Oscar
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OSCARA primeira vez que ouvi falar em Oscar (Oooo...scar) lá em casa cheguei até a ensaiar uma discussão: não é Oooo...car, mas sim Oscaaaar....Não fui adiante. Logo me explicaram que a palavra Oscar no inglês tem pronúncia diferente: a tônica é na primeira sílaba. Disseram-me também que Oscar era uma estatueta banhada em ouro destinada à premiação de filmes e atores nos Estados Unidos.Na ocasião frequentava o Grupo Escolar não com muito ânimo. Preferia mesmo era jogar futebol e ir ao Cine Bandeirantes da rua Osvaldo Cruz, que tinha um gerente respeitado, sisudo, de pouca conversa. Era a sina da molecada.Com fulminante olhar conduzia o Bandeirantes e mandava ficar quieta a turma do gargarejo das duas primeiras filas da plateia. Lá era meu lugar preferido perto dos amigos vizinhos Zeca, Drague, Quirino, seus irmãos, Zé Roberto, Sérgio Paulo, Salim Pedro, Zezé, Chico e outros cuja memória já não alcança. Qualquer alteração ou brincadeira e lá vinha o lanterninha com aquela luz chata na sua cara, comandado pelo gerente, que muitas vezes ia resolver a questão pessoalmente e de surpresa. De vez em quando a gente via um maior ser colocado para fora da casa e aí todos nós ficávamos quietinhos, só se ouvia o desembrulhar das balas.Curiosamente o gerentão se chamava Oscar, pura coincidência com o prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.Ir ao cinema era uma festa e quando sobrava alguma gaita o filme ficava mais gostoso com as balas Piper e Toffee/Dea adquiridas na baleira do cinema ou na Padaria Menezes. Em casa só se podia ir a uma sessão de cinema durante a semana e à vesperal do domingo. Na matinê eram exibidos dois filmes longa metragem seguidos, mais um capítulo de seriado. Acontece que na segunda-feira, além do filme em cartaz, era exibido o seriado do “Superman” ou do “Fu-Manchu”, enquanto que toda sexta-feira era a vez da série do “Flash Gordon” ou do “Homem Foguete”. Daí, como conseguir as moedas ou notas de cruzeiros para poder ir ao cinema nesses dois dias?A solução logo foi encontrada. A meia entrada custava dois cruzeiros. Era só vender litros de vidro pra fábrica de goma arábica e água destilada do Seu Aparecido, pertinho de casa, ou alguns quilos de jornal velho no bar do japonês da Olavo Bilac, o ingresso estava garantido.No cinema tudo era maravilhoso. Cobrindo a tela branca e do mesmo tamanho dela fizeram inserir em toda sua extensão várias propagandas de lojas e produtos da cidade. Ficávamos perguntando um ao outro onde estava essa ou aquela palavra. Era coisa de criança, um exercício gostoso para passar o tempo. O burburinho aumentava aos primeiros acordes de “Fascinação”, na voz de Carlos Galhardo, anunciando que a sessão iria começar, após o toque mágico de três sinais e o apagar das luzes, iniciando-se com os noticiários. Não perdia um capa espada com o Errol Flynn, Tyrone Power, nem os bang-bangs do John Wayne, do Durango Kid, do Zorro, do Roy Rogers, do Hopalong Cassidy, muito menos as comédias do Gordo e o Magro, Os Três Patetas, Carlitos, Bob Hope e naturalmente os desenhos animados. Gostava de ver na tela as maravilhosas Lana Turner, Ava Gardner, Ester Willians, Yvone de Carlo, Rita Hayworth e outras. Às vezes a mãe levava-nos, eu e minhas irmãs, para ver alguns dramalhões mexicanos como “Deus lhe Pague” e as cantorias da Libertad Lamarque, sem falar no então sonolento “E o Vento Levou...”, que depois o elegi como verdadeira obra-prima do cinema, com sua música e drama inesquecíveis e um elenco de primeira...Até hoje o cinema me cativa e o frequento com habitualidade. Há anos passei a assistir em casa um filme todos os dias, o que a tecnologia eletrônica tem facilitado com as modernas TVs HD, Smart, 3D, home theaters, computadores, tablets etc., podendo-se ver filmes de todos gêneros e gostos, bem como as inúmeras séries de TV que estão mudando a rotina do telespectador que vai se acostumando a ver temporadas inteiras numa tacada só, ao invés de assistir apenas um simples e curto capítulo semanal.Todos que viveram aquele tempo gostoso e feliz da “aurora da minha vida, que não volta mais...”, com certeza, sentem hoje a falta daquele verdadeiro pai e guardião dos nossos filmes e sonhos da infância, o Seu Oscar. Sua imagem ficará para sempre nos nossos corações. Dele iremos nos lembrar sempre que pensarmos em cinema e todos os anos quando ocorrer a premiação do Oscar dos melhores de Hollywood.
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