Pedro romance de um vagabundo
(Manuel Mendes)
Manuel Mendes (1906-1969), entre
todas as suas atividades, deixou-nos boa prosa e um Romance estruturado de
forma muito curiosa. Pedro romance de um vagabundo poderia ser, perfeitamente,
um livro de contos se a personagem, Pedro um pedinte errante pelos caminhos da
vida e da misericórdia, não fosse a personagem central e vital do livro.
Afirmou o autor que era uma obra escrita em Língua vulgar e de maneira singela;
afirmo eu que é verdade, mas, com uma particularidade que torna este romance
comovente e numa autêntica lapa para quem se atreve a iniciar a sua leitura: o
psicologismo da personagem central e das personagens acessórias que desaparecem
quando acaba o capítulo como se de um conto se tratasse. Pedro e as restantes
personagens do romance, pedintes ou misericordiosos, estão marcados por um Ser
e um existir profundo. Falando, coloquialmente, dir-se-ia: pessoas marcadas.
Pedro era um jovem camponês; um
aldeão que os costumes e as mentalidades abocaram irremediavelmente ao desterro
errante sobrevivendo da esmola e do aconchego das estrelas. O País que era
Portugal na década dos 50 fica mais que plasmado; fica escarrapachado. O
realismo invade-nos; absorve-nos e esclarece-nos. Do meio familiar, Pedro, era
a figura virada para a introspeção. Não entendia as quezílias e honras do
lugarejo. Não entendia aquela vida, tal como não entendeu a vida militar.
Dramaticamente, depois da vida militar, vem o casamento patado com antecedência
e a desonra do acordo quebrado. O teatro da tragédia começa a mascar-se. Os
ódios avivam-se e alimentam-se. Pedro, ausente daquelas vontades, é o ator que recusa
ser o sujeito; em silêncio, observa e é alvo de toda a pressão; a maldita honra
familiar fora vexada e gritava: vingança. Pedro não sentia a honra, nem o
vexame.
Um dia maldito os ódios reuniram-se.
A assuada instalou-se. Todos batiam; todos levavam; Pedro permanecia ausente. O
vulcão e o sentimento; o perigo e a impressão da pancadaria provocaram a reação
do moço que todos viam como vexado, menos el. Içou o falo mortífero. Matou. Abandou
arma ocasional e lugar. Partiu. Deambulou. Amou ocasionalmente mulher sem vida.
Sofreu a eterna rudeza policial. Pediu esmola, muito tempo ido, à sua própria
casa. Morreu.
Manuel Mendes, escritor, escultor
e ativista antissalazarista, com este livro que talvez só se encontre nas Livrarias
Alfarrabistas, deixou-nos o retrato de uma época e de um compromisso social
contra a miséria e o absurdo social e político. É um romance necessário para as
nossas vidas.
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