Solaris
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Sinopse. Drama / ficção
científica. Após a divulgação das estranhas visões experimentadas pelo piloto
que participou de um resgate na órbita do planeta Solaris, o governo soviético
envia o psicólogo Chris Kelvin ao encontro dos três cientistas que ainda
permanecem na estação espacial que circunda o planeta. Solaris é basicamente
formado por um imenso oceano que, aparentemente, está provocando alucinações
coletivas na tripulação, desde que uma operação terrestre bombardeou sua
superfície com radiação. Assim, mal chega à estação e Kelvin, após travar
contato com os cientistas Sartorius e Snaut (o terceiro, Gribaryan, cometera
suicídio), passa a ser incomodado pela impressão de haver mais gente ali além
deles. Até que, ao despertar, se vê diante de Hary, sua esposa que falecera dez
anos antes.
Comentário. É da natureza do
homem conhecer. Buscar, desbravar, descobrir, são ações que caracterizam a raça
humana e a vêm movendo desde a origem. O homem busca porque necessita
respostas. Afinal, é delas que se faz o tal conhecimento.
O
problema é que o homem não é um ser simples. E em sua complexidade toma
caminhos diversos, tanto na maneira de obter o conhecimento quanto no uso que
dele irá fazer. Assim, a forma com que se relaciona com o mundo (único jeito de
obter conhecimento sobre ele) é feita de equívocos e distorções, porque reflete
o modo com que o homem lida com si mesmo.
A
necessidade de conhecer-se antes de conhecer o outro é apenas uma das muitas
leituras permitidas por este filme. Considerado à época de seu lançamento como
a resposta soviética ao 2001: Uma
Odisseia no Espaço do americano Stanley Kubrick, Solaris (Solaris, URSS,
1972) é mais um ensaio poético-filosófico sobre a existência do que uma obra de
ficção científica propriamente dita. Tanto que seu diretor, Andrei Tarkovsky,
quis mesmo extrair do roteiro (escrito por Tarkovsky com Fridrikh Gorenshteyn)
tudo o que nele havia de ficção científica. Só não o fez porque Stanislaw Lem,
autor do romance que originou o filme, ameaçou cancelar a cessão de direitos
para a filmagem.
Diz-se
que Tarkovsky não gostou de 2001. Que
considerou a odisseia de Kubrick fria e vazia. É curioso, no entanto, como a
mesma estranheza, a mesma reverência diante do desconhecido e a mesma abordagem
quanto à existência de uma inteligência superior (extraterrestre ou divina, não
importa) assemelham as duas obras. Uma referência direta pode ser mesmo
identificada quando Burton, o piloto responsável pelo resgate inicial, alega em
seu depoimento ter se deparado no espaço com a enorme figura de uma criança.
Que é justamente a imagem final de 2001.
É
certo que Tarkovsky está menos interessado no espaço exterior do que no
interior. É na maneira como seus personagens são afetados pela atmosfera do
planeta Solaris – e do seu Oceano,
entidade metafórica que, trazendo para a realidade os desejos da tripulação,
também os revela – que o filme se detém. É acompanhando a derrocada emocional
de Chris, antes um psicólogo contido e racional, que se vê tomado por um
sufocante amor, que jamais sentira pela esposa quando ela era viva. A nova
Hary, por sua vez, ao tomar conhecimento através de filmes antigos de que não
passa de uma cópia, não se reconhece mais e se deixa arrasar pela crise de
identidade. Ama Chris, mas não sabe quem ou o quê ela mesma é, nem se é de fato
para ela direcionado o amor outro, ou se para uma lembrança. Angustiada, Hary
tenta o suicídio, mas, por ser uma projeção, ela retorna. Diversas vezes. Cada vez
mais humana.
Assim,
num cenário em que nada parece acontecer e o tempo se arrasta, Chris vai se
distanciando da realidade. Elementos de sua casa na Terra e de seu passado
(plantas, livros, xícaras, a mãe e o cachorro) vão surgindo na estação
espacial. A própria estação se modifica, com uma biblioteca decorada com
quadros, candelabro e um grande lustre, onde se comemora o aniversário do
cientista Sartorius. “A loucura seria uma salvação”, diz um dos personagens.
E
com essa loucura silenciosa e inerte Tarkovsky parece querer demonstrar o
quanto o homem não está preparado para as estrelas, já que se perde com tanta
facilidade dentro de si mesmo. “Não nos importamos com o cosmos, o que queremos
é um espelho”, decreta Sartorius. Por isso, enquanto os cientistas divagam
longamente sobre sua condição, o espectador é presenteado com imagens
belíssimas da natureza, o espaço exterior que o homem vem ignorando. Seja no
movimento suave das plantas em um lago, na Terra, ou no lento redemoinho do Oceano (que alguns entenderam como o
correspondente ao monolito de 2001), contrapostos
a uma longa sequência onde carros percorrem como que eternamente uma via
urbana, atravessando túneis e sendo presos em engarrafamentos, Tarkovsky deixa
clara a sua opção. Solaris, ainda que
lento em demasia, termina por ficar na cabeça no espectador como obra
misteriosa e poética, impressão acentuada com o belo e inteligente final.
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