A Jangada de Pedra
(José Saramago)
Quando Joana Carda riscou o chão com a sua vara de negrilho(ulmeiro) num lugar remoto de Portugal não imaginava o que tal gesto iria provocar. Por essa altura andava um homem a passear na praia e esse homem era Joaquim Sassa. Ele llançou ao mar pedra tão pesada que até a si lhe custava perceber como o tinha podido fazer. Pedro Orce levantou-se da cadeira onde se sentara e bateu com os pés no chão e a terra estremeceu. E falta esta mulher, Maria Guavaira que achando um pé de meia de lã feito o vai desenrolando e o fio nunca mais acaba. As primeeiras fendas apareceram nos Montes Alberes e no golfo da Biscaia e assim a península ibérica dos seus vizinhos europeus se foi lenta mas pacientemente, afastando. A fenda foi-se aprofundando e cimento foi para lá lançado na esperança de travar o inexoravel abatimento da terra mas de nada valeram os esforços, a península ibérica separara-se da europa e apntou ao mar, uma vez mais como barca gigante nas ondas sustida. Entra na história, José Anaiço, um ribatejano que leva consigo um bando de estorninhos. E todos se puseram á procura uns dos outros nesta península que já é jangada vogando no mar dos espantos. Espanto, curiosidade, riso e maldade, tudo os europeus sentiram por esta nesga de terra composta por dois países. Muitas foram as peripécias que se passaram, muitos mistérios se revelaram, só mesmo lendo se compreende o tanto de importante que é uma terra que da terra se separa seja por causa da vara de Joana Carda, dos pés de Pedro Orce, da força de Joaquim Sassa ou do sentido de orientação dos estorninhos de João Anaiço, mas um dia a terra vai parar de estremecer debaixo dos pés das pessoas e a jangada vai encalhar no meio dos mar dos portentos resguadada.
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