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A Solidão de uma Corrida Sem Fim
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Sinopse. Drama. O jovem
Colin Smith acaba de chegar ao reformatório Ruxton Towers, punição por ter
roubado uma padaria com um amigo. De origem operária e revoltado com sua
condição, fará amigos e inimigos entre os demais rapazes, enquanto é forçado a
seguir a rigorosa disciplina da instituição. Paralelamente às lembranças de sua
vida antes do confinamento, quando vivia num pequeno apartamento com o pai
doente, a mãe adúltera e mais quatro irmãos pequenos, Colin ganhará a simpatia
do diretor do reformatório, impressionado com a sua velocidade e resistência
nos exercícios de corrida, que o inscreverá nas provas de atletismo contra uma
escola.



Comentário. Para o cinema
europeu, o período entre os anos 1940-60 foi de intensa agitação. Com o neorrealismo
na Itália e a nouvelle vague francesa, principalmente, uma
filmografia contestatória, oposta à narrativa tradicional e buscando na classe
operária os protagonistas de suas obras, fazia despontar uma geração de
cineastas como Roberto Rosselini e François Truffaut, enfatizando o conceito de
diretor autor. As mudanças
acompanhavam o contexto histórico: a Europa vinha da devastação causada pela
Segunda Guerra Mundial, e para aqueles jovens o cenário que retratavam era de
contraste e opressão econômica e social. A inquietação e o desejo de mudança,
assim, estendiam-se para as artes.



No
Reino Unido não seria diferente. Embora ofuscado no cenário internacional pelos
correspondentes italiano e francês, o movimento inglês seria batizado como Free
Cinema, e seus realizadores, encabeçados pelos nomes de Lindsay Anderson e Tony
Richardson, seriam conhecidos como young
angry men, os “jovens raivosos” do novo cinema. Com direito a detalhado manifesto,
os angry men buscavam trazer para o
público a realidade e a atitude que faltavam no “entediante” cinema inglês de
então.



Junto
com Se..., de Lindsay Anderson, este A Solidão de uma Corrida Sem Fim (The Loneliness of the Long Distance Runner,
Reino Unido, 1962), de Tony Richardson, são dos principais representantes do
Free Cinema. Já nos créditos iniciais, uma bela sequência em preto e branco de
Colin correndo sozinho pela estrada, ele informa ao espectador que sua família
sempre correu, “especialmente da polícia”. “Tudo o que sei é que se deve correr”,
ele continua, “e ser o vencedor não é a meta. (...) Esta é que é a solidão do
corredor de longa distância”.



Pequenos
furtos, uma vida sem planos e muita insatisfação. Colin Smith vivia num mundo
onde o pai, outrora líder operário, jazia doente na cama, relegando ao
esquecimento as palavras de ordem e a certeza do fim da exploração dos patrões
sobre os trabalhadores. A mãe, como ele mesmo dizia, pusera o amante dentro de
casa antes mesmo que o cadáver do marido esfriasse. Os quatro irmãos, dois
casais, nada faziam além de gritar e pedir. Com o seguro obtido da morte do
patriarca, a família passou o dia em lojas gastando dinheiro e comprou uma
televisão. Colin, entretanto, pôs fogo na parte que lhe coube.



O
filme segue alternando as lembranças com o dia-a-dia no reformatório. Há uma
divergência entre Brown, o diretor de Ruxton Towers, e o novo psicólogo. Enquanto
este deseja curar a agressividade dos internos, aquele busca canalizá-la para
algo útil. “A vida é mais complicada do que uma partida de futebol”, diz o
psicólogo, impedido de prosseguir com sua teoria pela autoridade maior. Braxton,
ele mesmo um ex-corredor, pensa apenas no prestígio da instituição diante do
campeonato à frente, sonhando mesmo com os jogos olímpicos ao ver o talento de
Colin como velocista. Por isso o estimula e lhe dá tratamento diferenciado. Até
sorri, como observa um dos internos.



Colin,
no entanto, ainda que pareça abraçar as expectativas do diretor, levando mesmo
seus colegas a perguntarem de que lado ele está, se recusa a ser “domesticado”.
Em seus únicos momentos de liberdade, quando está correndo pelos campos e
treinando para a competição, a alegria cobre-lhe a face junto às recordações da
vida fácil, irresponsável e divertida com o amigo Mike e a namorada Audrey, que
conheceu após roubar um carro. É nesses momentos, emoldurados por jazzística
trilha sonora de John Addison, que a carranca de Colin dá lugar à feliz
exaustão que aqueles que correm (ou já correram, como este missivista) conhecem
bem.



E
é em sequências como estas que a direção converte em imagens a mensagem do Free
Cinema. Misturando passado e presente em flash
backs às vezes abruptos, a narrativa não se furta à ironia em recursos como
a câmera rápida na chegada ao reformatório, quando os jovens são obrigados a se
despir, ou a música infantil quando a família vai às compras. A montagem, assinada
por Antony Gibbs, torna-se então alucinada no clímax do filme, quando à aguardada
prova de velocidade juntam-se, desordenada e intensamente, flashes de
lembranças, falas e pensamentos na cabeça de Colin, para descambar num
inesperado final.



O
filme é baseado em conto de Alan Sillitoe, também autor do roteiro esperto e
repleto de bons diálogos. O elenco, todo ele, é correto e convincente, ainda
que o protagonista Tom Courtenay aparente mais idade do que seu personagem. Encerrado
o filme, o que fica é a impressão de uma desconcertante ironia.



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