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Diálogos da vida 2 – o que é trabalhar?
(Amauri Nolasco Sanches Junior)

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Em
uma das empresas que estão em nosso território nacional, está uma
cadeirante publicitaria em mais uma entrevista:


mocinha
cadeirante – bom dia! Eu vim a uma entrevista para a vaga de
publicidade no setor de marketing.


Mocinha
do RH – sim, você tem aqui no currículo que tem formação em
publicidade e que também é formada em excell e outros componentes
do Office e outros. Você sabe excell?



Mocinha
cadeirante – a senhora leu no meu currículo que tenho curso de
excell...além do mais, para saber publicidade eu tenha que mexer
nesses programas. Não?



Mocinha
do RH – desculpe, mas essa pergunta está no minha lista de
perguntas que tenho que seguir, senão, minha cabeça roda aqui.
Entende? Então, já que sabe excell como é que você usa o
computador? Tem alguma dificuldade motora que lhe impeça de mexer
nesses equipamentos?


Mocinha
cadeirante – não.



Mocinha
do RH – já teve algum emprego?


Mocinha
cadeirante – não, nunca me deram uma oportunidade.



Mocinha
do RH – você sabe ir ao banheiro? Tem alguma dificuldade de ir
lavar a mão?



Mocinha
do cadeirante – não. Só tenho dificuldade de entender o porque
disso, mas não tenho nenhuma dificuldade de ir ao banheiro.



Mocinha
do RH – não tem nenhum problema para andar em ambientes que tenham
muitas pessoas?


Mocinha
cadeirante – se tiver acesso a minha cadeira de rodas, não!


Mocinha
do RH – vou ali e já venho.



Depois
de 15 minutos.



Mocinha
do RH – você tem um currículo ótimo, mas seu problema é a
cadeira de rodas, porque não tem espaço para trafegar sobre nosso
escritório e entrar em nossos banheiros. Precisamos de pessoas com
deficiência que saibam falar corretamente, saibam andar
corretamente, que saibam sentar corretamente. Além do mais, nossos
banheiros não servem para você, mas claro, tem um currículo
invejável e muito bom.



Mocinha
cadeirante – isso é discriminação!


Mocinha
do RH – em absoluto! Estamos te falando o que realmente acontece
dentro de uma empresa de publicidade, querida! Você já viu um
Justus de cadeira de rodas? Você já percebeu que só temos Don
Drapers* da vida, bonitões, cheios de vigor e cheios de sorrisos bonitos de
comercial de pasta de dentes. Afinal, nós vendemos a imagem que as
pessoas querem, as pessoas querem o que elas não precisam, por puro
desejo. Quem desejaria uma mulher com deficiência em uma cadeira de
rodas, em muletas, com espasmos que não pudesse satisfazer todos os
desejos masculinos e se for homem nunca dará segurança e satisfação
a uma mulher? Por isso desejamos ter funcionários bonitos e
perfeitos para satisfazer a imagem de um escritório harmonioso e
perfeito ao nossos clientes. Assim, eles nos contratam mais e é
melhor para nós. Podemos te colocar como telemarketing num
escritório nos fundos e sem banheiro, se quiser, se não quiser,
tente outro ramo querida.



Mocinha
cadeirante – ora, isso é discriminação por causa da castração
mental que o comercio e o capitalismo nos presenteia. Por que? Porque
com a alienação trabalhadora se reduz o “homo sapiens” a meros
“animais” e colocam eles uns contra os outros lhe tirando a
humanidade e lhe pondo desejos que não querem! Eu trabalho porque
gosto de minha profissão que tenho todo o direito de exercer, mesmo
que as agencias não queiram por causa do fetiche quase erótico, de
terem funcionários perfeitos, com mulheres rebolativas com seus
maravilhosos decotes, mas no fundo não passam de mulheres usáveis,
mulheres que perdem as madrugadas em baladas para esquecerem que são
apenas mais uma entre 8 bilhões de homo sapiens. Homens com suas
roupas de grife, com seus sorrisos artificiais e seu peitoral de
moleque de 16 anos e não passam de cinquentões “pagando de
gatinho” enquanto essas mesmas mulheres rebolativas e com decotes
que mostram até o umbigo, lhe pagam seu dinheiro. Lembre loirinha,
não subestime todo ser de cadeira de rodas, baby!


Enquanto
a mocinha do RH ficava de boca aberta, a mocinha cadeirante saia com
a certeza que era publicitária.


*Personagem
do seriado Mad Men



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