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Dead Man
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Sinopse. Faroeste
existencialista em preto e branco. Século XIX. O contador William Blake
atravessou todo o país de trem, vindo de Cleveland para chegar na pequena
Machine, em busca de emprego numa metalúrgica. Descobre então que a vaga que
lhe havia sido prometida já está ocupada e, enxotado, fica sem ter para onde
ir, pois empenhou seus últimos recursos na viagem. Uma boa alma, a bela Thel, o
recolhe para sua casa, onde passam juntos a noite. Na manhã seguinte, porém,
Charlie, ex-noivo de Thel, vem tomar satisfações e, na troca de tiros, apenas Blake
sobrevive, embora com uma bala alojada no peito, fugindo para a floresta.
Enquanto John Dickinson, dono da metalúrgica e pai de Charlie, contrata profissionais para caçarem o assassino de seu filho, Blake é
encontrado na floresta pelo índio Ninguém, que o confunde com o poeta
William Blake e o ajuda na fuga.



Comentário. Na irresistível
filmografia construída até aqui – com títulos como Estranhos no Paraíso, Down by
Law, Uma noite Sobre a Terra e Sobre Café e Cigarros –, o cineasta e
autor norteamericano Jim Jarmusch vinha apresentando semelhanças formais e
temáticas. Em seus filmes, a maioria em preto e branco, independentes e de
baixo custo, os diálogos se sobressaíam à ação, e a narrativa se estruturava
num olhar curioso, irônico e sutil, não raro poético, sobre a questão da
identidade contemporânea nas cidades. Num café ou num táxi, tipos aparentemente comuns iam revelando, no contato com o outro, em
falas naturais e aparentemente improvisadas, particularidades que terminavam
por deixá-los cativantes.



Com
este Dead Man (EUA/Alemanha/Japão,
1995), as mudanças de cenário, de época e de orçamento (até então, este foi o
filme mais caro do diretor) não modificaram o estilo e o texto de Jarmusch.
Pelo contrário, a transposição para um filme de época, e de uma época de
formação da identidade do povo americano, é quase uma consequência
natural do interesse apresentado nos filmes anteriores. Dead Man parte da premissa do protagonista solitário que abandona
tudo e se arrisca em um novo começo para a sua vida. E recomeços dificilmente são fáceis, é
o que sugere o estranho passageiro no trem que decreta logo: “Você está cavando a sua própria sepultura”.



A
viagem, obviamente, não será apenas geográfica. O novo mundo
vem com um choque atrás do outro para o até então ingênuo contador. Ainda no
trem, passageiros nas janelas se divertem atirando nos búfalos que pastam; na
cidade, crânios e ossos se espalham pelas calçadas e são parte da decoração das
casas; em plena luz do dia, no meio da rua, um casal pratica sexo oral sem que
ninguém se importe. E, na metalúrgica onde acreditava que iria trabalhar, Blake
é humilhado sob a mira de um rifle. Seria uma jornada fadada ao
fracasso e à desilusão, não fosse o encontro casual com Thel, a jovem
encantadora que leva Blake para casa, lhe mostra as suas flores feitas de
origami e com quem se deita. Mas o prazeroso descanso dura
pouco, e novamente o contador se vê em movimento, desta vez fugindo, ferido e com a cabeça a prêmio.



É
como se começasse nova viagem. A relação com Ninguém, o índio cuja história
daria um filme à parte (capturado pelos brancos após assassinar um deles ainda
criança, seria levado e exibido como curiosidade na alta sociedade, em turnê
que atravessaria o Atlântico até o Reino Unido, onde ele conseguiria se dedicar
aos estudos e conhecer a obra de William Blake, cujo espírito julga ter
encontrado – daí o homem morto do
título), começa com uma série de desencontros na comunicação, além dos
inevitáveis trocadilhos. De provérbios indígenas a poemas de seu homônimo
famoso, nada do que Ninguém fala faz sentido para Blake. Aos poucos, no
entanto, o contador vai entendendo não
apenas o índio, mas também o próprio espaço que o cerca. São interessantes as
cenas em que Blake passa a reparar em pedras, nuvens e na casca de uma árvore.
E belíssimo o momento em que encontra um filhote morto de cervo. Reflexos de
uma cultura indígena que o diretor pesquisou e, respeitosamente, incluiu no
filme, com índios de verdade como atores e diálogos em sua língua original.



Como
Blake, Ninguém (interpretado por Gary Farmer, um indígena de verdade), cujo
nome original é Exaybachay, é um solitário desgarrado, expulso de sua tribo por
suas raízes mestiças (mãe e pai de tribos diferentes e rivais) e que, apesar de
a todo instante repetir o bordão “Stupid fucking white men!”, soube adicionar à
sua criação as coisas boas da filosofia dos brancos. Personagem rico, mais um à
procura de sua identidade, reapareceria no filme seguinte de Jarmusch, Ghost Dog – O Caminho do Samurai. O
autor, a propósito, é conhecido pelo valor dado a seus personagens, geralmente
interessantes mesmo quando pouco aparecem. Aqui, vê-se, entre outros, um
assassino tagarela que dorme abraçado a um bicho de pelúcia; outro
(interpretado por Lance Henriksen), que é um canibal sanguinário que sofre de
dor de dente; e por aí vai.



Há,
ainda, no filme, várias referências culturais e homenagens. Além dos textos
recitados por Ninguém, alguns personagens têm seus nomes utilizados como
citações, seja a William Blake ou à cultura pop, seja na forma do texto ou do
elenco – os xerifes chamados Lee e Marvin são a referência mais explícita. No
elenco, vê-se tanto a presença do ícone Robert Mitchum, interpretando o dono da
usina que promove a caça ao protagonista, quanto o cantor Iggy Pop, já visto
em Sobre Café e Cigarros, aqui no papel de uma mulher. O clima introspectivo e contemplativo do filme, cuja
chegada de Blake a uma aldeia indígena é o ponto alto, é acentuado pela trilha
sonora, assinada pelo músico Neil Young. A guitarra melancólica de Young é tão
boa que nos faz permanecer atentos na tela, durantes os créditos finais, só
para continuar ouvindo a música.



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