BUSCA

Links Patrocinados



Buscar por Título
   A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z


Mãe
(Carlos Torres)

Publicidade
Mãe Hoje fazias anos: 63. O teu sorriso conquistava mundos e os teus olhos, ao brilharem, aqueciam os corações de quem tinha o privilégio de privar contigo. Adorava a tua maneira de viver: as rugas eram o menor dos teus problemas, não te importava isso: importava-te a vida, só a vida. Lembro-me do teu funeral, das exigências: ninguém de preto, ninguém a chorar, não ao velório, às flores e às frases pirosas na laje – ‘’chega de hipocrisia’’, dizias, ‘’não me chorem: riam-me, porque morrer é viver, meus amores, e viver é rir e sentir e corar e amar. Mas, acima de tudo, a vida é amar: amem, por favor.’’ –, enfim: nada de triste podia existir, só a felicidade, só ela viveria. Pediste-nos para amar e amámos, mãe. No teu funeral não derramámos uma única lágrima, só rimos e recordámos o teu riso até ao céu. Nem eu, mãe, nem eu, que sou pior que uma madalena, chorei quando te vi a trepar as nuvens (mas a dor continuava lá: corria e pulava no coração, cortava-me a respiração, corroía-me o cérebro e impedia o amor – o teu amor). Se há algo que lamento é não teres conhecido o João. Fez seis anos ontem e parte-me as janelas de casa a imitar o Ronaldo, o diabo. Vejo-te muitas vezes nele: o sorriso inocentemente sacana, o olhar solarengo, a forma despreocupada de existir. Acho que se iam dar bem, ia ser o teu neto preferido. Mimá-lo-ias com chocolates e guloseimas, punha-lo dez quilos mais pesado num mês, mas não era problema: o que importa é rir e amar, sentir e corar. Ele não te conhece mas sabe quem és. Diz o teu nome de uma assentada com um orgulho imenso na voz: ‘’A minha avó chamava-se Maria Adélia Bergantim e era a melhor avó do mundo!’’ – a primeira vez que o ouvi a dizê-lo chorei: de orgulho, de saudade, de felicidade. Ontem estávamos a jantar nas traseiras. A Rita fez um bacalhau à Brás, daqueles de comer e chorar por mais (mas não como os teus: ninguém cozinha como tu), e ele adorou. Comeu até rebentar e recostou-se na cadeira a olhar para o céu. – Olha, pai, ali em cima: a avó. Aquela, pai, a mais brilhante. Está a sorrir, não é? Não morreste como devias: o cancro é um filho da puta, é o que é. Suga-nos a vida, tira-nos da realidade e transporta-nos para uma dimensão de dor e sofrimento. Tira-te a felicidade do coração e desliga os teus sentidos: torna-te num vegetal insensível e insípido de vida. Mas não te deixaste ir, eu sei. Foste mais forte que ele e que nós, nunca choraste e, mesmo a morrer, ainda nos deste nas orelhas como se não houvesse amanhã. Morreste sem que te pudesse agradecer por tudo o que fizeste por mim. Obrigado: muito. O teu filho, Luís. P.S. – se vires o pai, diz-lhe que finalmente acabei a casa na árvore. 100 paletes, 50 varas e 20 rolos de sisal: dois pisos arrebatados de amor e paixão, a felicidade impagável do puto cá de casa e a lágrima saudosa do vosso puto.



Resumos Relacionados


- Eu Tenho Um Colar De Pérolas

- Amor

- Frases Para O Dia Dos Namorados

- Zeit

- Recadinhos De Amor



Passei.com.br | Biografias

FACEBOOK


PUBLICIDADE




encyclopedia