A EDUCAÇÃO COMO GOVERNO
(ÁNGEL GABILONDO)
O artigo “La Educación como Gobierno”
- Ángel Gabilondo (08-02-2012 - jornal El País) aborda um tema relevante sobre
a Educação da pessoa que governa, do seu aprimoramento, pois ela diz respeito não
só a si, mas afeta a sociedade como um todo. Inicia com o Diálogo ilustrativo: - “Sócrates – Todo homem que não conhece
as coisas que estão nele, também não conhecerá as que pertencem aos outros.
Alcebíades – Isso é verdade.
Sócrates – Não conhecendo as coisas pertencentes
aos demais, não pode conhecer as do Estado.
Alcebíades – É uma consequencia necessária.
Sócrates – semelhante homem pode ser alguma vez um
bom homem de Estado?
Alcebíades – Não”. (Platão,
Alcebíades, 131 a-b)
E prossegue: - ‘... Educar-se é
governar-se. Quando os clássicos greco-latinos falam do cuidado e do próprio
aprimoramento, estão convocando a uma forma de educação que afeta toda a
existência e contribui na sua formação. É o cuidado consigo e com os demais’.
O
autor sugere a autocrítica e uma análise histórica dos limites que nos foram
estabelecidos, ao mesmo tempo em que se devem examinar as aberturas possíveis.
Ao falar das técnicas de dominação, lembra que foram esquecidas as técnicas da
formação da própria pessoa, ou seja, dos procedimentos que contribuem na
formação pessoal para que sejamos quem somos.
Para
quem considera que a educação não é a simples aquisição de conhecimentos e
pensa que é decisiva a transformação dos valores, com os valores, para quem
pensa que conhecimentos, competências e valores estão em concordância, essa
transformação exige determinadas formas de viver. Estas formas de viver se
expressam em cada gesto, em cada ação, em cada palavra, em nosso comportamento
e em nosso desejo.
-
Como aprender? - Não vamos separar essa questão da de como nos constituímos a
nós próprios como indivíduos, até chegar a ser artesãos, artífices, da beleza e
dignidade de nossa própria vida. Trata-se de cuidar-nos de nossas condutas e de
nossas relações conosco e com os outros, até procurar uma autentica recreação.
Tudo
isso tem um alcance político, que inclui a coragem da curiosidade de pensar se
seremos capazes de chegar a ser outra pessoa. Corresponde a práticas que produzem
verdadeiras transformações da pessoa. Transformações que por sua vez são
transformações da sociedade.
Se
avançarmos nestas considerações, coloca-se em questionamento muitas de nossas
idéias preestabelecidas sobre o político, o público e o comum. E talvez também
encontremos na própria palavra ‘economia’ algo que nos ajude a pensar nessa
direção. Como lei da casa, nos chama ao comando da casa, como se governa um
navio. Mas se ignoramos que a Economia é uma ciência social, uma ciência humana
e, ainda que soe redundante, vinculada às vicissitudes dos vais vens e das ações humanas, então vem a ser
considerada tecnocracia, que se rege e se comporta à margem de nossas vontades
e se impõe sobre elas. Esta economia mal educada deixaria de ser governo para
ser dominação.
Não
se pode falar disto como se não nos dissesse respeito, como um fator externo e
independente de nossas ações. O cuidado de cada um, a dedicação, a cultura que
isso requer, são determinantes, inclusive para garantir e legitimar nossa relação
com os demais. Alcebíades pergunta a Sócrates sobre como preparar-se para a
ação pública. A resposta se concentra no cuidado de si próprio. “Se uma pessoa
não é capaz de governar-se a si próprio, como vai governar a cidade?
Pois
bem, educar-se não é ocupar-se individualmente do que nos afeta e ignorar os
outros, nem esquecer-se do comum, da comunidade, da comunicação; é sentir-se
vinculado a uma tarefa que precisa de nossa máxima dedicação, a da
transformação.
Aqui
também se requerem novas formas de participação, não só as que decidem, ou buscam
sua participação, mas as que se sabe que fazem parte de um projeto partilhado.
A educação é assim uma tarefa coletiva. Sem esta convicção, o que chamamos de
governo, resulta de olhar curto. Alcebíades é chamado a procurar a justiça e a
sabedoria, e para isso, se lhe diz: tem que “administrar e cuidar de si e de
seus assuntos, como também da cidade e das coisas da cidade” – e isto também é
economia, mas com educação.
Conclusões
– o ‘conhece-te a ti mesmo’, cuidar da própria educação em primeiro lugar, deve
ser o objetivo de toda a educação, inclusive de quem governa, pois o que o governante é se refletirá no
coletivo, na sociedade.
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