes de Carvalho é um Pedro Paixão king size, em forma de 250 páginas, deve ser um tormento bem difícil de sofrer para uma alma prosaica como a minha, avessa a estilos modernaços.
Mas até pode ser um bom escritor, atraiçoado por um(a) editor(a) com evidente carência de imaginação para apresentar um livro em poucas linhas.
E isso então até seria uma pena, digna da sua lástima.
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