A Provação de Oxóssi
(Reginaldo Prandi)
Olodumare chamou Orunmilá e o incumbiu de trazer-lhe uma
codorna. Orunmilá explicou-lhe as dificuldades de se caçar codorna e rogou-lhe
que lhe desse outra missão. Contrariado, Olodumare foi reticente na resposta e
Orunmilá partiu mundo afora a fim de saciar a vontade do seu Senhor. Orunmilá
embrenhou-se em todos os cantos da Terra. Passou por muitas dificuldades, andou
por povos distantes. Muitas vezes foi motivo de deboche e negativas acerca do
que pretendia conseguir. Já desistindo do intento e resignado a receber de
Olodumare o castigo que por certo merecia, Orunmilá se pôs no caminho de volta.
Estava ansado e decepcionado consigo mesmo.
Entrou por um atalho e ouviu o som de cânticos. A cada passo,
Orunmilá sentia suas forças se renovando. Sentia que algo de novo ocorreria.
Chegou a um povoado onde os tambores tocavam louvores a Xangô, Iemanjá, Oxum e
Obatalá. No meio da roda, bailava uma linda rainha. Era Oxum, que acompanhava
com sua dança toda aquela celebração. Bailando a seu lado estava um jovem
corpulento e viril. Era Oxóssi, o grande caçador.
Orunmilá apresentou-se e disse da sua vontade de falar com
aquele caçador. Todos se curvaram perante sua autoridade e trataram de trazer
Oxóssi à sua presença. O velho adivinho dirigiu-se a Oxóssi e disse que
Olodumare o havia encarregado de conseguir uma codorna. Seria esta, agora, a
missão de Oxóssi. Oxóssi ficou lisonjeado com a honrosa tarefa e prometeu trazer
a caça na manhã seguinte. Assim ficou combinado.
Na manhã seguinte, Orunmilá se dirigiu à casa de Oxóssi. Para
sua surpresa, o caçador apareceu na porta irado e assustado, dizendo que lhe
haviam roubado a caça. Oxóssi, desorientado, perguntou à sua mãe sobre a
codorna, e ela respondeu com ares de desprezo, dizendo que não estava
interessada naquilo. Orunmilá exigiu que Oxóssi lhe trouxesse outra codorna,
senão não receberia o Axé de Olodumare. Oxóssi caçou outra codorna, guardando-a
no embornal. Procurou Orunmilá e ambos dirigiram-se ao palácio de Olodumare no
Orum. Entregaram a codorna ao Senhor do Mundo. De soslaio Olodumare olhou para
Oxóssi e, estendendo seu braço direito, fez dele o rei dos caçadores. Agradecido
a Olodumare a agarrado a seu arco, Oxóssi disparou uma flecha ao azar e disse
que aquela deveria ser cravada no oração de quem havia roubado a primeira
codorna. Oxóssi desceu à Terra. Ao chegar em casa encontrou a mãe morta com uma
flecha cravada no peito. Desesperado, pôs-se a gritar e por um bom tempo ficou
de joelhos inconformado com seu ato. Negou, dali em diante, o título que
recebera de Olodumare.
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