Álcool, protagonista no desenvolvimento de cancros
(Marta Varela-Rey; Ashwin Woodhoo; Maria-Luz Martinez-Chantar; José M. Mato; Shelly C. Lu)
O
consumo contínuo e abusivo de álcool está intimamente associado ao
desenvolvimento de cancros (carcinogénese), especialmente do trato
aerodigestivo (cabeça, pescoço, cavidade oral, faringe, laringe e esófago),
cancro do pulmão, cólon e cancro da mama.
Segundo
WHO (World Health Organization), o álcool é responsabilizado pela morte, a
nível mundial, de cerca de 1,8 milhões de pessoas, por ano, sendo o desenvolvimento
de cancro a consequência clínica mais significativa do seu consumo. Todos os
anos, são diagnosticados cerca de 125 000 novos casos de cancro do trato
aerodigestivo na Europa, dos quais, mais de metade revelam-se fatais. O cancro
do pulmão é a maior causa de morte, sendo a infeção pelos vírus da hepatite B e
C, a exposição a substâncias tóxicas e o alcoolismo crónico, os fatores de
maior risco. Em segundo lugar está o cancro da mama, em que menos de uma bebida
diária aumenta o risco em cerca de 4% e em cerca de 40 a 50%, se a dose passar
a três ou mais bebidas diárias. Neste campo, o fator menopausa aumenta ainda
mais o risco de cancro da mama, facto que deverá estar associado a uma produção
aumentada, pelo álcool, de estrogénio no sangue. A exposição a estrogénio pode
levar a metilações aberrantes do DNA, associadas à carcinogénese na mama.
O
cancro do cólon, o terceiro mais comum e segundo mais mortífero mundialmente,
está, também este, intimamente associado ao consumo excessivo de álcool,
nomeadamente hipometilação do DNA.
Explicação científica:
São
vários os fatores que contribuem para o desenvolvimento do cancro devido ao
álcool, nomeadamente a ação de acetaldeído – composto primário do metabolismo
do álcool – e stress oxidativo. Novas evidências sugerem um outro mecanismo que
induz a carcinogénese mediada pelo álcool: alterações no padrão de metilação
(adição de grupos metilo, CH3) do DNA, importante para o controlo da
expressão génica. O DNA encontra-se metilado em locais específicos e a
metilação é associada à repressão da expressão génica. As células cancerígenas
apresentam uma menor metilação (hipometilação) e consequente maior expressão do
seu DNA, sendo este fator um marco relevante no desenvolvimento do cancro. A
metilação do DNA é mediada por enzimas designados por DNA metil-transferases,
que transferem o grupo metilo de moléculas dadoras para o DNA. O álcool diminui
a metilação do DNA por diminuir a disponibilidade da principal molécula dadora
de grupos metilo, SaMe (S-adenosilmetionina) e por inibir a atividade dos
enzimas DNA metil-transferases. Uma outra forma de o álcool provocar este
efeito é a nutrição deficiente, muito frequente em alcoólicos crónicos, que leva
à diminuição na quantidade de lipotropos - compostos importantes dadores de
grupos metilo – e consequente alteração na produção de SaMe e hipometilação.
Os
padrões de metilação do DNA são, atualmente, usados como marcadores para a
deteção do cancro, prognóstico tumoral e previsão de respostas ao tratamento.
Apesar do esforço em entender os mecanismos que levam o consumo de álcool a
padrões de metilação do DNA alterados, é necessário que estes mecanismos seja
melhor caracterizados, de forma a desenvolver terapias anti-cancerígenas eficientes.
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