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Você É o Próximo .....
(Hurwitz; Gregg)

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Capítulo 1Mike estava deitado no escuro, com o olhar fixo na babá eletrônica sobrea mesinha de cabeceira. Deveria se levantar dali a três horas, mas o sono nãotinha vindo como de costume. Uma mosca-varejeira circundava o quarto aintervalos regulares como se para garantir que ele continuasse acordado. Suamãe costumava dizer que uma mosca-varejeira perambulando pela casa significavaque o demônio estava vigiando a família – era uma das poucas coisas quelembrava a respeito dela.Por um momento, tentou recuperar algumas recordações menos mórbidasde sua infância. As poucas impressões que guardara não passavam de flashessensoriais. O cheiro de incenso de sálvia em uma cozinha de ladrilhos amarelos.Sua mãe lhe dando banho. A pele dela sempre bronzeada, cheirando acanela.A babá eletrônica começou a fazer barulho. Um estalo de estática. Ou seriaKat tossindo?Baixou o volume para não acordar Annabel, mas ela se mexeu embaixo doslençóis e disse com a voz rouca:– Querido, tem uma razão para chamarem isso de babá eletrônica.– Eu sei. Desculpe. Achei que tivesse ouvido alguma coisa.– Ela tem 8 anos. E é mais madura do que nós dois. Se precisar de algo, vaivir aqui e pedir.Era uma discussão antiga, e Annabel tinha razão, então ele tirou o som dababá eletrônica e voltou a se deitar, mal-humorado, encarando o aparelho, incapazde desligá-lo de uma vez por todas. Um pequeno equipamento de plásticoque continha os piores medos de um pai. Engasgo. Doença. Invasores.Em geral, os sons eram só ruídos de interferência ou cruzamento de outrasfrequências – um avião passando ou o bebê do vizinho espirrando por causade uma gripe. Às vezes, Mike ouvia até vozes. Podia jurar que havia fantasmasna maquininha. Murmúrios do passado. Um portal para sua mente semiconsciente,onde se podia ouvir uma alma sussurrar o que quer que fosse.Mas e se ele desligasse a babá justamente na noite em que Kat precisaria deles?E se ela acordasse apavorada e desorientada por um pesadelo, uma paralisiasúbita ou pelo feitiço demoníaco de uma mosca-varejeira e ficasse entorpecidapor horas, sozinha com seus temores? Como seria possível decidir qual seria amelhor noite para correr esse risco?De madrugada, a lógica e a razão sempre pegavam no sono antes dele. Todasas piores coisas que se podia imaginar pareciam possíveis.Quando ele enfim estava começando a adormecer, a mosca-varejeira deumais uma volta em torno da lâmpada e um segundo depois a babá eletrônica semanifestou de novo. Seria Kat chorando? Ele se sentou e esfregou o rosto.– Ela está bem – gemeu Annabel.– Eu sei, eu sei.Mesmo assim, Mike se levantou e foi ao quarto da filha.Kat estava debaixo das cobertas e dormia com a boca entreaberta, abraçandoum ursinho de pelúcia. Seu rosto sério era emoldurado por cabelos castanho--claros. Tinha puxado da mãe os olhos afastados, o nariz arrebitado e o lábioinferior carnudo. Considerando seus traços físicos e sua inteligência, às vezesera difícil dizer se Kat era uma versão de 8 anos da mãe ou se Annabel era umaversão de 36 anos da filha. A única coisa que a menina herdara de Mike tinhasido a cor dos olhos: um castanho-escuro e o outro âmbar. O nome desse fenômenoera heterocromia. Quanto aos cabelos cacheados, quem poderia saber dequem ela tinha puxado?Ele se debruçou sobre ela e ouviu o ruído de sua respiração. Depois se sentouna cadeira de balanço, no canto do quarto, e ficou observando a filha. Sentiuuma pontada de orgulho pela infância que ele e Annabel estavam proporcionandoa ela, a sensação de segurança que permitia que a menina tivesse umsono tão profundo.– Querido.Annabel estava de pé na soleira da porta, afastando as mechas de cabelo quetinham lhe caído na testa. Ela usava uma camiseta da Gap e uma cueca samba--canção dele e estava tão linda quanto na lua de mel, dez anos atrás.– Venha para a cama. Amanhã vai ser um dia importante para você.– Já vou, só um instante.Ela cruzou o quarto, deu um beijo nele e se arrastou de volta para a cama.O movimento dos quadris dela era hipnótico, mas os problemas que eleteria que resolver no dia seguinte não saíam de sua mente. Depois de umtempo, ele percebeu que não ia conseguir dormir mesmo, então foi à cozinhapara fazer um café. Quando voltou ao quarto da filha, bebericando alegrementeda caneca, seu olhar percorreu as paredes pintadas de amarelo-claro, afileira de bonecas na prateleira, Kat descansando de forma angelical. A únicainterrupção era o zumbido ocasional da mosca-varejeira, que o seguira pelocorredor.



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